Crescimento dos centros urbanos até 2050 deve priorizar mobilidade e qualidade de vida
Por Katherine Rivas, da Envolverde –
As cidades brasileiras dos próximos trinta anos serão núcleos regidos pela governança conjunta, a adaptação aos projetos climáticos e estratégias de qualidade de vida. É desta forma que o especialista em cidades e pesquisador do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, Diego Conti, avalia o futuro.
A expectativa é que o crescimento da população nos centros urbanos aumente focando sua expansão nas áreas rurais e assentamentos. As metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro estagnarão seu crescimento cedendo lugar para os núcleos urbanos com 200 mil e 300 mil habitantes.
Conti acredita que a estratégia líder será estabelecer ações para proporcionar qualidade de vida nos conjuntos urbanos entre estas: fácil acesso à educação, entretenimento, melhores condições de deslocamento e sustentabilidade é dizer as cidades se especializando nas facilidades.
O conceito do que é qualidade de vida mudou na geração millenium, o que Conti define como um novo cromossomo de “qualidade de vida”. “Nossos pais tiveram uma vida dura e o objetivo era o desenvolvimento econômico. Os jovens de hoje tem como filosofia a qualidade de vida e procuram isso nas cidades”, explica.
As cidades brasileiras seguem o mesmo parâmetro de desafios. Em São Paulo, por exemplo, os especialistas apontam para a urgência de melhorias em mobilidade e habitação. Uma pessoa que mora na cidade Tiradentes e trabalha no bairro da zona Sul, Brooklin, gasta 6 horas pra ir e voltar do trabalho. A problemática faz parte do modelo americanizado que rege o transporte, onde existe um poder forte da indústria automobilística perceptível nas ações de governo que priorizaram construção de viadutos e outras alternativas direcionadas ao uso do carro.
Para Conti é necessário conectar as periferias ao transporte de qualidade e levar emprego a estas regiões evitando grandes deslocamentos. Ele destaca também a importância de uma estrutura básica como saneamento, educação e saúde, contextos que funcionam interligados. “O problema da saúde você não resolve levando hospitais na periferia e sim dando qualidade de vida as pessoas. Se falta saneamento básico falta saúde. Se a gente investisse 1 real a mais no saneamento básico economizaríamos 4 reais no SUS. Precisamos ter uma visão integrada da realidade, “defende.
Governança conjunta
Outra mudança de impacto destas novas gerações é a participação da população na elaboração de projetos públicos. Neste sentido, as pessoas expõem as necessidades dos bairros para contribuir com as políticas públicas. “Políticos não são donos da verdade, precisam do envolvimento das pessoas que sabem a realidade das cidades”, explica Conti.
A tendência conhecida como governança conjunta deixou de lado a política simples e passou a ser uma visão de equipe, um modelo transparente aliado a um discurso sustentável e inteligente. Conti cita como exemplo o Programa Cidades Sustentáveis, uma iniciativa que promove o desenvolvimento sustentável nos municípios brasileiros.
O Programa é fruto de uma plataforma-agenda de sustentabilidade que avalia as temáticas social, ambiental, econômica, cultural e de gestão pública sob doze eixos. Presente em quase 287 cidades e com 300 indicadores municipais hoje o projeto incorpora os desafios da ODS (Organização de Desenvolvimento Sustentável) e a COP-21, na redução de emissões de gases efeito estufa até 2030, protagonizando mudanças na mobilidade urbana e a eliminação do desmatamento.
Desta forma as prefeituras adquirem um protagonismo central nesta governança aliadas à instituições sociais e à população. O programa é fruto da parceria de instituições como o Núcleo de Estudos do Futuro, Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e o Instituto Ethos e está disponível ao público no site cidadessustentaveis.org.br
Conti conclui que as cidades do futuro só funcionarão com um sistema de governança igualitário, com contribuições da população e suas necessidades reais. (#Envolverde)