Porcos geram energia em cidade paranaense
por Robson Rodrigues – Versão em inglês – Dejetos de 40 mil suínos produzem biogás que gera eletricidade para 72 prédios públicos.
Dejetos de 40 mil suínos produzem biogás que gera eletricidade para 72 prédios públicos. Além de reduzir a conta de energia, o projeto trouxe benefícios ambientais ao município
A pequena cidade de Entre Rios do Oeste, no Paraná, tem menos de 5 mil habitantes, mas a quantidade de resíduos orgânicos produzidos no município é equivalente à de uma cidade de mais de 500 mil pessoas. Toda essa carga poluidora é devido ao tamanho da produção animal de mais de 255 mil suínos.
O que era um o passivo ambiental da principal atividade econômica do município se tornou um ativo energético que está gerando economia e o desenvolvimento regional. Os dejetos de 40 mil desses animais estão sendo transformados em energia elétrica e abastecendo 72 prédios da prefeitura.
Cerca de 215 toneladas por dia de dejetos de 18 propriedades rurais servem de matéria-prima para a produção do biogás, que é usado na geração elétrica. Os dejetos são recolhidos e acondicionados em biodigestores, lá dentro ocorre a decomposição desse material por bactérias, gerando o biometano. A queima do material aciona um gerador que produz eletricidade. O processo gera também um fertilizante natural para as lavouras.
Um dos 18 produtores que integra o projeto é Claudinei Jardel Stein. Ele reduziu a conta de luz pela metade e conta com alegria a eficiência o projeto desenvolvido. “Não somos mais poluidores e o biogás vai se tornar outra fonte de renda”.
Economia e solução ambiental
Segundo o secretário de energias renováveis de Entre Rios do Oeste, Carlos Lewandowski, antes do projeto o gasto médio da conta de luz era de R$ 120 mil reais por mês, agora a prefeitura remunera os produtores pela produção do biogás e economiza até 7% em relação ao que gastava antes do projeto. “Além de gerar energia limpa e renovável, estamos estimulando a economia local”, diz.
O objetivo no futuro é zerar totalmente a conta de energia da prefeitura. A iniciativa completou 1 ano e faz parte de uma chamada pública da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); a Copel Geração e Transmissão investiu R$17 milhões. O Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) foram executores do projeto.
A região do Paraná é uma das maiores produtoras de suínos do Brasil e muitos produtores rurais já faziam o uso de dejetos para a produção de energia. A diferença é que agora o biogás produzido é vendido para a prefeitura, gerando recursos para os produtores, além de resolver o problema ambiental que os dejetos geram, visto que os dejetos sem tratamento acabavam indo parar em rios e mananciais.
Com 480 kilowatts (kW) de potência instalada, a energia produzida na usina é injetada à rede da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Já à prefeitura cabe o pagamento pela energia gerada. Os produtores envolvidos recebem até R$ 6 mil, a depender da quantidade de biogás produzida por cada um.
Medidores nas propriedades mostram a quantidade de biogás produzida e a quantidade de energia injetada na rede de distribuição.
Transição energética
Estudos mostram que o Brasil tem o maior potencial do mundo de biogás. Se todo potencial fosse utilizado, o País poderia suprir 40% da demanda de energia elétrica ou 70% do consumo do diesel. Entretanto, o Brasil utiliza menos de 1% da capacidade.
Na avaliação do presidente do CIBiogás, Rafael González, o biogás, derivado de fontes de resíduos, detém papel importante para a transição energética brasileira.
“Temos por um lado uma forma de tratar resíduos, deixando que os mesmos poluam água e solo, e por outro lado a possibilidade de produzir energia no local de consumo. Trata-se então, de um energético com baixa “pegada de carbono” e ao mesmo tempo reduz a logística necessária para a produção e consumo de energia, além claro, da redução de emissões se comparado a outras fontes”.
Robson Rodrigues é jornalista e formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha como repórter em jornais, revistas e internet em temas relacionados a meio ambiente, energia e desenvolvimento sustentável





