"A crise ajuda a pensar em alternativas", pondera negociador-chefe do Brasil

 

Cúpula do G-20 reunida em Toronto (Canadá), em 2010. Crise pode dificultar negociações na Rio+20. Foto: Mark Garten/UN

Considerada por muitos especialistas como um dos principais entraves às discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), a atual crise econômica que assola países da Europa e os Estados Unidos também pode ter aspectos positivos, segundo opinião do embaixador André Correa do Lago, negociador-chefe do Brasil para à cúpula que será realizada em junho, no Rio de Janeiro.

Segundo ele, a crise pode ter impacto negativo sobre a Rio+20, mas não será suficiente para esvaziar a conferência das Nações Unidas. “É evidente que num período em que os países mais ricos estão precisando de dinheiro para resolver seus problemas fica muito difícil que eles assumam compromissos de transferência de recursos para países em desenvolvimento”, observou Lago à Agência Brasil.

Por outro lado, Correa do Lago acredita que a crise social e econômica cria um ambiente mais favorável para se questionar o modelo atual de produção e consumo. “Se a ideia é ter um mundo diferente, sob novos paradigmas, o efeito da crise contribui para a discussão de mudanças significativas. A crise ajuda a pensar em alternativas”, acrescentou.

O negociador-chefe do Brasil na Rio+20 ressaltou ainda que a conferência vai tratar de questões a serem resolvidas em longo prazo, que vão além da duração da crise econômica.

Em entrevista recente concedida ao EcoD, o teólogo e escritor Leonardo Boff mencionou o fato de que o atual momento da economia mundial possa vir a enfraquecer a Rio+20. “No que diz respeito aos chefes de Estado eu não espero nada. Os países centrais estão em profunda crise econômico-financeira e então protelarão as decisões, como as que já foram anunciadas em Cancún [COP-16] para 2020”, projetou.

“Ocorre que a situação global pode se deteriorar de tal forma, especialmente, se ocorrer o temido aquecimento abrupto anunciado por inteiras comunidades científicas, como a norte-americana, segundo a qual a temperatura da Terra, nos próximos decênios, poderá se elevar 4 graus Celsius. Se isso ocorrer, advertem, grande parte da vida como a que conhecemos não vai subsistir e porções imensas da humanidade poderão desaparecer”, completou Boff.

* Publicado originalmente no site do EcoD.