Por Dal Marcondes, da #Envolverde
Estudo realizado por dois anos com algumas das maiores empresas que atuam no Brasil mostra como elas se relacionam com as startups locais
Empreender nem sempre é um caminho pavimentado por rosas, ao contrário, na maior parte das vezes o calçamento é feito de espinhos. No entanto, isso nem sempre é ruim, porque os desafios e obstáculos são parte importante do processo de construção de novas empresas. Ao se superar as “dores do nascimento” startups inovadoras tornam-se visíveis em um novo ecossistema, o dos investidores anjos e empresas que buscam projetos para incorporar aos seus negócios.
Na primeira quinzena de março tomamos contato no Brasil com o estudo How Corporations are Connecting With the Startup Ecosystem (Como as Corporações Estão se Conectando com o Ecossistema de Startup), um projeto inspirado em similares realizados na Harvard Business School e em outras entidades de referência. Segundo Magnus Varassin Arantes, um brasileiro que atua junto à Universidade de Harvard e tornou-se, nos últimos anos, um Investidor Anjo e cofundador do HBS Alumni Angels of Brazil, organização de ex-alunos da Harvard que desde 2012 atuam no fortalecimento do ecossistema de empreendedorismo inovador no Brasil.
O estudo, que foi feito em 2012 e apresentado em São Paulo em 16 de março, aponta que o Brasil, entre as oito maiores economias do mundo naquele ano, estava em último lugar em investimentos em pesquisa, com apenas 1,16% do PIB, enquanto o primeiro lugar era ocupado pela Coreia do Sul, com 4,36% do PIB. Essa posição pode ter caído ainda mais por conta da crise econômica que assola o país desde 2015. Magnus, que é um ativo investidor em startups no Brasil e na América Latina, explica que o investimento em pesquisa é um dos principais geradores de inovação, e que nos países que mais investem a maior parte do esforço vem sendo desenvolvido pela iniciativa privada. “É parte da estratégia de crescimento das empresas buscar novos caminhos para seu negócio a partir da pesquisa e da aquisição de startups promissoras”, explica.
O estudo apresentado teve metodologia baseada em análise qualitativa a partir de um questionário composto por 95 perguntas feitas às grandes empresas participantes. “Nossa metodologia apresenta a capacidade de identificar vários objetivos das empresas no relacionamento com startups, indo além da simples perspectiva financeira”, explica Magnus.
O estudo procurou atuar em três objetivos primários:
1 – Mapear a intensidade de relação entre grandes empresas e startups no Brasil:
2 – Desenvolver um padrão para medir os diferentes estágios de intensidade das corporações;
3 – Identificar arquétipos confiáveis e seus modelos, para guiar empresas nesse ecossistema.
Cinco objetivos mapeados nas empresas na relação com Startups
1 – Financeiro – busca de resultados;
2 – Inovação – Busca de produtos, serviços ou tecnologias;
3 – Cultural – Busca de incorporação de modelos de ação;
4 – Marketing – Marcas e relações externas;
5 – Testar e aprender – Buscar informações e mapeamento de riscos e oportunidades;
Entre os resultados da pesquisa chama a atenção que, em 53% dos casos de incorporação de startups por grandes empresas, a motivação foi estratégica, enquanto em 15% se buscava resolver problemas do negócio e, apenas em 3% dos casos o objetivo era meramente financeiro. Isso mostra que esse ecossistema está mais voltado para a incorporação de inovação do que meramente ampliar faturamento.
A pesquisa é extensa e tem uma avaliação detalhada da relação entre as startups e grandes empresas de diversas áreas e mostra que o aprofundamento na relação entre essas organizações e iniciativas iniciantes podem render bons frutos. “A maioria das empresas somente investe nas startups já em operação e poucas aportam recursos nos primeiros momentos”, explica Magnus. Ele aponta que isso é uma oportunidade perdida pelas empresas que desejam projetos inovadores, uma vez que boas Iniciativas podem não chegar ao amadurecimento, apesar de terem produtos ou serviços absolutamente inovadores, simplesmente por não terem o capital ou a capacidade de gestão necessários.
Uma das lições que fica para as startups brasileiras é que o sonho de empreender não pode estar baseado apenas em uma boa ideia de produto, serviço ou tecnologia. É preciso, segundo apontou Magnus Varassin Arantes em entrevista à Envolverde, ter uma sólida base de gestão, de forma a atrair o interesse de possíveis grandes parceiros a partir de uma posição já reconhecida em seu mercado. Como mostra o quadro acima, a empresa iniciante tem de apresentar um valor estratégico para o possível investidor, ou ao menos ser capaz de resolver um problema inerente ao negócio do grande parceiro.
Outros valores são importantes, mas têm mostrado, segundo o estudo, um interesse apenas moderado por parte dos possíveis interessados. Fica também o alerta de que o ecossistema da inovação entre pequenas empresas carece ainda, no Brasil, de uma sistemática capacidade de reconhecimento pelos principais atores econômicos. “As empresas perdem muito ao não se se adiantarem em investir em projetos promissores”, explica o Magnus, mas alerta que o estudo mostrou que boa parte das iniciativas de parcerias não alcançam os resultados esperados, e que as empresas alegam que há poucas iniciativas que realmente valem o investimento de esforço e recursos para a construção de uma relação de negócios. (#Envolverde)