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Mulheres enfrentam desafios ambientais com engenho

Na aldeia de Dakshin Shibpur, localizada no delta de Sundarbans, no Estado indiano de Bengala Ocidental, as mulheres mais pobres e vulneráveis se juntaram e criaram um banco de sementes para ajudá-las a sobreviver nos meses mais difíceis do ano. Foto: Manipadma Jena/IPS
Na aldeia de Dakshin Shibpur, localizada no delta de Sundarbans, no Estado indiano de Bengala Ocidental, as mulheres mais pobres e vulneráveis se juntaram e criaram um banco de sementes para ajudá-las a sobreviver nos meses mais difíceis do ano. Foto: Manipadma Jena/IPS

 

Sundarbans, Índia, 1/12/2014 – Novembro é um mês difícil para as famílias sem terra do delta de Sundarbans, maior floresta de mangues do mundo, localizado no Estado de Bengala Ocidental, na Índia. Há pouco trabalho agrícola e ainda falta um mês para a colheita do arroz, o que eleva os preços ao seu máximo anual. Como se não bastasse, as dívidas com os credores se acumulam a ponto de não ser possível saldá-las.

Não há tranquilidade para Namita Bera, que tem de conseguir 120 quilos de arroz por mês para alimentar sua família de oito pessoas. Mas a situação melhorou desde que ela se uniu a outras 12 mulheres da aldeia de Dakshin Shibpur, na divisão administrativa de Patharpratima, em Bengala Ocidental, para combater a fome. Sem recursos e assoladas pelas alterações climáticas e flutuações dos preços dos alimentos, fizeram o mais lógico: criaram um banco de grãos graças às suas pequenas economias e batizaram seu grupo de ajuda mútua: Mamatamoyi Mahila Dal.

O sistema é simples: cada vez que uma de suas integrantes pode, ela compra 50 quilos de arroz barato para depositar no banco, explicou Chandrani Das, do Centro de Serviços e Comunicação de Pesquisa para o Desenvolvimento, com sede em Kolkata, que supervisiona este tipo de banco. “Pelo menos assim é possível suportar um terço dos 75 dias que dura o período de escassez”, afirmou à IPS Shyamali Bera, uma mulher de 35 anos com três filhos, cujo marido é carregador de batata em um armazém de Kolkata, capital estadual.

Para as famílias pobres, o banco permite tenham pequenas economias a partir de sua magra renda. “Antes, o único dinheiro que tínhamos eram cerca de 10 a 25 rúpias” (US$ 0,16 a US$ 0,40), contou Bera. “Agora temos cerca 100 rúpias (US$ 1,6) e podemos comprar lápis e caderno para nossos filhos irem à escola”, acrescentou. A iniciativa consegue eliminar os empréstimos. Os juros de 5% mensais cobrados, que costumam se converter em 60% ao ano, não pode competir com os 2% estabelecidos pelo grupo de mulheres.

Mas existem outros desafios pela frente.

Designada patrimônio mundial por seu ecossistema único e sua rica biodiversidade, a floresta de Sundarbans é um lugar extremamente vulnerável ao aumento do nível do mar e às tempestades intensas. Metade da área de aproximadamente 9.630 quilômetros é atravessada por uma intrincada rede de cursos de água interligados, que deixam as áreas vulneráveis a inundações nos períodos de fortes chuvas. Cerca de 52 das 102 ilhas que formam o delta são habitadas e concentram aproximadamente 4,5 milhões de pessoas.

A perda da floresta de mangue pelo desmatamento deixou os moradores expostos aos caprichos do mar e dos rios, protegidos por apenas 3.500 quilômetros de uma barreira de terra. Com base em dados do Sistema de Informação Geográfica, o último Informe de Desenvolvimento Humano do governo desse Estado alerta que a elevação do nível do mar nos últimos 70 anos já engoliu cerca de 220 quilômetros quadrados da floresta de Sundarbans.

Além disso, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) na Índia alertou que os exames de dados de 120 anos mostram que houve aumento de 26% na frequência dos ciclones de alta intensidade. Quase 90% das pessoas vivem em choças de barro e palha. O arroz é o principal cultivo, plantado na temporada das monções, de meados de junho a meados de setembro.

A floresta e a pesca oferecem outras fontes de renda, mas, com uma densidade populacional de 1.100 pessoas por quilômetro quadrado, bem acima da média nacional de 382, a pobreza na área também é o dobro. Quando há maré baixa, o rio Gobadia chega a apenas cem metros da barreira de terra na aldeia de Ramganga, onde as integrantes do grupo de autoajuda Nibedita se reuniram para conversar com a IPS.

Várias entrevistadas disseram à IPS que quatro tempestades severas, entre maio e dezembro, é a norma atual. As chuvas duram uma semana, em lugar de dois dias como antes. Quando os ventos de cem quilômetros por hora coincidem com as duas marés altas do dia, as tempestades vencem a barreira, causando invasão da água salgada, destruindo casas e terras baixas cultivadas e deixando a área inundada por cerca de quatro meses.

A autoridade da aldeia prometeu construir um muro de pedra na margem do rio e também colocar pedras na barreira de terra, que fica muito escorregadia, dificultando caminhar próximo a ela, explicaram várias mulheres à IPS. Mas isso não se concretizou, e então as mulheres assumiram o assunto e usaram o dinheiro de suas economias, arrendaram terras e plantaram 960 árvores em pouco mais de 3.700 quilômetros quadrados, com a esperança de deter a erosão.

“Escolheram 16 variedades de plantas que lhes darão lenha, forragem para suas cabras e árvores cujas flores e frutos são comestíveis”, detalhou Animesh Beral, da organização não governamental Indraprastha Srijan Welfare Society, que assessora esse grupo feminino. Nada é desperdiçado. Tudo o que a floresta produz chega às mãos habilidosas das integrantes dessa comunidade.

Na aldeia de Indraprastha, as mulheres cultivam produtos orgânicos em suas diminutas terras de 6.500 metros quadrados, adaptando-se aos desafios que representam o solo, a água e o clima e plantando várias verduras de época, desde folhas verdes e vagem até tubérculos e bananas.

As diminutas hortas lhes garantem alimentos e segurança econômica graças à venda de sementes orgânicas. Também usam os dejetos do gado e das aves como biofertilizantes, que junto com a água reciclada são medidas que lhes permitem obter alimentos da terra cada vez que esta parece lhes voltar as costas. “As organizações felicitam as mulheres de Sundarbans por seu engenho e criatividade para enfrentar as dificuldades de seu entorno, mas outros criticam o governo de Bengala Ocidental por não cuidar de sua população mais vulnerável.

“Quando a própria existência está em jogo, as comunidades insulares naturalmente adaptam-se à sua maneira, mas o governo deve fazer muito mais, opinou à IPS Tushar Kanjilal, de 79 anos, pioneiro no desenvolvimento de Sundarbans, em sua residência de Kolkata. “É urgente formular um plano integral para o desenvolvimento de Sundarbans baseado em dados confiáveis e designar um órgão encarregado do trabalho de desenvolvimento”, acrescentou Kanjila, diretor da não governamental Sociedade Tagore para o Desenvolvimento Rural. Envolverde/IPS