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A agricultura familiar é resiliente e promove a justiça climática

Por Vandria Borari, para a Envolverde – 

O Fórum Global que discute o 8º Pacto de Milão para a política alimentar urbana sediado na cidade do Rio de Janeiro, que acontece entre 17 e 19 de outubro de 2022, traz discussões   sobre as problemáticas e as soluções regionais e globais que possam impactar os sistemas alimentares nos centros urbanos mundo.  O fórum tem como tema principal “ Comida para nutrir a Justiça Climática: soluções alimentares urbanas para um mundo mais justo”. O evento reúne países que são signatários do pacto de Milão, representados por prefeitos das cidades do mundo e organizações não governamentais que promovem a segurança alimentar. 

Durante a mesa de abertura do evento, o Professor Graziano, do Instituto Fome Zero, ressaltou que:

“O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do planeta, no entanto temos voltado ao mapa da fome, isso é uma vergonha global.  E a tecnologia da “revolução verde” com vigor há quase 70 anos no planeta. Embora que seja capaz de fomentar a oferta de alimentos e de baratear a produção de alimentos não foram capazes produzir alimentos saudáveis e nem de evitar uma série de problemas ambientais, sociais, como o desmatamento, a perda da biodiversidade, a degradação do solo, a poluição de água, a escassez de agricultura familiar, a concentração fundiária, os riscos a saúde com a utilização de agrotóxicos. O Brasil também tem a predominância da monocultura, e a falta de diversificação de produção, pode levar a uma monotonia alimentar condicional, que contribui para aprofundar epidemias e obesidade de sobrepeso. ”

Essa tecnologia “ verde” apontada pelo professor Graziano é a monocultura implementada por grandes empresas que fomentam o agronegócio, produção em grande escala que remove as comunidades indígenas e tradicionais de suas terras, que tenta acabar com as práticas milenares de agriculturas dos povos do campo e da floresta, fazem modificação de sementes e utilizam venenos nos alimentos. Produzem alimentos não saudáveis e de baixo valor nutricional. Além disso poluem e monopolizam a água. 

Na região do Baixo- Tapajós em Santarém, Pará, a monocultura é um dos problemas enfrentados por pequenos agricultores, indígenas e quilombolas em seus territórios. O uso de agrotóxico nos campos de soja tem causado a contaminação do solo e das águas, a perda do território e o aumento do desmatamento, pois a floresta primária, a mata virgem dá lugar para os campos infinitos de soja.

Em contraponto a produção em grande escala que afeta corpos e territórios em vários territórios tradicionais, o fórum trouxe iniciativas de resiliência alimentar empregadas em várias cidades dos países no Mundo. A resiliência consiste na valorização e no empoderamento da agricultura orgânica do pequeno agricultor e de base comunitária, que é um caminho para o enfrentamento das mudanças climáticas e a garantia de produção de alimentos saudáveis e com nutrientes.  

Várias inciativas de resiliência alimentar forma apresentadas durante o evento, como as hortas comunitárias, implementação de merenda escolar de produtos orgânicos de pequenos agricultores locais, produção de biogás e materias orgânicos com os reaproveitamentos de materias orgânicos consumidos nas escolas, concurso de mederenderas escolares, consideradas promotoras de reeducação alimentar e mapeamento de pequenos produtores. Mas para falar de justiça climática, também é preciso falar de justiça social. É preciso vontades dos governos para implementar políticas públicas de segurança alimentar aos menos desfavorecidos.

Na Amazônia o processo de resiliência alimentar é milenar. Nós, povos indígenas, há milhares de anos cultivamos alimentos livres de venenos e respeitamos os limites que a floresta nos apresenta.  As mulheres indígenas são as grandes promotoras da agricultura orgânica. No Tapajós Mulheres indígenas promovem a agricultura orgânica com a produção de produtos derivados da mandioca, um alimento que é a base alimentar dos povos da floresta.

*Crédito da Imagem destacada: Foto de Patrícia Kalil

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