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A grande tarefa de salvar a Pequena Martinica

Um muro de contenção de 140 metros de comprimento é parte de um projeto para proteger a Pequena Martinica dos impactos da mudança climática. Foto: Tecla Fontenad/IPS
Um muro de contenção de 140 metros de comprimento é parte de um projeto para proteger a Pequena Martinica dos impactos da mudança climática. Foto: Tecla Fontenad/IPS

 

Sánchez, Pequena Martinica, 10/2/2014 – Sánchez é um pequeno e central distrito comercial em Pequena Martinica, a diminuta ilha que faz parte do Estado de Granada e que corre o risco de ficar ainda menor. Seus menos de 240 hectares estão dominados por terras comunitárias, recreativas, artesanais e industriais, uma junto à outra, e em alguns casos compartilhando o mesmo espaço.

A população local, de aproximadamente 900 pessoas, usa a área da faixa costeira para construir barcos, praticar esportes e outras atividades recreativas e ao ar livre. Mas ao longo das duas últimas décadas a área sofreu uma erosão generalizada. As autoridades dizem que perdeu pelo menos 30 metros em um período de 15 a 20 anos, causando uma destruição severa ao único trecho plano da ilha.

A costa rochosa ao norte da praia se converte em um pequeno arrecife de coral, mas não é suficiente para proteger toda a faixa costeira de correntes e marés. As ondas que chegam do Oceano Atlântico afetam regularmente as costas de Sánchez. Assim, toda areia que se move ao longo da faixa costeira é automaticamente arrasada e se perde o sistema litorâneo.

“Nossas vulnerabilidades diante dos desastres naturais são tremendas, e embora não possamos impedir os desastres, podemos nos centrar em mitigar e criar resiliência contra seus impactos”, disse à IPS o ministro para assuntos das ilhas de Carriacou e Pequena Martinica, Elvin Nimrod.

A erosão expôs as camadas de cinzas brandas, que vão de cor cinza-claro a marrom-claro. Uma preocupação das autoridades é que se a erosão continuar, a estrada que chega até o final do campo recreativo será prejudicada e acabará destruída.

No extremo norte desta área afetada pela erosão, o cabo foi protegido por um muro de contenção. Contudo, alguns de seus setores desmoronaram, e embora nos últimos tempos tenha sido reconstruído, inclusive partes do novo muro também falham agora. Além disso, as pedras blindadas usadas para proteger a muralha são muito pequenas para suportar as ondas, e é provável que isto tenha contribuído para o fracasso desta estrutura.

No entanto, Sánchez finalmente está recebendo ajuda para enfrentar o problema. Trata-se da primeira intervenção em matéria de mudança climática completada dentro do Projeto de Redução dos Riscos para Valores Humanos Naturais Resultantes da Mudança Climática (RRACC). A iniciativa é financiada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e administrado pela secretaria da Organização de Estados do Caribe Oriental (OECS), com sede em Santa Lúcia.

Em 2012, Granada pediu o apoio da secretaria para abordar os problemas da erosão costeira e reduzir os impactos da mudança climática. A iniciativa para Carriacou e Pequena Martinica previa três etapas, apresentando um enfoque exaustivo para abordar esses assuntos com apoio do RRACC.

As obras de restauração costeira em Sánchez foram o primeiro de 11 exemplos de intervenções para a adaptação à mudança climática que seriam feitas no contexto do RRACC, que ajudará a OECS, de nove membros, a criar resiliência diante deste fenômeno e a reduzir a vulnerabilidade diante de seus impactos.

O projeto em Sánchez incluiu a recuperação de terra perdida pelo avanço do mar, bem como a localização de um muro de contenção de 140 metros de comprimento para deter a atual erosão da área de campo de jogos e para proteger a infraestrutura costeira crucial, além da blindagem do cabo ao norte com a construção de outro muro que suporte ondas fortes.

O diretor de desenvolvimento social e sustentável na secretaria da OECS, Bentley Browne, disse à IPS que esses frequentes bombardeios das faixas costeiras causam uma perda significativa de terra fértil e cobertura florestal, incluindo mangues. “Atualmente, os bens costeiros degradam a um ritmo claramente visível sem que sejam feitas medições com ferramentas científicas, e se reconhece que este problema cada vez maior exige medidas imediatas e adequadas de mitigação para reduzir a vulnerabilidade destas ilhas aos impactos da mudança climática”, explicou.

O diretor da OECS acrescentou que pequenos Estados insulares em desenvolvimento como os desta organização podem fazer pouco para frear ou reverter a mudança climática. Portanto, “devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para enfrentar suas consequências”, acrescentou.

“Os impactos sobre as ilhas pequenas são pesquisados  por muitos cientistas e, em geral, espera-se que o aumento do nível do mar cause maiores inundações costeiras e danos às faixas costeiras e à sua infraestrutura, bem como erosão e ameaça aos meios de sustento. Como pessoas que habitamos os pequenos espaços de terra na OECS, isto é particularmente preocupante”, afirmou em cerimônia realizada no final de janeiro por ocasião do encerramento das obras de restauração em Sánchez.

“Como região, reconhecemos os desafios que enfrentamos. Mas não nos dissuadirão ou afastarão de nosso caminho em busca do desenvolvimento sustentável. Nossas intenções nessa matéria estão claramente gravadas em políticas e acordos cruciais que guiam o crescimento e o desenvolvimento de nossa região”, ressaltou Browne.

Browne também assinalou que o Tratado da União Econômica da OECS junto com a Declaração de St. George de Princípios para a Sustentabilidade Ambiental da OECS estabelecem que cada Estado membro deve minimizar sua vulnerabilidade ambiental, melhorar o manejo do meio ambiente e proteger a base de recursos naturais da região, desta forma aumentando sua resiliência diante dos impactos da mudança climática e permitindo contínuos benefícios sociais e econômicos.

Mikell O’Mealy, coordenadora de mudança climática para o Caribe oriental na Usaid-Caribe, disse que o projeto de Sánchez representa “um exemplo brilhante de como a comunidade pode abordar os problemas muito sérios da região em relação à mudança climática”. Segundo ela, quando os arrecifes de coral perdem a cor e morrem, como ocorreu em Pequena Martinica, já não fornecem a crucial proteção à faixa costeira de correntes, ondas e tempestades.

“Aqui, com em muitos lugares da região e do mundo, a perda de arrecifes de coral e de mangues costeiros levou a uma severa erosão costeira, ameaçando infraestrutura comunitária fundamental, como a estrada que liga sua comunidade com o resto da ilha e a central elétrica vizinha a essa via, que abastece a ilha”, detalhou O’Mealy. Acrescentou que o projeto de restauração em Sánchez mostra que a erosão induzida pela mudança climática pode ser abordada de modo efetivo combinando perícia técnica com esforço comunitário forte e colaborador.

O’Mealy disse à IPS que, além deste projeto em Pequena Martinica, a Usaid financia outras dez iniciativas em todo o Caribe oriental, e com o apoio à secretaria da OECS “ajudamos para que todos aprendam uns com os outros sobre o que funciona melhor, o que não funciona tão bem e como se pode intensificar os enfoques de maior êxito em cada país e em toda a região do modo mais rentável”.

“Lamentavelmente, a mudança climática não acabará, e neste ponto sabemos que os impactos vão piorar nos próximos anos. Portanto, devemos continuar testando novos enfoques, aprendendo um com o outro e intensificando o que funciona”, enfatizou. Envolverde/IPS