Política Pública

Geleiras polares diminuem cada vez mais

Por Baher Kamal, da IPS – 

Roma, Itália, 6/3/2017 – Os que ainda negam as consequências da mudança climática devem saber que prosseguem as altas temperaturas em todo o mundo, que as zonas da Antártida e do Ártico exibem uma extensão de gelo menor do que nunca, e que o calor representa um risco elevado para a Ásia e outras regiões. Além disso, quase metade das florestas do planeta desapareceram, as fontes de água subterrânea se esgotam rapidamente e a biodiversidade está profundamente deteriorada.

Informes da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e da Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço (Nasa), ambas dos Estados Unidos, asseguram que as temperaturas superficiais médias em janeiro foram as mais altas da história, depois das de janeiro de 2016 e 2007, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Segundo a NOAA, a temperatura média foi de 0,88 grau acima da média de 12 graus do século 20. O Centro Europeu de Previsão Meteorológica de Médio Prazo afirmou que foi a segunda média mais quente da história.

A variabilidade natural do clima – como os fenômenos El Niño e La Niña – implicam que o planeta não terá novos recordes de temperatura a cada mês ou cada ano.

“Mais importante do que as classificações individuais mensais é a tendência de longo prazo do aumento das temperaturas e dos indicadores de mudança climática, tais como as concentrações de dióxido de carbono, que em janeiro subiram para 406,13 partes por milhão (ppm) no Observatório de Mauna Loa, nos Estados Unidos, contra as 402,52 ppm de janeiro do ano passado”, destaca a NOAA.

No entanto, as maiores variações positivas de temperatura em relação à média de janeiro foram observadas na metade oriental dos Estados Unidos, do Canadá e, em particular, na região do Ártico, onde as altas temperaturas também persistiram no começo de fevereiro.

“Pelo menos três vezes neste inverno boreal, o Ártico sofreu o equivalente polar a uma onda de calor, quando fortes tempestades no Oceano Atlântico impulsionaram uma massa de ar quente e úmido e elevaram as temperaturas até um ponto próximo do congelamento”, acrescenta o informe.

Dessa forma, a temperatura no arquipélago ártico de Svalbard, ao norte da Noruega, superou os 4,1 graus do dia 7 de fevereiro. A estação terrestre mais setentrional do mundo, Kap Jessup, na ponta da Groenlândia, oscilou entre 22 graus negativos e 2 graus em um período de 12 horas entre 9 e 10 de fevereiro, segundo o Instituto Meteorológico Dinamarquês.

A extração mundial de minerais triplicou nas últimas quatro décadas, o que intensificou a mudança climática e a contaminação do ar. Foto: Pnuma

 

“As temperaturas no Ártico são notáveis e muito alarmantes”, afirmou o diretor do Programa Mundial de Pesquisas Climáticas, David Carlson. “O ritmo da mudança no Ártico e as mudanças resultantes em padrões de circulação atmosférica mais amplos, que afetam o clima em outras partes do mundo, estão levando a ciência do clima aos seus limites”, acrescentou

Como consequência de ondas na corrente de jorro – o fluxo de ar que se move rapidamente e ajuda a regular as temperaturas – grande parte da Europa, península árabe e do norte da África sofreram frio pouco habitual, bem como partes da Sibéria e do oeste dos Estados Unidos.

“A extensão do gelo marinho foi a menor nos 38 anos de registros por satélites que existem para o mês de janeiro, tanto no Ártico como na Antártida, de acordo com o Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo (NSIDC), dos Estados Unidos, e o Portal de Gelo Marinho, da Alemanha, operado pelo Alfred-Wegener-Institut”, explicou Carlson.

A extensão do gelo marinho ártico foi, em média, de 13,38 milhões de quilômetros quadrados em janeiro, segundo o NSIDC, ou 260 mil quilômetros quadrados a menos do que em janeiro de 2016, equivalentes a uma superfície maior do que a Grã-Bretanha.

Segundo Carlson, “o período de recuperação para o gelo marinho do Ártico normalmente acontece no inverno quando se ganha tanto em volume quanto em extensão. A recuperação deste inverno foi frágil, no melhor dos casos, e houve alguns dias de janeiro em que as temperaturas subiram acima do ponto de fusão”.

“Isso terá implicações sérias para a extensão do gelo do mar ártico no verão, bem como para o sistema global do clima. O que acontece nos polos não fica nos polos”, alertou o especialista.

A OMM alerta que a mudança climática, a degradação ambiental, o crescimento demográfico e a urbanização estão exercendo pressão sobre o abastecimento de água em muitas partes da Ásia, enquanto cresce a exposição a condições climáticas extremas e outros perigos.

A região mais povoada do planeta se vê afetada por uma ampla gama de perigos naturais, como ciclones tropicais, ondas de calor e frio, secas e incêndios florestais, precipitações intensas, inundações e deslizamentos de terra, além de tempestades de areia e pó. A contaminação do ar é uma preocupação importante adicional.

“O ano de 2016 foi o mais quente já registrado, superando inclusive as temperaturas excepcionalmente elevadas de 2015, devido a uma combinação de mudança climática de longo prazo e um forte El Niño”, destacou o secretário-geral da OMM, o finlandês Petteri Taalas. “Cada vez há mais provas de que o aquecimento das massas de ar do Ártico e a redução do gelo marinho afetam a circulação oceânica e a corrente de jorro, interrompendo os padrões climáticos nas latitudes mais baixas da Ásia”, acrescentou.

Segundo Taalas, “o derretimento das geleiras está ligado, no curto prazo, a perigos como inundações e deslizamentos de terra e, no longo prazo, ao estresse hídrico de milhões de pessoas”. Segundo o especialista, nas últimas décadas, os países asiáticos estiveram expostos a “fenômenos meteorológicos e climáticos de maiores intensidade e frequência. O ano de 2016 não foi exceção”.

Índia, Iraque, Irã e Kuwait tiveram temperaturas superiores a 50 graus no verão passado. Muitas outras partes da Ásia também experimentaram ondas de calor. Em vista dessa situação, a conferência da Associação Regional para a Ásia da OMM, que acontece a cada quatro anos, se reuniu entre os dias 12 e 16 de fevereiro, em Abu Dhabi, para analisar uma forma de apoiar a aplicação do Acordo de Paris sobre mudança climática e a passagem para uma economia com baixo consumo de carbono. Envolverde/IPS