Apesar da crise, a sustentabilidade resiste

Conferência do Instituto Ethos de 2015 mostra que as empresas não abandonaram por completo seus planos de crescimento a partir de uma visão de negócios sustentáveis. Por Dal Marcondes, da Envolverde Quando o horizonte dos negócios fica nublado por incertezas, a visão tradicional do Business as Usual manda que o conservadorismo assuma as rédeas.

Atualizado em 01/10/2015 às 12:10, por Dal Marcondes.

Foto: Clovis Fabiano

Conferência do Instituto Ethos de 2015 mostra que as empresas não abandonaram por completo seus planos de crescimento a partir de uma visão de negócios sustentáveis.

Por Dal Marcondes, da Envolverde

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Quando o horizonte dos negócios fica nublado por incertezas, a visão tradicional do Business as Usual manda que o conservadorismo assuma as rédeas. Preservar os dedos é mais importante do que manter os anéis, portanto os adereços de sustentabilidade costumam perder força. Não está sendo diferente na atual crise econômica que assombra o mundo e que tem uma alavancagem maior no Brasil graças ao aditivo de uma crise política.

Tradicionalmente a primeira vítima das receitas de contenção de despesas das empresas eram as áreas de comunicação e marketing. Desta vez não foi diferente, no entanto essas áreas ganharam companhia, os departamentos e diretorias de sustentabilidade. Em muitas empresas eles praticamente deixaram de existir. Mas, ao contrário da comunicação, que sempre foi um nicho dentro das organizações, a sustentabilidade tem trabalhado ao longo dos anos para tornar-se uma transversalidade, ou seja, infiltrar-se em todas as áreas de forma a criar uma visão sistêmica que permeie todas as decisões, em todos os níveis de gestão.

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Foi essa capilaridade que os diálogos realizados na Conferência Ethos deste ano procurou mostrar. Repetindo, com algumas evoluções, o modelo 360º adotado em 2014, o evento procurou criar um imenso espaço de relacionamento e construção de redes entre os milhares de participantes. Foram muitos os temas candentes, como mudanças climáticas, energias limpas, trabalho digno, finanças sustentáveis, modelos de gestão com foco em causas e uma imensa lista de inovações.

Uma pergunta estruturante para os negócios nessa era de incertezas é “Como meu negócio pode gerar lucro e ao mesmo tempo ajudar na qualidade de vida das pessoas e do planeta?”. Essa questão esteve presente na fala de Elizabeth Laville, fundadora e diretora da Utopies, uma consultoria francesa que procura mostrar como o valor dos produtos está migrando das marcas para as causas que eles representam. Um de seus exemplos foi uma campanha da montadora KIA, que oferece uma bicicleta a quem compra um de seus carros. A mensagem, segundo Laville, é de que as aparentes contradições na verdade representam complementos em qualidade de vida.

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A construção de um futuro que tenha como norte a sustentabilidade, nesse momento da história, passa por uma definição das energias que serão disponibilizadas para as empresas e para a sociedade. O Brasil tem, nesse quesito, grandes vantagens competitivas, principalmente porque parte do “berço esplêndido” das hidrelétricas construídas nas últimas décadas, que hoje representam quase 70% da eletricidade, e de um programa que surgiu como substituição de importações de petróleo, mas que hoje permite que os brasileiros decidam em seu cotidiano por um biocombustível de qualidade, o etanol. Hoje, a participação total das energias renováveis no portfólio brasileiro de energia é de cerca de 40%, enquanto a média mundial não chega a 14%.

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Dados apresentados durante a Conferência por André Nahur, coordenador de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, mostram que om país tem ainda um enorme potencial de crescimento em geração de energia fotovoltaica, um modal ainda pouco explorado. A região menos ensolarada do Brasil tem potencial de geração de 1.642 quilowatts por hora por metro quadrado (kWh/m²). Na Alemanha, que recebe cerca de 1.300 kWh/m² a geração fotovoltaica já representa mais da metade da demanda do país.

Em mais de quarenta atividades, realizadas nos dias 22 e 23 se setembro, os participantes puderam trabalhar conceitos e práticas de grandes empresas e organizações sociais que atuam na vanguarda das experiências em gestão. Questões relativas ao trabalho digno, ao combate a práticas abusivas e, principalmente, boas práticas de empresas de todos os portes e de diversas partes do mundo puderam receber atenção de especialistas. Para Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, as crises, política e econômica, oferecem a oportunidade de uma reflexão sobre o modelo de sociedade e de negócios que temos. “Os diagnósticos sobre os problemas do atual modelo de desenvolvimento estão feitos, muitas das soluções já são conhecidas, portanto não há mais o que esperar, é preciso acelerar as mudanças”, disse.

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Para as pessoas que estiveram nesses dois dias de intensas atividades a experiência foi bastante motivadora, como explicou a gerente do Centro SEBRAE de Sustentabilidade, Suenia de Souza, que lidera em Cuiabá uma das mais inovadoras ações para o fomento de negócios mais sustentáveis. “A visão de modelos que estão à frente de seu tempo é um estímulo à inovação e à incessante busca por conhecimento”, disse. Esse é, talvez, o principal papel dessa conferência em um momento em que a crise intimida o espírito empreendedor e de transformação do modelo econômico. (Envolverde)


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