por Samyra Crespo, especial para a Envolverde – 

O ECOTERRORISMO é um recurso de retórica vazio e mentiroso. O extremismo ambiental – se é que existe – nao mata pessoas nem animais nem plantas. Não destrói culturas nem patrimônio público.

O radicalismo ambiental – de raiz – descontenta governos que fazem vistas grossas (ou nenhuma vista) para piratas dos mares que caçam ilegalmente, fora de suas águas territoriais, baleias e outros animais em risco de extinção.
Os métodos do Greenpeace – organização covardemente atacada pelo Ministro do Meio Ambiente e seus simpatizantes – são ousados, como a abordagem em alto mar aos pesqueiros ilegais, ou frustrando caçadores cruéis, que matam os filhotes de foca na praia a pauladas. Quem causa morticínio de animais indefesos e pratica a pesca predatória é que são ecoterroristas ou ECOCIDAS.

O ambientalismo praticado pelo Greenpeace é independente e corajoso. Organização internacional com milhões de membros, atua no Brasil desde os anos 90 e a folha de serviços prestados à sociedade brasileira é extensa. Sua pegada está na moratória do mogno, na destruição da cadeia da carne ilegal na Amazônia, no embate anti-nuclear, na luta sem tréguas ao agrotóxico, e na promoção da energia solar em comunidades remotas do País.

Quando atuei no Ministerio do Meio Ambiente (200-2013) o governo utilizou-se do relatório investigativo do Greenpeace para identificar os fazendeiros predadores na Amazônia. O relatório sobre a “falsa segurança” das usinas nucleares teve impacto positivo no mundo e foi determinante para a revisão da política nuclear de vários países. Muitas vezes o Greenpeace faz o trabalho que a polícia e os serviços de inteligência não faz. Atua com foco e por anos em determinados problemas. Sustenta suas opiniões em uma ampla rede de cientistas e técnicos.

O DNA do Greenpeace é a defesa radical da biodiversidade e das comunidades e culturas que são protetivas e não predadoras ao meio ambiente. Por isso contraria os interesses do status-quo. Pratica um ambientalismo de denúncia sistemática e corajoso como no caso de Abrolhos que não teria sido poupado no leilão dos lotes petrolíferos ocorrido há menos de um mês no Brasil.

Pode-se acusar o Greenpeace de atos espetaculares e de estratégias midiáticas para divulgar seu trabalho.
Como dizia o velho e saudoso Chacrinha “quem não se comunica, se trumbica”. Sensibilizar uma sociedade saturada de informações contraditórias e abundantes é um desafio permanente e o Greenpeace sempre inovou, tendo introduzido as técnicas do cyberativismo por aqui, logo imitado pelas demais organizações.

Claro que o atual Governo tem sua razão ao soltar a seguinte frase em uma entrevista coletiva à imprensa: ” O Greenpeace não nos ajuda, só atrapalha”.

Amém. Quer melhor credencial para o Greenpeace do que esta?

Refere-se naturalmente a Abrolhos e à internacionalização da imagem anti ambiental do seu governo.
Como no caso das campanhas eleitorais, muito se discute no seio do ambientalismo, o financiamento independente.
O Greenpeace já deu essa resposta desde a sua origem. Não aceita dinheiro nem de governos nem de empresas. Seus recursos vêm de doadores individuais, pobres e afortunados, dentro e fora do País. Seu ethos é claro e sólido: atua em nome da sociedade civil. Pelo menos daquela parte da siciedade civil que se importa com o meio ambiente e com a vida que nele pulsa.

O ECOTERRORISMO não existe portanto, mas o ECOCÍDIO sim. Existe e está ocorrendo hoje, às barbas de um governo inoperante, incapaz de dar respostas técnicas e emergenciais aos problemas que vêm surgindo como se fossem as 7 pragas do Egito. O binômio desmate/queimadas, o agravamento dos conflitos entre indígenas e mineradores, a lama de Brumadinho, o óleo no NE, e a farra dos agrotóxicos que o digam. O desmonte da política ambiental, sem por nada no lugar, o atestam com veemência.

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.

(#Envolverde)