Por Júlio Ottoboni*
A avaliação dos cientistas sobre os extremos climáticos e a adequação das cidades brasileiras para enfrentar o fenômeno decorrente do aquecimento global é o pior possível. A maioria dos pequenos municípios, com população até 100 mil habitantes e que abriga metade da população, não tem um fundo de financiamento de ações de adaptação a mudanças ambientais. Entre elas situações como a elevação da temperatura, o aumento das grandes tempestades e suas consequências.
A avaliação foi feita pelo professor do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Ricardo Ojima, coincide com os alertas dados pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos. Em particular o cientista Antonio Nobre, que faz alertas constantes sobre a necessidade de se repensar os modelos de ocupação do solo neste novo momento do planeta.
A falta de recursos financeiros e humanos para lidar com questões ambientais e desastres naturais apresentadas por esses pequenos municípios os tornam vulneráveis ao ponto de serem arrasados por desastres ambientais como o que ocorreu em Mariana, em Minas Gerais, em novembro de 2015. Como explica Ojima, lembrando que 95% das cidades brasileiras se encontram nesta condição.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) , também sediado em São José, procura estabelecer termos de cooperação tecnológica e científica com outros países, principalmente com a China e a União Europeia. Além de ter uma atuação mais próxima junto às comunidades sob-riscos. Áreas de estudo como resiliência urbana, meteorologia, planejamento urbano e segurança hídrica estão na pauta do órgão.
Segundo dados do Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5,61% das famílias brasileiras vivem em favelas, sendo 9,79% na região metropolitana de São Paulo e 9,95% em São Paulo. A capital paulista é a cidade onde vive 10% da população do país.
Os estudos desenvolvidos por Ojima, por exemplo, mostram que as maiores cidades brasileiras, as quais tem população acima de 500 mil habitantes, concentram a outra metade da população brasileira e representam 5% dos municípios do país. Embora tenham um número maior de pessoas expostas às mudanças e aos desastres ambientais, isso é menor que a margem de riscos dos habitantes dos pequenos centros urbanos. Já que os grandes centros dispõem de maiores recursos.
Todavia, tanto nos grandes centros urbanos como nos pequenos tem se observado um aumento do número de pessoas vivendo em condições precárias. Segundo a professora da Faculdade de Arquitetura de Urbanismo da Universidade de São Paulo ( FAU-USP) Maria Camila Loffredo D’Ottaviano, isso contribui para aumentar a exposição aos desastres ambientais.
“O levantamento do IBGE considera como famílias que vivem em favela aquelas que declaram morar em áreas invadidas. Com isso, a população que vive em loteamentos irregulares em áreas precárias não é contabilizada”, ressaltou a arquiteta.
O novo prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth, cobrará explicações do Instituto de Pesquisa, Administração e Planejamento (Ipplan) sobre os motivos de ainda não terem ainda incluído em suas diretrizes e projetos as mudanças climáticas. “Vamos estabelecer acordos com todos os institutos e centros de pesquisas que atuam neste setor, não podemos planejar uma cidade sem levar essas transformações em consideração”, comentou.
Atualmente São José dos Campos abriga os principais órgãos de estudos sobre o aquecimento global de origem antrópica e suas consequências. O relatório do Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) mostrou que a cidade teve uma aumento em áreas de risco de deslizamento e inundações em 200% entre 2015-2016. O estudo mapeou 54 áreas de risco sendo 37 delas de novas ocupações. Na avaliação anterior constavam apenas 17 pontos. Foram computadas ainda 1.250 moradias em locais de risco.
Deste total de residências, 616 delas se localizam em pontos considerados de alto risco para escorregamento de terra. Outras 345 casas, praticamente 30%, estão em áreas de risco muito alto e 289 sob-risco mediano. O número de ocorrências de soterramento de casas com vítimas fatais aumenta consideravelmente no período das chuvas. (#Envolverde)
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente. É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.