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Bahamas constrói resiliência diante do aumento do nível do mar

Um quebra-mar, como este nas Bahamas, serve para conservar, realizar atividades recreativas e proteger áreas povoadas das ondas e da maré cheia. Foto: Desmond Brown/IPS
Um quebra-mar, como este nas Bahamas, serve para conservar, realizar atividades recreativas e proteger áreas povoadas das ondas e da maré cheia. Foto: Desmond Brown/IPS

Por Desmond Brown, da IPS – 

Nassau, Bahamas, 5/6/2015 – Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento defendem o “1,5 grau para continuarmos vivos”, em alusão à necessidade de a temperatura global precisar ficar o mais possível abaixo desse índice para limitar os antecipados efeitos devastadores da mudança climática nos países mais vulneráveis.

Mas, para as nações do Caribe, o desafio das negociações climáticas é que, mesmo se conseguindo limitar o aquecimento global entre 1,5 e dois graus centígrados, elas sofrerão igualmente as consequências negativas e necessariamente terão que implantar programas de adaptação mais fortes. Nas Bahamas, mesmo que o nível do mar aumente cerca de 1,5 metro, significa que 80% de seu território ficará submerso.

Para ajudar na construção de resiliência frente a esse prognóstico funesto, o Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e a organização não governamental Caribsave concederam às Bahamas um fundo de US$ 100 mil. O pacote econômico integra o projeto Mudança Climática, Empresas Comunitárias Costeiras: Adaptação, Resiliência e Conhecimento (C-ARK), com orçamento total de US$ 2,5 milhões.

A diretora regional da Caribsave, Judi Clarke, disse que as Bahamas foi uma escolha fácil para a ajuda, porque é um dos territórios mais baixos do mundo. “Trabalhamos com o governo do país há quase dez anos em matéria de resiliência à mudança climática e tentando reforçar a resiliência das Bahamas e de seu povo”, informou à IPS.

“Queremos enfrentar os tempos difíceis que ocorrerem em matéria de mudança climática e impacto do aumento do nível do mar, de temperaturas elevadas e degradação ambiental, para procurar reduzir a vulnerabilidade do produto turístico”, explicou a diretora da Caribsave.

Com uma sede regional em Barbados, um escritório na Jamaica e entidades registradas em Santa Lúcia, Granada e em breve na Guiana, o trabalho da Caribsave inclui todo o Caribe. A entidade reúne conhecimento especializado, experiência em gestão de projetos e capacidade de mobilização e inovação com o objetivo de alcançar um futuro sustentável para todos.

O primeiro-ministro das Bahamas, Perry Christie, afirmou que a situação de seu país, e a de outros da região, ganhou um sentido de urgência especial devido ao aumento da acidificação dos oceanos e da temperatura em sua superfície, bem como à elevação do nível do mar. “A região não está totalmente capacitada para se adaptar ou mitigar as perdas e os danos vinculados à mudança climática que sofreremos”, destacou à IPS.

“Isso, e em particular o aumento do nível do mar, mudará de forma irreversível a geografia e a ecologia de muitos Estados e territórios costeiros”, acrescentou Christie. “As consequências podem ser particularmente desastrosas, e causar uma recessão em cada um dos Estados da Caricom (Comunidade do Caribe) por um período significativo, pois nossa infraestrutura, os assentamentos e o bem-estar econômico se concentram em áreas costeiras, propensas a inundações”, ressaltou.

Segundo o primeiro-ministro, “para a região, a mudança climática amplia as crescentes preocupações com segurança alimentar, escassez hídrica, segurança energética e recursos para a proteção diante de desastres naturais”. O fundo econômico para as Bahamas será utilizado em micro, pequenas e médias empresas e em organizações de base em Nova Providência, Abaco e Andros. Espera-se que o fundo tenha impacto em mais de três mil beneficiários diretos e indiretos.

“As Bahamas têm fama de estar à frente nas questões ambientais e de buscar formas sustentáveis para proteger o ambiente”, destacou a diretora do Ministério do Turismo, Joy Jibrilu. “Sabemos que o turismo é o pilar da nossa economia, e cabe a nós garantir a proteção do ambiente não só para usá-lo agora, mas para as próximas gerações. São fundos como esse que permitem, de fato, que exista a atividade”, enfatizou.

As ilhas de Bahamas já sofrem os efeitos da variabilidade e da mudança climática, devido aos danos causados por sistemas climáticos severos e outros eventos extremos, bem como variações mais sutis na temperatura e nas chuvas. O projeto de modelos climáticos detalhados para as Bahamas faz prever aumento da temperatura atmosférica média, menos precipitações anuais, aumento da temperatura da superfície marinha e a potencial elevação na intensidade das tempestades tropicais.

A diretora regional da Caribsave ressaltou que não se trata de a mudança climática ser um motivo de preocupação para o futuro. “Ocorre agora e cada vez há mais cientistas atribuindo eventos climáticos à mudança climática global porque a ciência sustenta essa conclusão”, pontuou Clarke. “Embora os pequenos Estados insulares e costeiros baixos como os do Caribe não sejam responsáveis históricos pelas causas da mudança climática, somos alguns dos mais vulneráveis aos seus impactos negativos”, acrescentou.

“Por essa razão, precisamos nos adaptar e encontrar soluções de longo prazo para os desafios presentes e futuros. E também devemos desempenhar um papel na mitigação do aquecimento global e fazer o possível para reduzir as emissões de gases-estufa. De todo modo, tem sentido do ponto de vista econômico. Em uma região com tanto sol, porque não o usamos mais?”, perguntou Clarke.

Com o atual aumento de 0,8 grau da temperatura, já são sentidas as consequências adversas na erosão costeira, nas inundações, no branqueamento de corais e nos mais frequentes e intensos eventos climáticos extremos.

Clarke destacou que os principais desafios do Caribe têm a ver com o dano econômico e físico derivado de eventos extremos, como furacões e tempestades tropicais, que, se prevê, aumentarão em severidade e frequência devido à mudança climática, e com condições de seca que ocorrem com maior frequência em toda a região. A previsão é de que a tendência continue, o que gera preocupação pelos recursos hídricos e pela produtividade agrícola, acrescentou.

A diretora da Caribsave também lembrou que, embora o aumento do nível do mar pareça simples elevações anuais, as áreas costeiras baixas são vulneráveis ao aumento das tempestades, aumentadas por esse fenômeno. “Grande parte da população e da infraestrutura mais importante fica em áreas costeiras, o que gera grande preocupação. O aumento de tempestades associadas a furacões pode causar a perda de vidas e muito dano físico ao litoral”, ressaltou Clarke.

A Caribsave também prevê distribuir microfundos em outros países da região, como Barbados, Belize e Jamaica. Envolverde/IPS