‘Acreditam que leite vem da caixinha e tomate da gôndola do supermercado’, diz técnico, sobre a vida urbana.
Por Juan Piva*
Uma das profissões mais antigas da humanidade é celebrada nesta semana, com o Dia Internacional da Agricultura Familiar (25 de julho) e o Dia do Agricultor (28 de julho). “Conhecemos nosso médico, nosso professor, nosso mecânico, mas, dificilmente, sabemos quem cultiva nossos alimentos”, lamenta o biólogo José Aparecido Pereira, que trabalha em uma cooperativa de produtos orgânicos, sediada em Nova Odessa (SP). Porém, a Maestrello Consultoria aproveita essas importantes datas do calendário socioambiental para apresentar um projeto que reconhece a relevância do produtor rural para garantir nossa segurança alimentar e a conservação hídrica.
“A agricultura teve origem no período Neolítico, cerca de 10 mil anos atrás. Além de propiciar o sustento dos povos, ela também colaborou com o fim da prática nômade, formando as sociedades”, informa a educadora da empresa nova odessense, Ana Lúcia Maestrello, que, em conjunto com o pesquisador científico do Instituto de Zootecnia (IZ), João Demarchi, está desenvolvendo o “Edu Água”.
Doutor em produção animal e também especialista em recursos hídricos, Demarchi explica que “a parceria espera que essa nova ferramenta possa integrar o meio rural e o meio urbano através de conceitos relacionados ao gerenciamento de bacias hidrográficas e produção de água. Ela também poderá contribuir para a retenção de jovens no campo e estabelecer uma convivência harmônica entre produção e preservação ambiental. Lembrando que uma das formas de valorizar o setor é fazendo com que seus trabalhadores e respectivas famílias se envolvam no gerenciamento da propriedade agropecuária e implantem novos projetos que garantam maior renda e sustentabilidade, por meio de uma educação financeira moderna e de uma postura empreendedora socioambiental”.
Apesar de o Brasil ser o país que mais consome agrotóxicos no mundo, o biólogo revela um dado importante: “a agricultura familiar é responsável por 80% do consumo brasileiro. E somente ela será capaz de deixar nosso prato mais colorido, sem prejudicar a natureza, colaborando com a saúde de seus apreciadores”. Pereira é colaborador da Cooperacra (Cooperativa da Agricultura Familiar e Agroecológica), que está localizada numa área com mais de 27 hectares, do IZ – via convênio com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA).
“Utilizando novas formas de aceleração do aprendizado, conhecimentos de instituições de assistência técnica e de pesquisa, inovações tecnológicas e comunicação adequada, os produtores podem obter recursos humanos e financeiros para alavancar seu negócio e produzir mais em menores áreas, recuperando suas nascentes e áreas ribeirinhas – sem que isso represente perda de área produtiva”, ressalta o pesquisador.
Produtor de água
Ainda segundo o coordenador do projeto, “o principal produto esperado com todo esse esforço, além da sustentabilidade socioambiental e econômica das propriedades rurais, é uma maior retenção de água na bacia através do manejo correto dos solos, para evitar erosões e conseguir maior infiltração de água, abastecendo os lençóis freáticos e garantindo maior disponibilidade hídrica para o município, já que não queremos mais passar por períodos com falta de água e racionamento”.
Para o engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), André Barreto, “devemos considerar o produtor rural, principalmente o familiar, como um produtor de água, pois a atividade realizada no campo depende diretamente de recursos hídricos, e os agricultores são ‘guardiões’ de fontes, nascentes, olhos d’água, vertedouros, córregos e rios”.
“Nos centros urbanos, não tem como produzir água por causa da impermeabilização do solo, fato que não acontece no meio rural, mas, mesmo assim, temos que estar sempre atentos à depredação e desmatamento das áreas ao redor dos corpos d’água, orientando o produtor para o mínimo de interferência ambiental. Lembrando ainda que toda água de irrigação de cultivos, quando não utilizada pela cultura, não vai para o esgoto e, sim, para o solo – onde ela vai percolar até um lençol freático, abastecendo o sistema hídrico novamente”, aponta o técnico da Cati.
O Dia do Agricultor é celebrado em 28 de julho em razão de ter sido nesse dia, em 1960, a fundação do Ministério da Agricultura, no mandato de Juscelino Kubitschek. “Essa data, assim como a que celebra o cultivo familiar, serve de valorização da atividade que disponibiliza alimento para o grande centro urbano, onde as pessoas acreditam que leite vem da caixinha e tomate da gôndola do supermercado”, destaca Barreto.
“O Projeto Eduágua será avaliado, pela primeira vez, no Programa de Sustentabilidade Hídrica de Nova Odessa, capitaneado pelo pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Rinaldo Calheiros, em parceria com o poder público municipal”, afirma Demarchi. (#Envolverde)
* Juan Piva é graduado em Jornalismo, com especialização em Educação Ambiental e Políticas Públicas pela Esalq-USP. Iniciou sua trajetória na Comunicação Socioambiental há sete anos, como estagiário da Oscip Barco Escola da Natureza; já como assessor de imprensa dessa organização, passou a apresentar programas de tevê e rádio, com a intenção de democratizar a informação ambiental. Hoje é colaborador da Maestrello Consultoria Linguística, onde dissemina o conhecimento para atender o interesse público, divulgando projetos educulturais e socioambientais. É coautor do livro-reportagem “Voluntariado ambiental: peça importante no quebra-cabeça da sustentabilidade”, promotor do Curso de Empreendedorismo Socioambiental, membro da Câmara Técnica de Educação Ambiental dos Comitês PCJ, jornalista responsável pelo Jornal +Notícias Ambientais e associado-fundador da Associação Mandacaru – Educação para Sustentabilidade.