Clima

Agricultores chegam com soluções à COP 21

A diretora executiva da CMNUCC, Christiana Figueres. Foto: A. D. McKenzie/IPS
A diretora executiva da CMNUCC, Christiana Figueres. Foto: A. D. McKenzie/IPS

Por D. McKenzie, da IPS – 

 

Paris, França, 3/12/2015 –As associações de agricultores reconhecem que a agricultura tem um papel importante no aquecimento global, por isso querem oferecer soluções nesse sentido e pretendem que os governos as levem em consideração nas negociações em curso na cúpula climática de Paris.

“Os agricultores e silvicultores estão na primeira linha da mudança climática. Seu impacto afeta diretamente suas vidas e seus meios de subsistência, e eles também são de vital importância para a aplicação de muitas das soluções que necessitamos para ajudar a atrasar e desviar a mudança climática. Portanto, os agricultores devem participar do desenvolvimento das estratégias de mitigação e adaptação à mudança climática”, afirma a Organização Mundial de Agricultores (OMA).

Calcula-se que a agricultura emite diretamente 13,5% dos gases-estufa no mundo, por causa do metano liberado pela digestão animal e do óxido nitroso das terras cultivadas, e indiretamente mais 17% porque “é um importante motor do desmatamento e da mudança de uso dos solos”, segundo a OMA. Os especialistas acreditam que o corte de florestas tropicais para limpar as terras e dedicá-las à pecuária e à agricultura libera 2,8 bilhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono (CO2) por ano.

No dia 1º, na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que começou em Paris no dia 30 de novembro e terminará no dia 11, governos e organizações agrícolas anunciaram diversas iniciativas de cooperação para proteger os meios de vida de milhões de agricultores e reduzir as emissões nocivas.

As iniciativas se concentram nas áreas dos solos agrícolas, na pecuária, nas perdas de alimentos, nos resíduos, nos métodos de produção sustentável e na resistência dos agricultores. Destacam-se os programas para reduzir a perda de alimentos e os resíduos, pois também produzem gases-estufa.

Durante a COP 21, os agricultores também participarão de vários encontros nos quais apresentarão suas recomendações para diminuir as emissões e manter o aquecimento médio do planeta abaixo dos dois graus Celsius. Segundo a OMA, “os cientistas determinaram que o aumento da temperatura deve se limitar a dois graus para evitar danos irreversíveis ao nosso planeta”.

A OMA acrescenta que, “para conseguir isso, as emissões mundiais devem alcançar seu ponto máximo em 2015 e cair desde então, até uma redução de 50% em 2050. No ritmo atual, é mais provável que a elevação da temperatura fique entre três e cinco graus”. Também reconhece que o setor agrícola “tem um grande potencial de mitigação, principalmente por meio da redução do desmatamento, da gestão do solo e do aumento da produtividade.

Evelyn Nguleka, presidente da Organização Mundial de Agricultores. Foto: IPS
Evelyn Nguleka, presidente da Organização Mundial de Agricultores. Foto: IPS

O setor pode ser uma parte integral da solução, “devido ao seu papel vital no sequestro de carbono, inclusive mediante os cultivos e as pastagens para o gado”, destaca a OMA, se referindo ao armazenamento no longo prazo de dióxido de carbono para adiar ou mitigar o aquecimento global. Na COP 21, o fator agrícola tem especial importância, porque “a agricultura, a mudança climática, a segurança alimentar e a redução da pobreza estão indissoluvelmente ligados”, segundo a organização. Esse vínculo “é singular do setor agrícola e, portanto, merece um reconhecimento adequado”, destaca.

Entre suas recomendações, o grupo pede apoio à “agricultura climaticamente inteligente” nas negociações internacionais e no desenvolvimento de um “enfoque baseado em incentivos positivos”, junto com os agricultores e as cooperativas. Os agricultores que aplicarem voluntariamente práticas agrícolas sustentáveis poderão ser recompensados com as políticas nacionais, por exemplo, já que as associações acreditam que os incentivos, em lugar das sanções, podem ter maior efeito no longo prazo.

A OMA também pede que sejam aumentados consideravelmente “os investimentos na agricultura”, particularmente nos países em desenvolvimento, e maior reconhecimento da “especificidade do setor”, pois as emissões surgem de processos “destinados à produção de alimentos para a sociedade”.

Há ativistas que sustentam que a verdadeira solução reside em o mundo adotar uma dieta vegetariana, e asseguram que o impacto ambiental da pecuária é muito subestimado. Segundo um estudo de 2006 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 18% das emissões anuais de gases-estufa poderiam ser atribuídos à pecuária, mas outros especialistas afirmam que esse número é muito maior.

A presidente da OMA, Evelyn Nguleka, participará de vários grupos de análises durante a COP 21. Um deles, no dia 9, intitulado A Agricultura no Terreno Posterior a Kioto”, contará com a presença da diretora executiva da CMNUCC, Christiana Figueres. Os organizadores do encontro argumentam que “o posicionamento correto da agricultura será fundamental para satisfazer as necessidades do planeta em matéria de segurança alimentar, nutrição e energia”. Na ocasião apresentarão a “agricultura climaticamente inteligente como mudança de modelo necessária”.

Outro evento de destaque da COP 21 é a conferência internacional sobre agricultura e clima, organizada pela OMA, pelo Conselho de Agricultura da França e por outros organismos. “Os agricultores são, sem dúvida, parte da solução diante da mudança climática e podem apoiar os governos com sua experiência na implantação de um acordo”, ressalta a OMA. Envolverde/IPS