Por Athar Parvaiz, da IPS –
Darjeeling, Índia, 24/2/2017 – As comunidades de montanha na zona indiana do Himalaia dependem quase completamente das florestas para conseguir lenha, apesar de a prática ser considerada uma das causas mais importantes de perda florestal e de contaminação do ar no interior das moradias. A queima indevida de combustíveis como a lenha em espaços fechados libera perigosos contaminantes no ar, enquanto a coleta de lenha e o cozinhar em fogões tradicionais consomem muito tempo, especialmente das mulheres.
A Organização Mundial da Saúde calcula que 4,3 milhões de pessoas morrem no mundo a cada ano por doenças atribuíveis à contaminação do ar doméstico. Acredita-se que mulheres, meninas e meninos correm um risco maior de sofrer as consequências dessa contaminação, já que passam mais tempo em casa. Dados do censo de 2011 revelam que 142 milhões de famílias rurais na Índia dependem exclusivamente de combustíveis como lenha e esterco de vaca para cozinhar.
Apesar dos fortes subsídios aplicados pelos sucessivos governos desde 1985, para que combustíveis mais limpos, como o gás liquefeito de petróleo (GLP), estejam à disposição da população pobre, milhões de pessoas continuam lutando para poderem pagar por uma energia mais limpa, o que as obriga a optar por substâncias tradicionais e mais prejudiciais.
Isso fez com que organizações como a Fundação Ashoka para a Pesquisa em Ecologia e Ambiente (Atree), com sede em Bangalore, ajudem as comunidades de montanha a minimizar os riscos sanitários e ambientais derivados do uso da lenha para cozinhar em lugares fechados. A IPS conversou com a diretora regional da Atree para o nordeste da Índia, Sarala Khaling, que supervisiona o projeto de fogões melhorados (FM) administrado pela organização em Darjeeling, na região indiana do Himalaia.
IPS: O que levou a começar o programa FM em Darjeeling?
SARALA KHALING: Em muitas áreas remotas da floresta de Darjeeling realizamos uma pesquisa e descobrimos que as pessoas dependem da lenha, já que é a única fonte barata em comparação com o GLP, a querosene e a eletricidade. No entorno do Parque Nacional de Singhalila e do Santuário da Vida Silvestre Senchal constatou-se que o consumo médio de lenha era de 23,56 quilos por família, por dia. Portanto, pensamos em proporcionar apoio tecnológico a essa gente para minimizar a degradação florestal e a contaminação em interiores, que é perigosa para a saúde humana e também contribui para o aquecimento global. Assim, começamos a substituir os fogões tradicionais por outros de melhor cocção, que consomem muito menos lenha, além de reduzirem a contaminação.
IPS: Quantos FM foram instalados?
SK: Até o momento, a Atree instalou 668 unidades em diferentes localidades de Darjeeling. Depois da instalação realizamos outra pesquisa e os resultados mostraram uma redução do consumo de lenha de 40% a 50%, uma economia de 10 a 15 minutos no tempo para cozinhar, além de as cozinhas ficarem livres de fumaça e contaminação. Capacitamos mais de 200 membros da comunidade e selecionamos promotores de FM para poder montar uma microempresa. Existem oito modelos de FM para diferentes grupos destinatários, como os fogões destinados às famílias, ao gado e os modelos comerciais para albergues, hotéis e escolas.
IPS: Quando o projeto começou?
SK: Trabalhamos com energia eficiente desde 2012. A tecnologia foi adaptada da área vizinha do Nepal, o distrito de Ilam. Todos os modelos que adotamos procedem da organização nepalesa Centro de Desenvolvimento da Comunidade Namsaling. Isso por causa das semelhanças culturais e climáticas da região. Se os modelos não são adequados para a cultura local, as comunidades não aceitam as tecnologias.
IPS: Quem são os beneficiários?
SK: Os beneficiários são as comunidades locais de 30 aldeias onde trabalhamos, já que essas pessoas são totalmente dependentes da lenha e vivem nas proximidades das florestas.
IPS: Quais os benefícios para a saúde do uso do FM, especialmente para mulheres e crianças?
SK: As mulheres passam mais tempo na cozinha, o que significa que as crianças menores que dependem de suas mães também ficam muito tempo na cozinha. Definitivamente, o ambiente sem fumaça nesse local deve ter um efeito positivo na saúde, especialmente nas condições respiratórias. A cozinha também fica mais limpa, bem como os utensílios. E, depois, o menor consumo de lenha significa que as mulheres passam menos tempo coletando, evitando dessa forma a fadiga.
IPS: O que dizem os beneficiários?
SK: A resposta das pessoas que adotaram essa tecnologia foi positiva. Dizem que os FM consomem menos lenha e proporcionam muito mais comodidade para cozinhar em um ambiente livre de fumaça. As mulheres nos disseram que suas cozinhas ficam mais limpas, bem como os utensílios.
IPS: Quanto custa ter um fogão limpo? Uma família pode consegui-lo por si só?
SK: Custa cerca de US$ 37 fabricar um. A Atree só paga os gastos de mão de obra. Naturalmente apoiamos a capacitação, mobilização, monitoramento, divulgação e extensão. E também existem muitas casas fora dos pontos de nossos projetos que também adotaram essa tecnologia. O material usado para fogão limpo é local, pois é feito com tijolos, esterco de vaca, sal, melaço e peças de ferro.
IPS: Há uma meta para o número de famílias que se deseja cobrir em um certo período de tempo?
SK: Pretendemos fornecer 1.200 unidades ao mesmo número de famílias. Mas, dependendo da capacitação, vamos ampliar esse número. Nosso objetivo principal é fazer com que isso seja sustentável e não algo que se distribua gratuitamente. Nosso modelo é a seleção e a capacitação de membros da comunidade. Queremos que esses membros treinados se convertam em pessoas de recursos e se organizem em uma microempresa de promotora desses fogões. Envolverde/IPS