ODS 3

Milho, plantação em escala industrial com cuidados artesanais

𝗥𝗲𝗶𝗻𝗮𝗹𝗱𝗼 𝗖𝗮𝗻𝘁𝗼 - Na última semana, estive em Goianira e Rio Verde, no estado de Goiás, visitando os campos dourados onde nasce parte daquilo que chega à nossa mesa como cereal matinal, petisco, farinha ou ingrediente oculto em alguma receita industrializada. Ali, entre fileiras de milho balançando ao vento, pude ver de perto o trabalho da Milhão Ingredients, uma empresa que parece ter entendido que produzir alimentos de forma sustentável não é apenas uma necessidade: é um compromisso do bom negócio.

Milho, plantação em escala industrial com cuidados artesanais

Por Reinaldo Canto, da Envolverde

A Milhão, que fornece milho convencional — Non-GMO, ou seja, livre de transgênicos — para empresas como a Kellonova (a gigante global por trás de marcas como Sucrilhos, Pringles e Corn Flakes), não é apenas uma fornecedora de grãos. É uma guardiã de valores que hoje fazem todo o sentido: respeitar a saúde das pessoas e do planeta. Com essa missão, vem conectando inovação, qualidade e responsabilidade em seus produtos.

Luciano Araújo Carneiro, sócio fundador da Milhão, não economiza nas palavras: “Buscar a sustentabilidade é uma obrigação de todos para o futuro de nossos filhos e netos”, disse, enquanto observávamos o campo já colhido. E foi além: “Para o homem do campo, a sustentabilidade já é realidade, como no plantio direto”.

Fiquei bem impressionado com a naturalidade com que práticas antes pouco utilizadas hoje se tornam regra. O uso de fertilizantes naturais e de insumos biológicos, por exemplo, vem substituindo os agrotóxicos convencionais não apenas por consciência ambiental, mas por pura lógica econômica. Menos químicos, solo mais fértil, menos dependência de importações e — veja que interessante — mais lucro no final da safra.

Luciano citou um exemplo que me ficou na cabeça: o esterco suíno, que antes era um resíduo incômodo, virou matéria-prima valorizada. “Aquilo que antes era problema, hoje vale dinheiro”, afirmou. E sobre a cigarrinha, uma das pragas mais temidas do milho? O melhor combate, segundo ele, é com insumo biológico, não com veneno.

Ainda há resistência no campo, é verdade. Há quem prefira manter os velhos hábitos, como quem se apega à enxada mesmo diante de uma colheitadeira moderna ou prefere um veneno para matar uma praga ao invés de usar um insumo natural. Mas como disse Luciano, “é um caminho sem volta o rumo da sustentabilidade no campo”.

E se a Milhão cuida da base, a Kellonova também tem mostrado preocupação com o topo da cadeia. A empresa, que nasceu da divisão da antiga Kellogg Company, vem investindo em práticas sustentáveis em toda sua operação global. Desde a rastreabilidade dos ingredientes até metas para a redução de emissões, a nova fase da Kellonova quer combinar nutrição e consciência. Segundo Ana Paula Cezário, diretora de qualidade e segurança dos alimentos, a empresa possui diversos controles para aquisição de insumos como o milho, “isso garante a qualidade dos nossos produtos antes de chegar a mesa do consumidor”.

Para completar o ecossistema, conheci também um pouco mais sobre o trabalho da Biotech, de Rio Verde, parceira da Milhão, empresa que desenvolve tecnologias em bioinsumos, contribuindo para tornar o campo menos dependente de químicos e mais alinhado com os ciclos naturais da terra. Eles são parte importante dessa revolução silenciosa que está acontecendo debaixo dos nossos pés — literalmente.

Voltei de Goianira com a certeza de que o milho que cresce ali é mais do que alimento: é símbolo de uma mudança de mentalidade. Um grão pequeno, mas com uma história grande. Uma empresa que olha para o futuro sem esquecer do solo que pisa. E um campo que, longe de ser apenas lugar de produção, está se tornando palco de transformação. Pois, nem todo mundo nota, mas às vezes o futuro pode se esconder atrás de uma espiga de milho.

Reinaldo Canto é jornalista, pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Nos últimos 22 anos têm atuado na área da sustentabilidade, cidadania e meio ambiente, foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e assessor de imprensa do Instituto Ethos. Foi também correspondente em conferências internacionais como a COP-15 em Copenhague/2009, Conferência Rio+20, na cidade do Rio de Janeiro, na COP-21, em Paris/2015, na COP-22 em Marrakesh/2016 e no Fórum Mundial da Água em Brasilia/2018. Atualmente é vice-presidente do Instituto Envolverde; Articulista e diretor da Agência e Portal Envolverde e consultor da ONG Iniciativa Verde;

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