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Rondônia por um dia: aumento de queimadas muda cor da tarde de São Paulo

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“Os paulistas tiveram seu dia de rondoniense”.

Assim Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo, resume a segunda-feira, dia 19, marcada, para os moradores de diversas partes do Estado de São Paulo, inclusive a capital, por um céu amarelado e repleto de nuvens. Por volta das 15h, o céu se mostrava tão escuro que, para alguns, já parecia noite.

A comparação do Estado do Sudeste com o do Norte tem um denominador comum: a fumaça proveniente de queimadas, intensificadas no país entre julho e setembro. As partículas geradas por estes incêndios explicam a cor amarelada, de tons de cinza e ocre, vista em São Paulo – não só na Grande São Paulo, como em pontos do litoral e dos Vales do Ribeira e Paraíba.

Já a escuridão, segundo meteorologistas consultados pela BBC News Brasil, está associada também à própria frente fria que fechou o tempo para os paulistas.

Enquanto isso, como exemplificou Pegorim, os moradores de Rondônia estão habituados a ver e a sentir os efeitos das queimadas, muitas vezes associadas ao desmatamento. Segundo dados de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Estado é o quinto no país que mais teve focos de incêndio este ano: 5.533. Nos primeiros lugares, estão Mato Grosso (13.682); Pará (9.487); Amazonas (7.003); e Tocantins (5.751).

Dados do Inpe mostram ainda que o número de focos no Brasil este ano (do primeiro dia de janeiro a 19 de agosto), 72.843, já é 83% maior que no ano passado. Os maiores crescimentos de 2018 para 2019 estiveram no Mato Grosso do Sul (+256%); Pará (+199%); Acre (+196%); e Rondônia (+190%).

A fuligem associada à baixa umidade deste período do ano é um cenário de alerta para a saúde da população e também para o transporte aéreo – no último dia 16, um voo da Latam precisou desviar da fumaça que rondava a capital rondoniense, pousando em Manaus (AM) em vez de Porto Velho (RO).

Mas especialistas defendem que as condições climáticas da época de seca favorecem os focos de incêndio, mas que o determinante para um aumento seria a ação humana, como na imprudência de jogar fora uma bituca de cigarro ao ato intencional de usar o fogo para desmatar ou se livrar do lixo.

Segundo especialista do Climatempo, ‘pluma de fumaça’ saiu do Norte do país e de região fronteiriça em direção ao sul

Pegorim diz que nos últimos dias, foi possível observar através de satélites grandes incêndios ocorrendo nos Estados do Acre e Rondônia e nos países vizinhos Bolívia e Paraguai.

“No fim da semana passada, principalmente na sexta-feira (16), dava pra ver nitidamente uma pluma de fumaça descendo em direção ao Sul do Brasil. O fluxo dos ventos virou de tal forma que trouxe a fumaça, mas isso não estava previsto”, explicou por telefone à BBC News Brasil.

Segundo a meteorologista, no fim de semana, a fumaça chegou ao Rio Grande do Sul, subindo depois para o Paraná e Mato Grosso do Sul e, então, São Paulo.

Já Marcelo Celutti, meteorologista no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), é cauteloso ao precisar a origem da fumaça que chegou ao território paulista – ele destaca que há focos por “toda parte” do país, inclusive da própria São Paulo, apesar de concordar que as partículas que visitaram o Estado devem ter vindo do interior do país e de países vizinhos.

“Muito provavelmente teve a influência também do fenômeno da inversão térmica, bem típico em São Paulo e nessa época do ano. É como ter uma panela com água fervendo e colocar uma tampa: fica tudo retido embaixo dela. Se você tem fumaça, ela não se dispersa para o alto, mas fica confinada em uma camada de 2 km, a parte mais baixa da atmosfera”.

A nebulosidade, causa da “noite” precoce no Estado do Sudeste, foi por sua vez resultado da combinação de uma massa de ar polar com ventos úmidos vindos do mar.

“A escuridão tem mais a ver com o tipo de nuvens, muito baixas e pesadas, e com o final da tarde, já que nessa época do ano anoitece mais cedo”, explica Celutti.

(#Envolverde)