Por Arie Halpern*
O ativista e estudioso da questão ambiental Bill McKibben concluiu, num artigo para a The New Yorker (“Power to the People”), que os Borkowski, da cidade americana de Ruthland, diminuíram em 88% as emissões domésticas de CO2 depois de adotar a energia solar. Ao mesmo tempo, reduziram a conta de luz. E a mágica disruptiva ainda fez com que, de simples consumidores, eles se tornassem produtores, fornecendo a energia sobressalente à rede de abastecimento.
A decisão deu ainda, à família Borkowski, a grata sensação de que está dando a resposta certa a uma questão que preocupa o mundo. De fato, a sociedade está diante de dois imperativos. Um, explorar novas fontes de energia para atender a um consumo quase insaciável por eletricidade. Outro, evitar o aquecimento global, para conservar as condições de habitabilidade do planeta.
A consciência de que esse cenário é dramático tem estimulado o uso crescente da energia solar fotovoltaica. A consultoria McKinsey calcula em 50% ao ano o crescimento global no número de instalações, desde 2006. Ainda assim, o total da energia gerada representa uma parcela mínima do consumo total. É uma pulguinha, mas é uma pulguinha que está atrás da orelha das grandes corporações do setor de energia elétrica. Isso não será amanhã, mas pode-se vislumbrar uma situação em que boa parte da geração de energia seja distribuída e não centralizada. É uma fenda na barragem de um mercado em que predomina o monopólio, em que o cidadão tem a opção de comprar energia da concessionária local ou ficar no escuro.
A reação das distribuidoras norte-americanas a esse processo de disruptura, segundo McKibben, tem sido dúbia. Algumas facilitam a vida de quem quer instalar placas solares, outras tentam plantar leis para criar dificuldades.
Em nenhum lugar do mundo espera-se encontrar uma resposta única para atender à enorme demanda por energia. Certamente, vamos ter sempre de extraí-la de diversas fontes. De qualquer modo, investir em energia solar é parte da resposta. E uma das opções mais inteligentes e promissoras.
No Brasil, estima-se que o consumo per capita de energia vai triplicar até 2050. No planejamento de longo prazo do setor, liderado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a energia solar mereceu um capítulo à parte. A porção que ela terá na matriz energética brasileira é uma incógnita assumida pelos técnicos da EPE. Segundo eles, sem fazer muito esforço, a geração fotovoltaica distribuída chegará a cerca de 6% do total do sistema nacional em 2050. Se for estimulada por novas políticas, garantem, pode ir a 9%.
A velocidade dessa mudança e o tamanho da contribuição da energia solar para a matriz dependem da ousadia nas políticas. Já há um programa de geração distribuída que prevê a compra, pelas distribuidoras, da sobra de energia de autoprodutores, o que inclui a energia gerada nas residências. Boa política, também, foi tornar obrigatória a instalação de sistemas de aquecimento solar da água nos imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida. Mas vale a pena ir além. Por exemplo, com normas para que projetos de novas edificações incluam o aproveitamento da energia solar; ou com medidas para este seja implantado nos edifícios públicos.
Correndo por dentro, as empresas de energia solar investem no aperfeiçoamento tecnológico para aumentar a eficiência do sistema de captação e geração e reduzir preços. Uma das mais badaladas do setor, a SolarCity proclamou há pouco tempo que suas placas atingiram um aproveitamento de 22% da energia captada – o que lhe permite gerar 30-40% mais energia por metro quadrado.
Os avanços tecnológicos são importantes para colocar a energia fotovoltaica em condições de paridade de preço com a energia oferecida pela rede. No Brasil, essa paridade deve ocorrer por volta de 2020, pelas estimativas da EPE. Até lá, torna-se mais necessária a ação do Estado, por meio de políticas e incentivos.
Sobretudo, é fundamental que se facilite o financiamento para consumidores interessados. Por exemplo, oferecendo linhas crédito, com juros baixos, como as que existem para financiar a compra caminhões, máquinas ou casas populares. Ou, por outro caminho, estimulando os sistemas de leasing, em que o consumidor paga pelo equipamento instalado um pequeno aluguel na conta mensal de energia. Com medidas bem desenhadas, mais consumidores se sentirão atraídos para o novo sistema e poderão abraçar a boa causa. (#Envolverde)
*Arie Halpern é diretor da Gauzy Technologies e autor do blog Disruptivas e Conectadas.