ODS 6

Secas, ondas de calor e tempestades, os riscos da emergência climática

O ritmo dos eventos climáticos está aumentando no Brasil e, nos próximos anos, o país deverá enfrentar um acirramento de emergências com prejuízos e vidas e infraestruturas. O importante é prevenir e mitigar os eventos extremos.

Secas, ondas de calor e tempestades, os riscos da emergência climática


Por IDS Brasil –

Nos últimos anos o Brasil assiste o acirramento das crises provocadas pelas mudanças climáticas, como as tempestades que atingiram o estado do Rio Grande do Sul, enchentes catastróficas, deslizamentos e perdas de vidas e de infraestruturas. Também são parte deste cenário os sucessivos incêndios no Pantanal, com enorme mortandade de animais e as secas severas na Amazônia em 2023 e 2024. Soma-se a isso as ondas de calor em todo o Brasil, mas em especial nas cidades da região Sudeste e Centro-Oeste.

“Com as alterações climáticas, cada vez mais é preciso pensar de forma estruturada em ações de mitigação e adaptação para que a sociedade não sofra”
Luana Pretto

O Instituto Trata Brasil, uma organização parceira do IDS e um dos principais think tank que estudam políticas públicas ligadas a recursos hídricos lançou no final de 2024 o estudo “As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento: Como tempestades, secas e ondas de calor impactam o consumo de água?”, realizado em parceria com a WayCarbon. O estudo lança um alerta sobre os riscos crescentes que o país enfrentará até 2050.

A equipe do IDS conversou com a engenheira Luana Pretto, presidente do Trata Brasil sobre os dados levantados por este estudo e como o país e em especial as prefeituras podem se preparar para o enfrentamento desses eventos climáticos extremos, que deverão sem cada vez mais frequentes. O foco principal do estudo foram as infraestruturas e serviços de água e saneamento, setores que apresentam mais fragilidades diante dos cenários de tempestades, secas e ondas de calor.

Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil

A presidente do Trata Brasil faz um alerta sobre a necessidade de uma ação coordenada sobre as infraestruturas de água e saneamento. “No caso da água, tempestades podem comprometer os mananciais e a qualidade da água com sedimentos e outros tipos de contaminação, tornando muito mais onerosa as operações para a oferta de água tratada”. E lembra que esse já é um setor que padece com falhas de infraestrutura que impõem perdas médias de 37% da água já tratada e que não chega às torneiras dos consumidores.

“Muitos governantes ainda acreditam que obra enterrada não dá voto e, por isso, acabam escolhendo obras com mais visibilidade e de resultado mais imediato”
Luana Pretto

A oferta de água tratada ainda convive com um déficit de 34 milhões de pessoas em todo o Brasil que não têm o conforto de poder abrir uma torneira para suas necessidades dentro de casa. Pior é o cenário da coleta e tratamento de esgoto. Luana Pretto aponta que pouco mais da metade das residências não têm coleta e tratamento de esgotos e que, diariamente, mais de 5 mil piscinas olímpicas de dejetos em natura são lançadas na natureza.

Os dados apontados pela executiva são pouco promissores em relação a uma mudança de cenário em curto prazo. Segundo ela, o país investe hoje R$ 111,00 por ano por habitante para ampliar a oferta de saneamento, quando o ideal seria o investimento de R$ 231,00 por habitante. “A perspectiva de ampliar os investimentos são baixas, porque há ainda, entre governantes e políticos, a ideia atrasada de que obra enterrada não traz voto”, diz Luana Pretto.

O estudo “As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento: Como tempestades, secas e ondas de calor impactam o consumo de água?” é um importante instrumento para os novos prefeitos, que assumiram em janeiro deste ano, compreenderem os riscos aos quais suas cidades estão sujeitas e promoverem as ações de prevenção necessárias, a um custo muito menor do que as despesas impostas reconstrução de infraestruturas. Luana faz esse alerta e indica que o estudo traz os riscos de cada tipo de evento extremos em cada uma das regiões do Brasil. “Apontamos o que pode acontecer em cada cidade, em especial nas capitais, onde os riscos de tragédias para um grande número de pessoas são maiores”, diz.

As obras de prevenção aos extremos climáticos são muito mais baratas do as ações necessárias pera a recuperação e reconstrução do que foi destruído”.
Luana Pretto

“Uma das ações com grande potencial de redução de riscos é trabalhar para cumprir as metas de implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos”, explica a executiva. Para ela, sem os contaminantes lançados na natureza, em casos de tempestades, se reduz o risco de afetar mananciais e facilita o tratamento de água e, em caso de secas, a menor disponibilidade de água nos mananciais não será de água contaminada com esgotos.

“Os eventos extremos serão cada vez mais frequentes, e devemos nos preparar para isso, para reduzir a exposição das pessoas e das cidades”, e lembra as cenas chocantes dos alagamentos que assolaram o Rio Grande do Sul e de enxurradas que carregam automóveis e pessoas em grande parte das capitais do Sudeste.

Para ler o estudo completo, clique em: https://tratabrasil.org.br/wp-content/uploads/2024/11/Estudo-Completo.pdf

IDS/Envolverde