Atualmente perde-se o equivalente a 6,5 vezes o sistema Cantareira em água tratada todos os anos, o que significa deixar vazar R$ 8 bilhões que poderiam financiar o saneamento no país.
Adriana Leles e Mario Pino*
Há muitos problemas na gestão de água no Brasil, todos os anos no Dia Mundial da Água são apontados para em seguida serem deixados ao esquecimento. Há, no entanto, um problema raramente lembrado e que hoje representa um dos principais males do abastecimento urbano de água potável: as perdas nos sistemas de distribuição. Estudos realizados por organizações sociais e pelo Ministério das Cidades mostram que o Brasil amarga uma perda média de cerca de 40% de toda a água já tratada em vazamentos e furtos nas redes urbanas de distribuição.
Esse é um tema presente entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável lançados em setembro de 2015 pela Organização das Nações Unidas. O ODS de número 6 carrega a missão de “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”, e essa meta deverá ser alcançada até 2030, mesmo ano em que deverá estar cumprida a meta 6.4, que propõe “aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água”.
Os indicadores de gestão de água e saneamento no Brasil ainda estão bastante aquém dessas metas, no entanto isso não é motivo para desalento, muito pelo contrário. Empresas, governos e organizações sociais que atuam no país estão mobilizados para estimular gestores públicos e privados dos sistemas de água, além dos prefeitos atuais e futuros (este ano haverá eleições nas cidades) a dar prioridade aos trabalhos de redução de perdas. Nessa linha, foi lançado em setembro último, durante o Congresso da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), em Brasília, o Movimento pela Redução de Perdas de Água na Distribuição, que atua sob o slogan “Menos Perda, Mais Água”, uma iniciativa da Rede Brasileira do Pacto Global das Nações Unidas, liderada pela Braskem e pela SANASA.
Esse movimento, que já conta com apoio de 40 empresas e organizações sociais, está trabalhando para conscientizar gestores da área de que, apesar dos custos de reservação e tratamento de água serem menores do que os investimentos envolvidos na engenharia de redução de vazamentos, o cenário de escassez hídrica, que tem a possibilidade de se agravar ainda mais com o acirramento das mudanças climáticas, torna inaceitável que o volume de água equivalente a 6,5 represas com a da Cantareira, de água já tratada, seja perdido ainda antes de chegar aos consumidores. No entanto, se esse argumento ético não surtir efeito, há ainda outro que tem um apelo muito mais contundente: “A perda de faturamento para as empresas do setor chega a R$ 8 bilhões por ano”, segundo dados da organização Trata Brasil, que também aponta que isso equivale a 80% de tudo o que se investiu em tratamento de água e esgotos no ano de 2013.
A conta pode não fechar no curto prazo, mas investimentos em redução de perdas podem ser amortizados em muito pouco tempo e os recursos extras poderiam servir para alavancar o trabalho de universalização do acesso à água potável e ao saneamento básico em todo o país, como prevê o ODS 6, que também foi ratificado pelo governo brasileiro. (Menos Perda, Mais Água)
* Adriana Leles e Mario Pino são representantes da Sanasa e da Braskem, empresas Championsno Movimento pela Redução de Perdas de Água na Distribuição.