Diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (Ana), Vicente Andreu, afirmou, no Fórum das Águas, a semana passada em Brumadinho, que os governos atingidos pela estiagem precisam agir de forma mais enfática no combate ao consumo. Para ele é urgente a criação de mecanismos de restrição para que se contenha o aumento do consumo.
“O que eu sinto, e aí está a nossa discordância com São Paulo, é que se continua passando uma mensagem otimista de que vai ter água,”, criticou, assegurando que isso pode fazer com que as pessoas não economizem ea situação piore no futuro.
Segundo Andreu, não basta apenas dar estímulos pelo aspecto econômico, é preciso criar mecanismo de restrição para se evitar o aumento do consumo. Para ele, não apenas o agronegócio, responsável por 70% da água captada, é o grande vilão pelo desabastecimento. Todos, empresários, governo e população, têm sua responsabilidade. “Você consegue imaginar que haja 50% de perda de água na distribuição? Todos têm sua parcela de culpa, inclusive a Dona Maria, que usa água para lavar a calçada”.
Andreu também criticou os governos dos Estados que não estão repassando o dinheiro dos Fundos de Recursos Hídricos conforme prevê a Lei. Com relação ao uso da água para geração de energia, por exemplo, a legislação define que dos 6% arrecadado – 10% seja destinado à União, 45% aos Estados e 45% aos municípios para a execução de políticas públicas, como planos de bacia, ações de comitês, educação ambiental etc. Segundo ele, a maior parte dos Estados transfere esse montante para outras áreas.
Entre as medidas que poderiam (e ainda podem)ter sido feitas com esses recursos, estão a construção de terraços para que as enxurradas não provoquem o assoreamento dos rios; a recomposição das matas ciliares, com o plantio de árvores nativas; a proteção de nascentes e um trabalho de educação ambiental permanente.
Espera-se que com esse grande susto, que parou fábricas e secou as torneiras de milhares de famílias, o Brasil se prepare para conviver com novos tempos, onde as mudanças climáticas (secas, temporais, eventos extremos cada vez mais frequentes) batem a porta de todos. Os que já sabem o que isso significa em ações hoje serão os que estarão mais aliviados no futuro.
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* Silvia Marcuzzo é jornalista e trabalha a temática socioambiental desde 1993. A repórter foi à Brumadinho a convite do evento.