Por Desmond Brown, da IPS –
Georgetown, Guiana, 12/1/2016 – A busca por fundos para enfrentar o fluxo de recursos necessários para a adaptação à mudança climática e sua mitigação continua sendo um motivo de preocupação para os governantes do Caribe. Os líderes da região afirmam que os países ricos devem seguir à frente da mobilização para encontrar mais fundos para o clima a partir de diversas fontes, e assim evitar que ocorram desastres nos países insulares mais vulneráveis.
Além disso, o secretário-geral da Comunidade do Caribe (Caricom), embaixador Irwin LaRocque, destacou que os compromissos que os países assumem devem ser transparentes. “Espero que os países desenvolvidos honrem os compromissos contraídos para outorgar fundos”, afirmou à IPS. “E me atrevo a dizer que tais compromissos para entregar fundos não devem ficar presos nas manobras burocráticas para se ter acesso a eles”, ressaltou.
LaRocque acrescentou que “também temos o profundo convencimento de que a vulnerabilidade que nossos paísesmostram deveria ser um critério importante para se ter acesso a esses recursos e não a renda por habitante”.
O acordo sobre mudança climática assinado em Paris em dezembro, durante a 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), reconhece a importância de evitar, minimizar e atender as perdas e os danos relacionados com as consequências negativas do aquecimento global, entre as quais se destacam os eventos climáticos extremos.
Como o fenômeno já afeta essa região, o primeiro-ministro de Santa Lúcia, Kenny Anthony, se preocupa porque ainda existe uma brecha entre o discurso dos dirigentes políticos e o que a população acredita. “Há muita gente no Caribe que ainda não compreendeu o perigo que essas ilhas devem enfrentar”, ressaltou.
Segundo Anthony, “é verdade que sofreram eventos climáticos adversos mas não traduziram essa experiência na compreensão de que existe uma mudança neles e nos padrões climáticos devido a fatores relacionados com o clima, por essa razão devemos traduzir isso para a população”.
“Porém, há um sinal de esperança, na forma como os jovens e os artistas do Caribe se reúnem para nos ajudar a consolidar nossa posição e dar forma à nossa perspectiva. Nunca antes vi uma associação tão sólida entre sociedade civil e governos. Esse assunto nos uniu”, destacou o primeiro-ministro.
O embaixador Albert Ramdin, assessor do Ministério das Relações Exteriores do Suriname, apontou que é preciso melhorar a comunicação para reduzir a brecha à qual se referiu o primeiro-ministro Anthony. “Necessitamos nos comunicar melhor com as pessoas, com nossa população, sobre o impacto da mudança climática. Não pode ser um assunto alheio às nossas vidas”, disse à IPS, ressaltando que “é preciso transmitir-lhes que se trata de suas vidas e seu futuro. A comunicação em escala nacional é muito importante”.
As projeções detalhadas de modelos climáticos parao Caribe preveem aumento da temperatura atmosférica média, bem como da temperatura da superfície do mar, menores precipitações anuais e a possibilidade de maior intensidade das tempestades tropicais.A mudança climática supõe uma grave ameaça para os países do Caribe, apesar de sua contribuição para as emissões globais de gases-estufa ser muito baixa. Por seu tamanho e sua localização geográfica, os Estados insulares dessa região são especialmente suscetíveis aos impactos do aquecimento global.
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as economias em desenvolvimento dependem de vários setores que são vulneráveis ao clima, como turismo, agricultura e pesca.As nações caribenhas serão prejudicadas pelo contínuo aumento do nível do mar, pelas mudanças nos ciclos de chuva e na temperatura, e pela crescente variabilidade climática e dos desastres naturais destacados pelo Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre o Clima (IPCC).
O custo dessa falta de ação poderia ser muito elevado no Caribe. As projeções mostram que as perdas poderiam chegar a US$ 22 bilhões ao ano até 2050, cerca de 10% da economia atual do Caribe, alertou o BID. O banco destaca que os recursos para a mudança climática poderiam ajudar a região a reduzir sua dependência dos combustíveis fósseis, expor a variabilidade de preços e mitigar o aquecimento global. Envolverde/IPS