State of the Tropics 2014: Mundo precisa dar mais atenção aos trópicos

stateoftropics

Mesmo sendo palco de algumas das mais radicais transformações econômicas, populacionais e ambientais no planeta nas últimas décadas, a região dos trópicos ainda é marginalizada pela comunidade internacional.

Os países tropicais estão crescendo mais rapidamente do que os temperados, possuem a maioria dos recursos naturais, cobrem 40% da superfície terrestre e apresentam uma população mais jovem. Por outro lado, sofrem com governos instáveis, devastação ambiental, mortalidade infantil, doenças que já têm vacinas e com a pobreza.

Seja olhando pelo lado positivo ou pelo negativo, a região tropical do planeta mereceria mais atenção do que vem recebendo da comunidade internacional.

Essa é uma das mensagens do State of The Tropics 2014, um relatório de mais de 400 páginas compilado por 12 instituições, entre elas o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e as Universidades James Cook (Austrália) e do Havaí (Estados Unidos).

O documento traz informações sobre diversos aspectos da região, como demografia, saúde pública, economia, biodiversidade e infraestrutura.

linhapobreza“As nações tropicais alcançaram um extraordinário progresso em uma ampla variedade de indicadores ambientais, econômicos e sociais nas últimas décadas. Mas ainda existem muitos desafios significantes”, afirmou Sandra Harding, reitora da Universidade James Cook.

Um dos destaques do relatório é a constatação de que os trópicos representam o futuro populacional do planeta. Atualmente, a região é lar de 40% da população mundial, sendo que destes, 55% são crianças. Em 2050, mais da metade das pessoas estarão vivendo nos trópicos, que terá 67% das crianças do mundo.

“Como a maior parte das crianças viverá nos trópicos em 2050, precisamos repensar as prioridades da comunidade internacional em termos de ajuda, desenvolvimento, pesquisa e educação”, reforçou Harding.

Uma boa notícia é que as taxas de crescimento do PIB dos países tropicais têm ficado acima da média mundial nos últimos 30 anos, e suas economias representam atualmente 18,7% da economia mundial, acima dos 14,5% de 1980.

Já pelo lado negativo, esse crescimento muitas vezes se deu avançando sobre a riqueza natural da região, um modelo que deveria ser alterado para o próprio bem das populações tropicais, dizem os autores.

“Cerca de um terço de todas as terras nos trópicos experimentou alguma forma de degradação nas últimas três décadas, sendo que o desmatamento e práticas ineficazes de agricultura responderam pela maior parte dessa degradação”, afirma o relatório.

stateoftropicsdematPara os autores, seria possível manter o crescimento econômico de forma mais harmoniosa com a natureza se os países tropicais tivessem acesso ao que de mais moderno existe em gestão da terra. Assim, programas internacionais de transferência de tecnologias e conhecimento deveriam ser uma prioridade para a comunidade internacional, uma vez que é do interesse de todos que os serviços ecossistêmicos dos trópicos, como os exercidos pela Amazônia, continuem funcionando.

As mudanças climáticas são apontadas como uma ameaça. Entre os impactos que o fenômeno pode trazer para os trópicos estão prejuízos em termos de segurança alimentar, agravamento das secas (cada vez mais intensas e frequentes na região) e multiplicação de muitas doenças.

“Muitos países tropicais são particularmente vulneráveis às mudanças climáticas devido à sua baixa resiliência a eventos extremos de qualquer tipo. Em muitas áreas, mesmo a menor alteração nos padrões de chuva tem grandes consequências nas moradias e na agricultura”, afirmou Blair Trewin, climatologista do Escritório Australiano de Meteorologia e membro da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

América do Sul

Os países sul-americanos aparecem com destaque no relatório, sendo que, desde 1990, a população vivendo abaixo da linha da miséria (com menos de US$ 1,25 por dia) nessas nações caiu de 21% para 7%.

De forma geral, as taxas de crescimento econômico na América do Sul melhoraram significativamente na última década, impulsionadas por uma grande demanda internacional por commodities, maior estabilidade política e melhor governança.

O Brasil é citado diversas vezes ao longo do relatório, tanto positivamente quanto negativamente.

De positivo, aparecem o crescimento econômico, a retirada de pessoas da pobreza, a queda do desmatamento na Amazônia e a consolidação do país como uma potência exportadora de alimentos.

Entre os dados negativos estão o aumento da degradação do solo, a perda do Cerrado em ritmos alarmantes e a construção de projetos de energia e infraestrutura com grandes impactos sociais, como a usina de Belo Monte.

“Mais de 25% da Amazônia brasileira está protegida, mas muitos outros biomas no país não são conservados, mesmo possuindo rica biodiversidade (…) O desalojamento de povos tradicionais pelos mais diversos motivos também é um problema que não foi resolvido no Brasil”, afirma o relatório.

O State of The Tropics 2014 conclui ainda que muitas soluções para o desenvolvimento da região estão sendo criadas pelos países tropicais, e que a lógica histórica de tentar implementar modelos europeus e norte-americanos precisa ser invertida.

“Em um momento em que damos cada vez mais atenção para questões sociais, ambientais e de sustentabilidade econômica, é necessária uma mudança na forma como lidamos com os problemas. É hora de reconhecer a região dos trópicos também como uma formadora de conhecimento, e abarcar a sabedoria de suas populações”, declarou Harding.

Alguns mapas e tabelas do relatório:

indicadorespobreza

 

hotspotsbio

 

degradacao

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.