por Leandro Tavares Azevedo Vieira, da Universidade Mackenzie –  

O fogo na Amazônia não é natural! O período mais seco na Amazônia não é razão para se ter queimadas na Amazônia, é desculpa ou oportunidade. Ao contrário de outros biomas brasileiros em que a vegetação evolui com a presença de queimadas naturais, portanto, apresentam adaptações para resistir ao fogo, a Amazônia nunca passou por períodos de queimadas em seus últimos milhares de anos.

Assim, não é aceitável que ocorram queimadas na maior floresta tropical chuvosa do mundo, pois as que ocorrem são todas de origem antrópica, ou seja, provocado pelos seres humanos.

Qual o motivo das queimadas então? São queimadas intencionais e que aproveitam o período mais seco para degradar e abrir áreas para uma pecuária extensiva com baixíssima produtividade devido ao solo relativamente pobre.

O processo do desmatamento começa com os madeireiros ilegais que retiram as árvores mais valiosas, depois promovem as queimadas na época seca para “limpar” as áreas para a pecuária e eventualmente a expansão da fronteira agrícola. E por que as queimadas em 2019 bateram recordes históricos? Não é por causa de seca, com certeza.

A Amazônia tem alguns papéis importantes com consequências mundiais. Primeiramente, a sua biodiversidade é única e que deve ser considerada como um patrimônio natural. O potencial econômico e sustentável de espécies amazônicas com finalidades diversas como fármacos, cosméticos e alimentícios é enorme.

A Lei da Biodiversidade de 2015 foi criada justamente pensando na proteção do nosso recurso natural e sociocultural. E como podemos acessar esse patrimônio? Com incentivos à pesquisa científica e conservação da biodiversidade da floresta.

Além da própria biodiversidade, a Amazônia é conhecida pela sua importância como produtora de água. Os conhecidos “rios voadores”, que são toneladas de vapor d’água que são evapotranspiradas pelas árvores e que chegam ao centro-oeste e ao sudeste, promovendo as chuvas que abastecem os reservatórios hídricos e irrigam a agricultura.

Os rios voadores carregam mais de 20 trilhões de litros por dia, mais do que a vazão do próprio rio Amazonas. Sem esse recurso hídrico, corremos o risco de termos nossas hidroelétricas desabastecidas e, consequentemente, um risco real de uma crise energética, já que essa é a nossa principal fonte de energia.

Nesse contexto, ligaríamos as termoelétricas, altamente poluentes e excessivamente caras. Além disso, uma agricultura sem a água da Amazônia se reflete em um aumento dos custos e perdas de produção de alimento. Assim, produção alimentar e preservação ambiental são complementares e nunca devem ser vistos como antagônicos.

Adicionalmente, com o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, estamos liberando toneladas e toneladas de carbono na atmosfera diariamente, contribuindo enormemente com o aquecimento global. O desmatamento é a principal fonte de gases de efeitos estufa no Brasil. Com a participação do Acordo de Paris para combate ao aquecimento global, o Brasil havia se comprometido com o desmatamento zero e conseguiu alcançar bons resultados nos últimos anos, mas que agora volta a aumentar frente a perspectiva de proteção ambiental.

Visto a importância da Amazônia para o Brasil, América Latina e o Mundo, o que podemos fazer? Exigir de nossos representantes um comprometimento com a proteção de nossos recursos naturais, aceitando a ciência como ponto de partida e não dependo de opinião, e sim de fatos.

É natural e legítimo a pressão de outros países para a preservação da Amazônia pois ela não é dos poucos que enriquecem a queimando e desmantando ilegalmente sem, inclusive, pagar imposto ou gerar renda ao Brasil, mas a Amazônia é de todos os brasileiros e da humanidade. Preservar os recursos naturais é investimento e não gasto.

Não podemos depender de nossa criatividade tecnológica, pois até hoje não conseguimos substituir a função de uma árvore, quem dirá de um ecossistema tão complexo. A Amazônia é de extrema necessidade para a sobrevivência humana.

Precisamos de políticas públicas que apoiem a conservação da Amazônia e da vida humana, não só dos brasileiros, mas de todos habitantes do planeta. Precisamos agir com inteligência. É mais do que necessário reforçar a fiscalização, fortalecer os órgãos ambientais, as leis ambientais e a pesquisa científica.

Esse é o caminho para conseguirmos prosperar. O Brasil tem tudo para ser um líder mundial e exemplo de conservação ambiental, promovendo ganhos econômicos associados à conservação.

Leandro Tavares Azevedo Vieira é professor do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Curador do Herbário MACK.

Sobre o Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.