Por ONU Brasil –
Cada vez mais, os compromissos de mitigar os efeitos da ação humana no clima se misturam com as necessidades de milhões de pessoas que são forçadas a se deslocar de suas casas em decorrência dos efeitos das mudanças climáticas.
O alerta é da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), que ressalta como desastres como enchentes, secas e desertificação podem levar à destruição de meios de subsistência, alimentar conflitos e forçar as pessoas a deixarem suas casas.
“Um terço do Paquistão está inundado. A Europa teve seu verão mais quente dos últimos 500 anos. As Filipinas foram massacradas. As ilhas cubanas estão no breu. E aqui, nos EUA, o furacão Ian trouxe um lembrete brutal de que nenhum país ou economia está imune da crise climática”, resumiu o secretário-geral da ONU, António Guterres, em declarações que antecederam a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27).
Entre 6 e 18 de novembro, os países se reúnem no Egito para a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27, a fim de renovar os compromissos de implementação do Acordo de Paris e dar previsibilidade ao financiamento climático para atingir as metas ambientais da Agenda 2030. Nesse contexto, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) chama a atenção para os impactos da crise climática no deslocamento forçado em todo o mundo.
Cada vez mais, os compromissos de mitigar os efeitos da ação humana no clima se misturam com as necessidades de milhões de pessoas que são forçadas a se deslocar de suas casas em decorrência dos efeitos das mudanças climáticas – que vêm deteriorando situações de conflito ao longo de décadas ou criando novas emergências pelo efeito direto, como enchentes e inundações.
“A maioria das pessoas a quem provemos ajuda humanitária vem de países na linha de frente da emergência climática ou estão acolhidos em lugares igualmente afetados”, destacou o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi. “Elas enfrentam desastres relacionados ao clima, como enchentes, secas e desertificação. Isso destrói meios de subsistência, alimenta conflitos e força as pessoas a deixarem suas casas. Precisamos urgentemente de um novo pensamento, inovação, financiamento dos países mais ricos e vontade política para conter a situação –ao invés de medidas isoladas.”
“Em todas as frentes de combate às mudanças climáticas, a única solução possível é combinar solidariedade e ação de impacto”, ressaltou o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, durante reuniões pré-COP em Nova Iorque no início de outubro.
Dentre os efeitos mais diretamente conectados ao deslocamento forçado, inundações e secas extremas evidenciaram-se como as consequências mais impactantes no crescimento de conflitos, da pobreza e da fome global, que chegou a uma marca recorde de 828 milhões de pessoas.
“Um terço do Paquistão está inundado. A Europa teve seu verão mais quente dos últimos 500 anos. As Filipinas foram massacradas. As ilhas cubanas estão no breu. E aqui, nos EUA, o furacão Ian trouxe um lembrete brutal de que nenhum país ou economia está imune da crise climática”, completou Guterres.
Afeganistão – Há mais de quatro décadas o Afeganistão enfrenta uma crise humanitária em decorrência de guerras e conflitos armados, gerando um dos maiores êxodos humanos de refugiados do mundo. Hoje, são quase 30 milhões de refugiados e deslocados internos afegãos que precisam de ajuda humanitária.
Enquanto a instabilidade política e econômica são fatores centrais desta emergência, pouco se fala sobre outra causa que intensifica a complexidade e dificuldade de resolução dos conflitos na região: as mudanças climáticas.
Os períodos cada vez mais intensos e extensos de seca, somados aos invernos rigorosos, retroalimentam conflitos e multiplicam as ameaças entre uma população que depende majoritariamente da agricultura para sobreviver.
Com recursos naturais cada vez mais escassos, as disputas territoriais se intensificam porque as pessoas não têm acesso a água e comida, cenário que coloca o Afeganistão praticamente no topo do ranking dos países que mais sofrem com a fome no mundo: são 18,9 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no país.
De forma contraintuitiva, o Afeganistão é um dos países com menores índices de emissão de CO2 e, proporcionalmente, um dos mais afetados pelas mudanças climáticas globais.
Secas extremas – Secas extremas também agravam a emergência humanitária na República Democrática do Congo, que lidera o ranking da fome global e enfrenta um dos cenários mais desafiadores de deslocamento forçado no mundo, com mais de seis milhões de congoleses refugiados e deslocados internos em decorrência da violência e conflitos.
