Argh! O nojo é um sentimento útil

Coisas que dão aversão frequentemente apresentam um perigo para a saúde pública.

Por muito tempo deixado de lado pelos pesquisadores, o nojo entrou há alguns anos em uma fase de reabilitação. O The New York Times faz uma comparação chamando-o de “Cinderela” das emoções. E “se suas irmãs malvadas, a cólera, o medo ou a tristeza, atraíram a atenção dos psicólogos, ele, foi deixado na sombra”, sublinha o jornal. Mas agora a hora do baile chegou.

Paul Rozin, psicólogo e professor emérito da Universidade da Pensilvânia, é um dos pioneiros da pesquisa sobre o nojo. Ele começou suas investigações nos anos 1980: “era sempre a outra emoção, lembra ele. Hoje é o objeto de estudo atual”.

Uma conferência intitulada A Evolução do Nojo foi organizada no início de janeiro na Alemanha. Para uma das conferencistas, Valérie Curtis, uma especialista no assunto que ensina na Escola de Higiene e de Medicina Tropical de Londres, o nojo “é nosso cotidiano. Ele determina a proximidade que vamos ter com outras pessoas. Ele determina quem nós vamos abraçar, com quem sairemos, perto de quem vamos nos sentar. Ele determina também de quem nós vamos nos afastar, o que é muito importante”.

Estudos recentes mostram de fato que longe de se limitar às náuseas, o nojo é uma emoção tão útil quanto complexa. Não apenas protege os homens das doenças e dos parasitas, mas toca também em outros aspectos da vida humana, da sexualidade à alimentação, passando pela política. Sim, nem mesmo a política escapa. Certos estudos, por exemplo, já destacaram que os conservadores são menos inclinados a adotar uma forma de aversão diferente da dos liberais. Aquilo que as pessoas consideram repugnante corresponde frequentemente àquilo que julgam imoral, conferindo a esse sentimento uma dimensão ética mais clara que a cólera ou o medo.

Mas a grande “força” do nojo reside no seu poder de influenciar o comportamento dos indivíduos. Melhor, ele pode ser utilizado com bom propósito, em campanhas de saúde pública principalmente. Curtis colaborou dessa forma como uma agência indiana de relações públicas, na produção de uma operação baseada nessa emoção e destinada a sensibilizar as populações a certas regras de higiene e lutar contra a propagação da sujeira e dos germes. O objetivo é principalmente estimular a lavagem de mãos das mães nos pequenos vilarejos da Índia, um gesto simples que poderia salvar vidas.

Atualmente em fase de teste, a campanha se baseia em um esquete em torno de dois personagens, explica o The New York Times: uma mãe e um homem muito sujo que não lava nunca as mãos. O homem faz balas à base de lama e vermes, ele fica constrangido de parar no meio da execução da tarefa: ele tem diarreia. A supermãe respeita escrupulosamente as regras de higiene. Seus filhos não ficam doentes, um de seus bebês se torna médico.

A presença de excrementos no esquete não é por acaso. Uma das coisas que os estudos sobre o nojo elucidaram, explica Curtis, é que é essencial falar das coisas que dão aversão, porque elas apresentam frequentemente um perigo para a saúde pública. Na Grã-Bretanha, um outro slogan explicita “não leve o banheiro com você”, para estimular os britânicos a lavar as mãos ao sair dos banheiros, se mostrou bastante eficaz.

* Publicado originalmente no site Le Monde e retirado do Opinião e Notícia.