por Fernanda Macedo, especial para a Envolverde –
Já não é novidade que o mundo está em transição e, por consequência, toda essa inovação também se ajusta ao entendimento de negócio. O ambiente organizacional tem sido palco da discussão sobre diversidade e a valorização da igualdade de oportunidades entre os gêneros em todos setores, alcançando a governança. Um esforço transversal a toda agenda global dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), não por acaso, a meta 5.5 do quinto objetivo da agenda 20/30 trata especificamente de garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.
Muitas são as dificuldades para sua implementação em todas as partes do mundo. Mas tratando-se do Brasil, país que em que a cada 17 minutos uma mulher é agredida fisicamente e toda semana 33 mulheres são assassinadas por parceiros antigos ou atuais, entender o papel da mulher no desenvolvimento sustentável da sociedade é urgente. E a despeito de todas as barreiras existentes, o ODS 5 têm um grande poder mobilizador.
Vanguardista no Brasil em falar sobre sustentabilidade dentro do conceito do Tripple Bottom Line – que norteia a atuação das empresas a partir de três pilares: o econômico, o social e o ambiental –, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) promoverá, no dia 8 de março, um debate fundamental acerca da igualdade de gênero no mundo corporativo. “Empresa, substantivo feminino”, será um debate conduzido pela presidente do CEBDS, Marina Grossi. Participarão Nina Silva, fundadora do Movimento Black Money; Solange Ribeiro, diretora presidente adjunta da Neoenergia; Teresa Vernaglia, CEO da BRK Ambiental; e Flavia Munari Vergili, diretora de RH da WeWork na América Latina. O evento, que ocorrerá em São Paulo, será o primeiro debate do projeto Quebrando Muros de 2019, uma iniciativa que leva às empresas discussões sobre sustentabilidade. O tema ainda é visto como inovação e tende a ser, num futuro próximo, a realidade que espelha a população brasileira.
À luz da teoria do inconsciente coletivo, criada pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica Carl Jung, o mundo está consolidando um novo pacto social, transformando o inconsciente coletivo da população e rompendo com uma espécie de memória herdada geneticamente, guardada e reproduzida de modo automático, geração após geração, que fez resultar os diversos e bem delimitados papeis sociais. Essa mudança dinamizadora adéqua as estruturas sociais e, claro, o interior das companhias. Grupos econômicos que almejam acompanhar as mudanças de paradigma e permanecer atuantes no mercado ficam atentos às reestruturações socioculturais.
No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher é fundamental intensificarmos o debate a respeito da plena participação das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão. Além de uma meta global, a busca pela igualdade de gênero vem transformando a mentalidade organizacional, que passa por abolir padrões e repensar as relações de trabalho.
Embora os esforços sejam coletivos – esferas públicas e privadas em âmbitos nacionais e internacionais buscando a quebra de antigos paradigmas sociais – tudo anda a curtos passos. Num cruzamentos de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, observa-se que entre o período entre 2004 e 2014 aumentou em 67% o número de mulheres que chefiam seus lares no Brasil; paralelamente, o sexo feminino representava em 2014 quase 60% dos postos de trabalho no país. Contudo, mesmo havendo um movimento de maior participação feminina no mercado financeiro e do trabalho, segundo a quinta edição do estudo “Women in the Boardroom – a global perspective”, realizado pela consultoria Delloite, em 2017 elas somavam apenas 7,7% dos membros dos conselhos de administração das grandes empresas.
Se, por um lado, os números desanimam, por outro, também encorajam. De acordo com os dados produzidos pelo estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), conduzido pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) e realizado no Brasil pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o número de mulheres que abriram um negócio por oportunidade subiu de 38% para 69% de 2002 a 2008, e após 10 anos a crescente tende a ser ainda maior: de todas as empresas criadas nos últimos 3 anos, 51,5% foram por mulheres.
Os avanços são poucos e as estatísticas sobre o mercado de trabalho ainda demonstram que as mulheres não gozam das mesmas condições dos homens em inúmeros aspectos. Justamente por isso a consolidação deste ideal de igualdade de gênero no comportamento empresarial é uma realidade, um verdadeiro progresso impulsionado pelas lideranças femininas. Não à toa, essa temática está contida na redação de 1 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um empenho que visa mostrar, todos os dias, que o lugar da mulher é onde ela quiser.
Fernanda Macedo é Consultora de diversidade da Gestão kairós, especialista em condução de palestras e workshops. Graduanda em Direito pela Universidade Federal Fluminense e pesquisadora acadêmica.