Todo o nordeste da África também está passando por uma seca catastrófica. Milhões de agricultores na Somália, Etiópia e Quênia dependem de seu gado e plantações para sobreviver. Sem água suficiente, os animais e as colheitas estão morrendo. Somente na Somália, 90% do país está severamente afetado. As pessoas estão sendo forçadas a fugir de suas casas em busca de água e comida.
Enchentes avassaladoras – Já na outra ponta da extremidade climática, as inundações têm gerado centenas de mortes e milhões de deslocamentos forçados nas regiões oeste e central do continente Africano. Entre Nigéria, Chade, Níger, Burkina Faso, Mali e Camarões, já são 3,4 milhões de pessoas afetadas somente em 2022.
Só no no Sudão do Sul, mais de 900 mil pessoas foram diretamente afetadas por inundações após chuvas atípicas e extremas nos últimos meses. A água varreu casas, gado e inundou terras agrícolas, arruinando plantações e pastagens. Poços e latrinas foram submersos, contaminando as fontes de água e aumentando a probabilidade de surtos de doenças.
A área mais afetada foi a região de Bentiu, no estado da Unidade, que está totalmente cercado por enchentes e apenas barcos e a pista de pouso podem receber ajuda humanitária.
Cerca de 460 mil pessoas nesta área já estão deslocadas por uma mistura de inundações e conflitos na região. As pessoas trabalham 24 horas por dia com bombas, baldes, escavadoras e maquinaria pesada para manter a água afastada e evitar o colapso dos diques.
ACNUR em ação – Nos últimos 70 anos, o ACNUR tem atuado na linha de frente para proteger pessoas que foram forçadas a deixar suas casas. Agora, chama a atenção para os efeitos profundos da crise climática na população refugiada e deslocada, em todos os continentes e regiões.
O ACNUR trabalha, desta forma, para que o mundo tenha menos pessoas forçadas a deixar suas casas, e que aquelas deslocadas forçadamente estejam preparadas para responder aos efeitos da crise climática.
A atuação da organização neste contexto tem como prioridades a proteção das pessoas deslocadas à força dos desastres relacionados às mudanças climáticas; a preparação das comunidades deslocadas e anfitriãs para condições climáticas extremas e outros choques climáticos; a adaptação dessas comunidades para um clima em mudança; o empoderamento dessas pessoas, para que elas possam desenvolver suas próprias soluções em face às alterações climáticas; e o próprio combate às causas profundas do deslocamento, incluindo aquelas amplificadas pelas mudanças climáticas, como por meio da redução das emissões de carbono do ACNUR.
Iniciativas verdes – Diariamente, pessoas recebem suporte do ACNUR e seus parceiros no transporte de suprimentos emergenciais e de sobrevivência, como cobertores, travesseiros, água, utensílios de higiene e recursos financeiros. O ACNUR busca ouvir aqueles que sentem na pele as dificuldades, mobilizando ajuda e coordenando organizações locais. Até outubro, dezenas de milhares de pessoas que vivenciam emergências receberam apoio e, com a sua doação, mais pode ser feito.
No Brasil, iniciativas verdes são uma das estratégias do ACNUR para mudar a relação com o meio ambiente. Em um Centro de Sustentabilidade em Boa Vista (RR), por exemplo, refugiados e migrantes venezuelanos cuidam do meio ambiente por meio de projetos de aquaponia, ajudando a reduzir o desperdício, promover a reciclagem, gerar energia renovável e produzir fertilizantes para hortas.
Os mais jovens se entusiasmam com as atividades e aprendem sobre os benefícios da preservação ambiental para os abrigos e as comunidades locais. “As pessoas que trabalham aqui são como uma família para mim. Eles me ajudam com as atividades e me ensinam muita coisa. Eu gosto muito de vir para cá, porque encontro muitos adolescentes da minha idade. Aqui a gente pode estudar, conversar, brincar e aprender um pouco sobre tudo”, conta o adolescente Gabriel Alejandro, de 15 anos.
*Crédito da imagem destacada: Legenda: Mulheres sul-sudanesas retornam para suas casas com barris vazios após a fonte de água que compartilhavam secar. / Foto: © Samuel Otieno/ACNUR
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