Clima

Inpe lança novo modelo para previsões do tempo e da qualidade do ar

Por Júlio Ottoboni*

Se as mudanças climáticas estão causando transtornos para as previsões do tempo, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, tem corrido atrás do prejuízo.

A instituição lançou uma nova versão do modelo regional de previsão de tempo e estudos climáticos sob a denominação BRAMS, que combina novos fatores. A nova versão do software meteorológico unificou os modelos para previsão de tempo e de qualidade do ar usados atualmente pelo Cptec.

Segundo o Inpe, com isso a  comunidade científica brasileira e internacional ganhou um novo sistema capaz de fazer previsões simultâneas de tempo e de qualidade do ar na América do Sul em tempo real.

A nova versão do sistema fornece previsões meteorológicas e de qualidade do ar, a partir das concentrações de monóxido de carbono, ozônio e aerossóis atmosféricos da América do Sul com resolução de 20 quilômetros e com antecedência de 84 horas, cerca de três dias e meio. Já a previsão do tempo tradicional, que não inclui os aspectos químicos da atmosfera, tem resolução de 5 km.

O BRAMS permite a visualização da poluição atmosférica em megacidades da América do Sul, como São Paulo e Rio de Janeiro, e de névoas de monóxido de carbono de queimadas. Para isso, o software utiliza 9,6 mil processadores do supercomputador Tupã, instalado no Cptec, adquirido com apoio da FAPESP e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

A grande vantagem é ter a unificação dos modelos de previsão de tempo e de qualidade do ar em um mesmo software. Isso, por exemplo, possibilita simular de maneira mais realista a interação do ecossistema da Amazônia com diversos processos atmosféricos, como as emissões de aerossóis pelas queimadas, que modificam regimes de chuva. Também  o nível da temperatura da superfície e seus impactos na saúde pública. Há poucos meses, Manaus ficou totalmente coberta por uma espessa camada de fumaça vinda da queimada na floresta.

“Hoje, poucos centros de previsão de tempo e estudos climáticos no mundo possuem um sistema de previsão integrada como o BRAMS 5.2, que fornece simultaneamente previsão de tempo e de qualidade do ar na escala da América do Sul com resolução de 20 km”, disse o coordenador do projeto do Inpe, Saulo Ribeiro de Freitas.

O BRAMS foi baseado no Sistema de Modelagem Atmosférica Regional (RAMS, na sigla em inglês), desenvolvido originalmente por pesquisadores da Colorado State University, dos Estados Unidos, no final da década de 1980.

“O BRAMS começou com o modelo americano. Mas hoje é um software completamente diferente, com diversas finalidades que não existiam no modelo original”, explicou.

O modelo brasileiro é usado atualmente por pesquisadores brasileiros como de outros centros de pesquisa na França, Portugal, Estados Unidos, Argentina, Colômbia e Peru. Isso ocorre pela influência e importância da Amazônia no clima global.

A fim de aprimorá-lo, os pesquisadores do Inpe e da Universidade de São Paulo (USP) se somaram a outras universidades e instituições de pesquisa tanto no Brasil como no exterior. O objetivo é melhorar seu desempenho computacional e incorporar novas funcionalidades.

Em razão do trabalho realizado com o BRAMS, o pesquisador do Inpe foi convidado pela Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço ( Nasa), dos Estados Unidos, para trabalhar no grupo de modelagem climática da agência espacial norte-americana. “A ideia é aumentar a colaboração entre a Nasa e o Inpe em modelagem climática em escala global”, concluiu. (#Envolverde)

* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, pós graduado em jornalismo científico. Tem 30 anos de profissão, atuou na AE, Estadão, GZM, JB entre outros veículos. Tem diversos cursos na área de meio ambiente, tema ao qual se dedica atualmente.