Projeto controla espécie invasora de coral em Santa Catarina

 Foto: Fabricio Basílio /Instituto CarbonoBrasil

Foto: Fabricio Basílio /Instituto CarbonoBrasil

Já amplamente difundido no Rio de Janeiro e São Paulo, o coral-sol foi detectado em seus estágios iniciais de invasão e está bem controlado em águas catarinenses, mas pesquisador alerta para o perigo de novas invasões

O coral-sol, uma espécie considerada exótica e invasora, pois onde se fixa domina o ambiente, foi encontrado em Santa Catarina há quase dois anos e desde então vem sendo monitorado e manejado por uma equipe do Projeto Bioinvasores Marinhos, uma parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Ekko Brasil.

Originário da região do oceano Indo-Pacífico, o coral-sol foi observado na década de 1950 no Caribe. Em 1990 foi detectado em plataformas de petróleo e costões rochosos no Rio de Janeiro, e depois em grandes extensões na Ilha Grande (RJ) e Ilhabela (SP). As plataformas de petróleo são na verdade tidas como o grande vilão dessa história, pois teriam agido como vetor para a disseminação da espécie.

Sua presença interfere na dinâmica dos organismos marinhos com quem dividem os costões, como outras espécies de corais, esponjas e algas. Isso acontece especialmente porque, no Brasil, a menor diversidade de espécies (em comparação com o Indo-Pacífico, região de origem do coral-sol) e as suas características, como tamanho, fazem com que esse ‘grande’ competidor ganhe espaço.

No geral, o coral-sol não é uma espécie formadora de recifes, sendo encontrado principalmente em locais mais abrigados da luz, como costões rochosos e cavernas. Porém, no RJ a espécie é encontrada em todos os tipos de ambientes.

Nos estados do sudeste, infelizmente, a dominância do coral-sol já estava muito bem estabelecida quando mergulhadores a avistaram pela primeira vez. Nestes locais, o Projeto Coral-Sol trabalha no monitoramento e estudos sobre a espécie. Já em Santa Catarina, a situação é um pouco diferente. Primeiramente porque a espécie de coral-sol detectada até agora no estado do sul é a Tubastraea coccinea, menos agressiva do que a Tubastraea tagusensis, encontrada nos demais estados.

Em segundo, a invasão foi detectada logo nos estágios iniciais, com colônias ainda pequenas, cuja remoção era viável. Ainda assim, mesmo com a retirada de quase 600 colônias nos costões da Ilha do Arvoredo (parte limítrofe à Reserva Marinha Biológica do Arvoredo), os pesquisadores do Projeto ainda encontram o coral-sol, que se regenera nos costões nos mesmos locais de onde foi removido. Para efeito de comparação, no RJ já foram removidas mais de 200 mil colônias.

A vantagem é que, conhecendo-se onde eles estão, é possível retirar as colônias antes que elas atinjam idade reprodutiva, com cerca de um ano e meio. Dessa forma, o Projeto tem conseguido com sucesso controlar a perpetuação da espécie em Santa Catarina.

Mas como nem tudo são flores, o professor Alberto Lindner, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC e um dos coordenadores do Projeto Bioinvasores Marinhos, alerta que, com o aumento na circulação de embarcações e plataformas de petróleo, há risco de piora na situação.

Além da chegada de outras colônias que podem povoar locais não tão frequentemente monitorados como o Arvoredo, a preocupação é de que a outra espécie, a T. tagusensis, apareça pelo estado. Lindner alerta que ainda não foi descoberto nenhum predador ou competidor capaz de reduzir as colônias de coral-sol, porém que há indícios de que uma espécie de esponja nativa possa conseguir recobri-lo. Evidências ainda estão sendo coletadas.

A equipe do projeto também acompanha outros locais para o monitoramento da invasão do coral-sol, como a região de Porto Belo, que recebe grande fluxo de embarcações, da Ilha do Coral e Garopaba, Imbituba e Jaguaruna.

Em Santa Catarina, já foi detectada a presença de seis espécies invasoras marinhas, das nove presentes no litoral brasileiro, segundo lista publicada em 2009.

Em paralelo, o Projeto Bioinvasores Marinhos trabalha com o monitoramento de espécies invasoras em três portos catarinenses: São Francisco do Sul, Itajaí e Imbituba. Em cada um desses portos, foram instaladas placas de recrutamento, para verificar quais espécies aparecem. As placas ficam a três metros de profundidade e são verificadas uma vez por mês.

A pesquisa já possibilitou a detecção de outra espécie exótica, Ophiothela mirabilis, semelhante a uma estrela-do-mar, que anteriormente não havia sido registrada no estado.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.