A todo momento vemos nos principais noticiários que a crise econômica está atrapalhando a maioria dos negócios no país. Diante desta situação, na qual o país passa por grandes dificuldades, escutamos todos os setores se questionando quando será o movimento do governo e dos órgãos responsáveis pela recuperação e pelos ajustes econômicos e políticos para a retomada do crescimento. Já estávamos muito bem adaptados à estabilidade econômica por conta do plano que trouxe nossa moeda forte.
Muito me questiono se este crescimento não é somente uma ilusão de um país que já passou por dificuldades de inflação galopante e dívida externa imensa.
Felizmente, quando colocamos os indicadores sociais percebemos uma melhora comparativamente às últimas décadas. Posso parecer ingênuo com esta afirmação e em todo momento sou questionado pelos meus colegas e alunos, porém, considerando o que já passamos e a fase na qual estávamos, com certeza evoluímos muito.
O crescimento é necessário, todavia, se não avaliarmos o “por que deste crescimento” torna-se uma busca sem critérios. Algumas pesquisas realizadas pelo Instituto Gallup, entre 2013 e 2014, foram processadas e divulgadas pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento da ONU), que mostra a real percepção do bem estar dos latinos americanos e dos caribenhos. Na ocasião, o economista chefe do PNUD para a América Latina e Caribe, George Gray Molina, explica que existe a necessidade de ampliarmos a visão para além da renda e do crescimento econômico, quando um terço da população desta região já diz ter tido preocupação com dinheiro, mesmo que dois terços encontrem-se em situação de pobreza e vulnerabilidade.
Temos muito o que evoluir, mas sempre com um foco. E a ideia é podermos pensar exatamente nesta vertente. Como criarmos valor para estas pessoas que estão nestas condições? Como criamos bem estar para todos? Mas você deve estar se perguntando, o que tem a ver estes tópicos com a minha PME? Neste momento de crise quero faturar e sobreviver…
É esse o pensamento de todas as organizações neste momento, entretanto, não podemos buscar esta sobrevivência a todo custo e preço. Vide as grandes empresas que estão passando por crises de valores com seus diretores e presidentes tendo que utilizar um localizador no tornozelo. A ética de grandes empreiteiras e fornecedores é que está agora sendo questionada, inclusive sendo premiado aquele executivo que acusar o outro. Isso sim é crise de valores, na qual vale tudo, ou quase tudo.
Falar em qualidade de vida e bem estar para todos é meio contraditório para pessoas e executivos que tiveram que lidar com uma situação totalmente fora do padrão.
Já a pequena e média empresa que está no meio deste mar de dificuldades éticas e morais terá que tentar sair ilesa. Aquelas que estão assistindo a estas cenas de teatro grego terão que continuar firme nas suas crenças e valores, no seu ideal do quando foi criada a empresa.
Está certo que existe uma grande quantidade de pessoas que acham que isso não é o que acontece no país, que pode ser, realmente, ingenuidade do autor, porém, posso justificar com dados de quanto perdemos com a corrupção e a falta de valores. O Centro de Estudos de Direito Econômico e Social (Cedes), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou que o Brasil deixou de produzir cerca de R$ 87 bilhões em 2014 no faturamento de uma das maiores empresas do país e os seus agregados, graças aos problemas de falta de valores e ética.
A PME não pode perder sua missão e os seus valores, não pode entrar na turma do deixa disso, pois isso pode efetivamente tirar o sentido duradouro da sua existência, além de ser um risco muito grande, pois os problemas sempre caem para aqueles que têm menor força. Não perca os seus valores, pois geralmente é tudo que sobra! (#Envolverde)
* Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor; professor da ESPM; idealizador e presidente do conselho deliberativo da Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade); e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. www.marcusnakagawa.com