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Agricultura caribenha busca atrair jovens com as TIC

Kenneth Kerr, meteorologista do Serviço Meteorológico de Trinidad e Tobago, explica como são usados os modelos informáticos para fornecer serviços agrometeorológicos aos agricultores. Foto: Jewel Fraser/IPS
Kenneth Kerr, meteorologista do Serviço Meteorológico de Trinidad e Tobago, explica como são usados os modelos informáticos para fornecer serviços agrometeorológicos aos agricultores. Foto: Jewel Fraser/IPS

 

Paramaribo, Suriname, 29/10/2914 – Um projeto caribenho busca incentivar os agricultores a usarem aplicativos e outras tecnologias da informação e da comunicação (TIC) para melhorar o conhecimento disponível com o qual tomar decisões que beneficiem sua atividade.

Peter Thompson, da Autoridade de Desenvolvimento Agrícola Rural (Rada), disse que se usa cada vez mais o Sistema de Informação Geográfica (SIG) para situar “condições localizadas, pestes e prevalência de enfermidades”. “A tecnologia não agregará valor apenas para nós, mas também para os produtores, pois contarão com a informação necessária”, explicou Thompson à IPS durante a Semana da Agricultura Caribenha (CWA), realizada de 6 a 12 deste mês nesta cidade, capital do Suriname.

Na CWA 2014, foi dada especial atenção no sentido de conseguir melhor integração da tecnologia nas práticas agrícolas diárias. O encontro contou com patrocínio do Centro Técnico para a Cooperação Agrícola e Rural e do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola do Caribe (Cardi).

A Universidade das Índias Ocidentais expôs os aplicativos que os alunos do Departamento de Tecnologia da Informação e Computação criaram dentro do projeto AgriNeTT, em colaboração com a Faculdade de Agricultura e Alimentação e representantes dos produtores. A coordenadora do AgriNeTT, Margaret Bernard, afirmou que “o mais importante é criar sistemas inteligentes dentro da agricultura. Faltam dados e muitos dos modelos construídos não contavam com informação real do terreno”.

Segundo Bernard, “uma grande parte do AgriNeTT consiste em criar um repositório Open Data, especialmente para conter informação da agricultura em escala nacional. Este terá diferentes grupos de dados, desde produção agrícola, passando por preços de matérias-primas e volumes, até dados espaciais do terreno, solo, clima e localização de pestes e enfermidades”.

O objetivo do repositório, explicou Bernard, foi construir uma plataforma que fosse acessível em todo o Caribe. O projeto busca incentivar toda a comunidade agrícola da região a compartilhar o envio de dados, para que “a equipe de programadores possa usá-los de forma criativa e desenhar aplicativos” específicos para o setor. A criação de aplicativos e ferramentas com base em dados ajudará a modernizar a agricultura no Caribe, acrescentou Bernard.

“Armazenamento, agregação, análises, visualização e disseminação de dados são fundamentais para a competitividade da região”, acrescentou Bernard. A especialista tem muitas esperanças no novo aplicativo AgriExpenseTT, que sua equipe criou para ter registros. A ferramenta, que pode ser baixada do Google Play, permite aos agricultores ter um registro dos gastos de mais de um cultivo por vez, rastrear os produtos agrícolas que compram para suas propriedades e saber quanto empregam em cada cultivo.

Os agricultores que optarem por assinar o aplicativo poderão armazenar seus dados, o que permitirá aos pesquisadores “verificar alguns dos modelos de produção, e assim saberemos quanto custa produzir versus quantidade de qualquer cultivo”, acrescentou Bernard.

Outra razão para incentivar o uso das TIC na agricultura é a necessidade de a atividade ser uma opção profissional para os jovens, afirmou o diretor do CTA, Michael Hailu. Uma dimensão importante da agricultura familiar – o tema da CWA deste ano – é o papel que os jovens devem e podem desempenhar no desenvolvimento da agricultura na região.

Como a população dedicada à agricultura é cada vez maior na região, “no CTA fazemos um esforço especial para incentivar os jovens a participarem da agricultura de forma que possam se relacionar, usando novas tecnologias que estão longe de uma imagem tradicional de agricultura, pontuou Hailu.

Para isso o CTA lançou um prêmio para jovens programadores da região, para que criem aplicativos inovadores que atendam os desafios que enfrenta a agricultura no Caribe e fomentem o agronegócio nesse setor da população. Muitos dos aplicativos na competição de Talentos AgriHack da CWA 2014 se concentraram em oferecer aos agricultores informação útil que nem sempre está disponível.

Jason Scott, parte da equipe da Jamaica que ganhou o hackathon agrícola com seu aplicativo Node 420, explicou que “armazenar toda a informação necessária pode ser um verdadeiro problema para os agricultores”. Junto com seu companheiro Orane Edwards, Scott “decidiu desenhar um equipamento capaz de reunir todo tipo de dados que ajude a cultivar, da semeadura à colheita”, afirmou.

“O uso dessas tecnologias em agricultura motiva os jovens”, concorda Thompson, do Rada. “Se você se concentra só em métodos tradicionais, a agricultura poderia falecer de morte natural. Chegam jovens que têm fome de fazer coisas em relação à tecnologia. Temos que ajudá-los”, ressaltou.

Mas Faumuina Tatunai, especialista de mídia da Women and Business Development, uma organização que apoia 600 agricultores em Samoa, disse à IPS que atrair jovens com as TIC é uma alternativa sem futuro. “A realidade é que precisamos de jovens nas propriedades junto com suas famílias. Para isso temos que atraí-los de formas holísticas e as TIC são apenas parte da solução, mas não a única”, apontou.

Tatunai explicou que sua organização busca incentivar o interesse pela agricultura entre os jovens mediante um enfoque centrado na família, bem como incentivar todos os integrantes a aprenderem sobre agricultura e a cultivarem juntos mediante capacitação e outras oportunidades. “Todos na família cultivam, tenha seis ou 70 anos. Nosso enfoque é construir capacidades com a mãe, o pai e os filhos”, enfatizou. Envolverde/IPS