/apidata/imgcache/043bddef810cc1ae242d5408f289bd7b.jpeg

Acordo climático fica pronto na quinta

.

Atualizado em 08/12/2015 às 16:12, por Redação Envolverde.


O chanceler Laurent Fabius abre a reunião do Comitê de Paris. Foto: reprodução UNFCCCTV

Impasses permanecem, mas comitê formado pelo chanceler da França começa a avançar em entendimentos políticos, como a ideia de progressão de compromissos de países emergentes

Por Claudio Angelo, Bruno Toledo e Cíntya Feitosa, do OC, em Paris

O acordo do clima de Paris deverá ter seu texto final na noite de quinta-feira, para ser adotado pela plenária na manhã de sexta. Pelo menos é esse o plano delineado pelo chanceler da França, Laurent Fabius, presidente da COP21.

/apidata/imgcache/82f987f3939054a6d9fc18ca763064bf.jpeg

No domingo, os quatro grupos de trabalho liderados por duplas de ministros que debatem os temas mais polêmicos do novo regime climático – financiamento, ambição, diferenciação e ampliação das ações até 2020 – tiveram sua primeira reunião.

O Comitê de Paris, como é chamado o grupo, tem entre seus integrantes a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira. Os ministros se reuniram com Fabius no começo da noite de segunda para relatar o progresso feito.

A partir dos resultados da consulta política feita pelo Comitê de Paris, Fabius apresentará uma proposta de texto na quarta-feira.

Esta é uma prerrogativa do presidente de qualquer COP. Trata-se de um momento político delicado, que precisa estar muito bem combinado com outros países, já que qualquer um dos 195 que se sinta atropelado pode bloquear todo o processo.

Os elogios que vêm sendo feitos por delegados de vários países a Fabius, porém, desautorizam essa hipótese, ao menos por enquanto.

O texto de quarta será submetido aos países, com a ideia de que seja finalizado na quinta-feira.
“Precisamos respeitar o compromisso que fizemos conosco mesmos”, afirmou o chanceler a jornalistas na tarde desta segunda-feira (7/12) sobre o prazo auto-imposto pela França para a conclusão do acordo.

Nos corredores, negociadores estão otimistas. Alguns entendimentos políticos têm avançado, como a questão da diferenciação – justamente o grupo co-facilitado por Izabella, com apoio do ex-chanceler Luiz Figueiredo.

A diferenciação é um dos chamados itens transversais do acordo. Se houver entendimento sobre esse tópico, vários outros pontos do texto ficam automaticamente resolvidos, em artigos como os que tratam de mitigação, adaptação, financiamento e transparência.

No ano passado, o Brasil propôs uma fórmula para tratar a pendenga: em vez de divididos de forma binária entre Anexo 1 (os ricos) e não-Anexo 1 (o resto do mundo), os países seriam agrupados em círculos concêntricos de acordo com seu grau de desenvolvimento e o rigor de suas metas. Os países que hoje pertencem ao Anexo 1 ocupariam o círculo mais central, e os menos desenvolvidos, o mais externo. Com o tempo, todos os países deveriam migrar na direção do centro.

Segundo o OC apurou, a ideia de diferenciação concêntrica deve entrar no texto, mas diluída: será aproveitado o conceito de progressão entre os países.

Há também sinais de flexibilização entre alguns países quanto ao infame “potodoso” – aglutinação da expressão em inglês “países em posição de fazê-lo”. Esta é a senha que os desenvolvidos criaram para tentar aumentar a base de doadores de dinheiro para os países pobres no regime pós-2020, quando várias centenas de bilhões de dólares precisarão ser mobilizadas por ano para corte de emissões e adaptação. O Vietnã deu um sinal simbólico nesse sentido, ao anunciar hoje que colocaria dinheiro no Fundo Verde do Clima – exato US$ 1 milhão.

“One Point Five”

Outro tema que ganhou pelo menos um apoiador de peso é a menção à meta de 1,5oC como limite alternativo de aquecimento global, por assim dizer.

O tema foi puxado por uma aliança de países vulneráveis no começo da COP, com apoio maciço de ONGs. Um slogan criado pelos ambientalistas em Paris é “One point five to stay alive!” (“um ponto cinco para ficar vivos”). Mas enfrenta resistências de China e Índia (que veem tal limitação de temperatura como incompatível com seu desenvolvimento econômico, ainda muito emissor) e antipatia do Brasil.

Nesta segunda-feira, os Estados Unidos manifestaram simpatia com a ideia de considerar o limite de 1,5oC nos objetivos de longo prazo.

“Estamos trabalhando no desenvolvimento de alguma referência que considere a meta de 1,5oC”, comentou Todd Stern, negociador-chefe dos EUA. No entanto, a sinalização feita por Stern está longe de significar que os Estados Unidos aceitam a meta. O comentário de Stern pode significar um aceno dos EUA para outras preocupações desses estados-ilhas que podem ser convenientes para a estratégia de negociação do país, como financiamento para ação climática.

O dinheiro continua sendo um dos principais pontos de atrito da COP21. Nesta segunda, a União Europeia sinalizou que poderá aumentar sua contribuição para o financiamento climático após 2030 – algo esperado, mas que os países em desenvolvimento precisavam ouvir.

Tanto os europeus quanto os americanos, porém, insistem na ampliação da base de doadores. E, no toma-lá-dá-cá que caracteriza a negociação, podem estar angariando apoios para isso no mundo em desenvolvimento. “Vejo alguns países em desenvolvimento, estados-ilha, muito entusiasmados com essa ideia”, disse Stern. “Não estamos reduzindo os compromissos dos países ricos, mas expandindo o financiamento, chamando os países com capacidade de contribuir para fazê-lo – e sem compromissos obrigatórios para fazê-lo dentro do novo acordo”.

Amor sem vínculos

Europeus e americanos, porém, vão cada um para um lado quanto à natureza jurídica dos compromissos a serem assumidos a partir do novo acordo climático.

Numa entrevista coletiva hoje, o comissário europeu do Meio Ambiente, o espanhol Miguel Arias Cañete, reforçou a posição do bloco em torno de um acordo internacional legalmente vinculante – ou seja, com compromissos e disposições com força de lei para seus signatários.

“Estamos explorando possibilidades de linguagem no texto, mas a União Europeia continua engajada na proposta de acordo com compromissos vinculantes. Queremos um acordo inclusivo, ambicioso e universal”, defendeu Cañete.

No entanto, os Estados Unidos continuam firmes na sua oposição a compromissos obrigatórios no que diz respeito às metas de redução de emissão de cada país dentro do novo acordo. “Consideramos que o acordo poderá envolver alguns elementos obrigatórios, como inventários, períodos de revisão e responsabilização, mas não a meta em si”, apontou Todd Stern.

Para ele, uma opção flexível favoreceria a participação de mais países no novo regime climático internacional, permitindo que a realidade local defina o tipo de compromisso e o grau de comprometimento de cada governo.

As peças se movem, mas o xadrez continua até sexta-feira. Ou depois disso. “Se você quer fazer Deus rir, faça um plano”, brincou a secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU, Christiana Figueres. (Observatório do Clima/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.