Discriminação social na cidade planejada

Foto: http://bit.ly/H6RCcB
Foto: http://bit.ly/H6RCcB

Mesmo uma cidade planejada e construída para ser a capital federal deste país, não escapou do modelo de desenvolvimento de exclusão, que durante décadas alimentou periferias completamente desassistidas, com precárias condições de infraestrutura, saneamento e dos demais serviços públicos.

O resultado está aí: cidades-satélites sem qualquer possibilidade de vida digna, nas quais a população em sua grande maioria é utilizada como mão de obra barata pelos contratantes bacanas que habitam a capital e trabalham nos edifícios projetados por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.

Segundo dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a favela Sol Nascente, DF, soma 56,5 mil moradores, ocupando o segundo lugar no “ranking”, atrás apenas da população da Rocinha, RJ, com 69,2 mil pessoas. O triste é que essa realidade social discriminatória é semelhante em praticamente todas as capitais brasileiras, seja ela planejada ou não.

Reproduzo aqui trecho publicado pela revista CartaCapital (1), fruto da entrevista com o urbanista Rômulo José da Costa Ribeiro, coordenador da pesquisa sobre o Distrito Federal no Observatório das Metrópoles. “Uma marca dessa favelização é a acomodação da população de baixa renda na periferia, uma estratégia consciente da elite do Poder Público para preservar o coração de Brasília, o Plano Piloto, ‘intocado e belo’. O ‘feio’ é expulso para longe. Como qualquer favela no País, as de Brasília não têm integração com a dinâmica da cidade. A ‘cidade rica’ precisa deles, mas não admite nem os quer por perto, visíveis. Eles são discriminados em todas as situações cotidianas”.

Uma sociedade que não enxerga e insiste em desconhecer a diversidade da sua gente é incapaz de planejar e de desenvolver soluções que contemplem as necessidades de todos. Por aqui, fico. Até a próxima.

Fonte: (1) CartaCapital, edição 779, 18 de dezembro de 2013, página 32.

Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.