Crescimento populacional descontrolado pode causar extinções muito mais rápido do que qualquer organismo sintético.
O governo britânico acaba de declarar que a biologia sintética – a ciência de fazer novos organismos vivos – poderia levar a uma nova revolução industrial e deve ser uma prioridade de pesquisa do governo. Muitos ambientalistas argumentam que a criação de novas formas de vida pode pôr em perigo as já existentes. Mas pode ser que a biologia sintética seja a melhor esperança para preservar a vida em nosso planeta.
A humanidade tem, e continua a ter, um enorme impacto sobre o planeta. Cerca de 50 mil anos atrás, grande parte da Austrália estava coberta por densas florestas por onde pastavam herbívoros de grande porte que foram presas de carnívoros marsupiais. Dez mil anos depois, as florestas, a megafauna e os carnívoros foram todos embora. O que aconteceu? Muitas explicações têm sido propostas, como as alterações climáticas ou o colapso dos ecossistemas, mas um recente e extensivo estudo de amostras de pólen, feito por Susan Regra e seus colegas da Universidade Nacional Australiana, aponta para um único culpado: o homem. As pessoas chegaram ao litoral norte cerca de 45 mil anos atrás e se espalharam por todo o continente, deixando um rastro de destruição e extinções.
Uma onda de extinção semelhante surgiu do povoamento das Américas cerca de 15 mil anos atrás, e também acompanhou a chegada do homem moderno na Europa, nesse caso, levando consigo os nossos primos neandertais. Em todos os lugares que percorremos deixamos milhares de espécies esmagadas sob nossos pés. Quase sempre, o dano não é intencional, mas uma espécie de subproduto do nosso próprio sucesso, como limpar a terra para o cultivo ou matar para assar a carne em nossas fogueiras. E isso só tende a piorar porque as populações se expandem e mais pessoas exigem o estilo de vida ocidental. A capacidade de resistência do mundo natural pode estar perto do colapso. A maior parte da expansão humana veio por meio da manipulação da natureza. Cada uma das espécies domesticadas é tanto um produto da tecnologia como o telefone celular ou o carro. Mas o futuro nos reserva desafios maiores do que no passado. Alimentar quase dez bilhões de pessoas até 2050, abastecer seus carros e limpar seus resíduos ameaça esgotar a capacidade de preservação do planeta.
Avanços da tecnologia moderna
A biologia sintética pode proporcionar pelo menos algumas respostas. Os cientistas já desenvolveram culturas geneticamente modificadas que podem gerar maiores rendimentos em menos terra e mais resistência às secas, doenças e pragas. Mas a tecnologia da biologia sintética está como um projetista de carros para um mecânico. Um mecânico pode melhorar o desempenho de um automóvel, mas só um designer pode fazer uma Maserati 250F. E por mais que se mexa, nunca um Ford vai virar uma Ferrari. As culturas atuais são o Ford da agricultura, mas os biólogos sintéticos visam tornar as plantas que realizam fotossíntese em uma Ferrari, da forma mais eficiente, colhendo luz a partir de regiões mais amplas do espectro, ou até mesmo capturando o nitrogênio diretamente do ar para que eles não precisem de fertilizantes. Novos micróbios estão sendo projetados para comer e degradar os poluentes tóxicos ou transformar resíduos agrícolas em eletricidade.
Claro que existem perigos. Mas não fazer nada também é perigoso. O crescimento populacional descontrolado pode causar extinções muito mais do que qualquer organismo sintético. A atual geração de organismos sintéticos está sendo construída com deficiências genéticas que vão desativá-los caso eles escapem do laboratório.
Claro que, para usos como limpar um derramamento de óleo, organismos biológicos sintéticos terão que sair do laboratório, por isso eles devem ser projetados para, pelo menos, sobreviver no meio ambiente.
Então, poderiam erros da biologia sintética nos matar? Um biólogo sintético diria que as chances de um micróbio criado ser capaz de provocar doenças em seres humanos é semelhante às chances de um Boeing 747 voar para a Lua. Patógenos e micro-organismos ambientais são animais muito diferentes, e é extremamente improvável que eles tenham sucesso um no território do outro.
Nada é sem risco, mas a biologia sintética é, provavelmente, a única tecnologia que nunca causou danos significativos. A ciência é, até agora, extremamente segura. Longe de ser uma ameaça para o planeta, a biologia sintética pode ser a nossa melhor esperança para um futuro saudável.
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.