Internacional

Projeção de crescimento global em baixa

Trabalhadores confeccionam camisetas para a transnacional Hanes, em uma fábrica da zona franca de Codevi, em Ouanaminthe, no Haiti. Foto: Jude Stanley Roy/IPS
Trabalhadores confeccionam camisetas para a transnacional Hanes, em uma fábrica da zona franca de Codevi, em Ouanaminthe, no Haiti. Foto: Jude Stanley Roy/IPS

por Valentina Ieri, da IPS –

Nações Unidas, 9/6/2016 – As projeções de crescimento econômico global para este ano se ajustaram à baixa, ficando em 2,4% aquém da estimativa de 2,9% em janeiro, informou, no dia 7, o Banco Mundial. O lento crescimento das economias avançadas mais a prolongada queda de preços dos produtos básicos, o debilitado comércio global e o reduzido fluxo de capitais, contribuem para diminuir o avanço da economia global, segundo o informe anual Perspectivas Econômicas Globais.

“Os mercados emergentes (exportadores de produtos básicos) e as economias em desenvolvimento representam cerca de metade das projeções revisadas para baixo”, porque têm problemas para se adaptar ao baixo preço do petróleo e de outros produtos estratégicos, além de um complicado contexto externo, que dificulta seu crescimento, apontou Ayhan Kose, diretor de Perspectivas Econômicas para o Desenvolvimento do Banco Mundial, na sede da ONU.

O decepcionante crescimento projetado para os países emergentes e em desenvolvimento se mantém em 2016, com crescimento acumulado que giraria em torno de 3,5%, pouco acima do piso alcançado após a crise de 2015, afirmou Kose. Mas o informe diferencia claramente as economias em desenvolvimento e/ou mercados emergentes que exportam produtos básicos dos que os importam.

Por um lado, prognostica que os mercados emergentes exportadores de matérias-primas crescerão apenas 0,4%, bem abaixo do 1,6% projetado em janeiro deste ano, detalhou Kose. Por outro lado, os mercados emergentes importadores de matéria-prima cresceriam 5,8% este ano, se beneficiando do preço mais baixo das matérias-primas e aproveitando a modesta recuperação das economias avançadas, cujo crescimento é projetado em 1,7% ao ano.

“Enquanto as economias avançadas custam a ganhar impulso, a maioria das localizadas na Ásia meridional e na Ásia Pacífico cresce a passo firme, como as emergentes importadoras de matérias-primas”, destacou o vice-presidente do Banco Mundial e economista-chefe, Kaushik Basu. No tocante às grandes economias emergentes, os dados do Banco Mundial indicam que a China crescerá 6,7%, uma leve queda em relação aos 6,9% registrados no ano passado.

O crescimento da Índia permaneceria estável em 7,6%, seguido de África do Sul com 0,6%. Brasil e Rússia continuarão com uma recessão mais profunda do que a projetada em janeiro deste ano. Porém, segundo Kose, a economia global deverá enfrentar muitos outros riscos. Além da lenta recuperação das economias avançadas, a queda dos preços dos produtos básicos e os reduzidos investimentos, há uma acentuada desaceleração econômica nas grandes economias, riscos geopolíticos, políticas fiscais e monetárias limitadas, que também afetam a prosperidade global.

“A erosão de confiança na eficácia das políticas também pode significar um retrocesso no crescimento global e gerar turbulência nos mercados financeiros, com consequências significativas para as economias emergentes e em desenvolvimento”, opinou Kose. “O crescente endividamento do setor privado se tornou uma importante fonte de vulnerabilidade em alguns países emergentes e em desenvolvimento”, acrescentou.

Em muitas economias emergentes, o espaço para as políticas fiscais continua sendo bastante limitado, especialmente nos mercados exportadores de matérias-primas, onde a renda fiscal diminuiu, explicou Kose à IPS. “Nas economias em desenvolvimento e emergentes importadoras de produtos básicos, embora os preços menores tenham reduzido a inflação e a vulnerabilidade externa e fiscal, o espaço para ampliar a política fiscal continua sendo reduzido, pois requer um delicado equilíbrio entre o gasto e a renda que contribuem para a atividade.

Em termos de políticas monetárias, se mantém a diferença entre importadores e exportadores de matérias-primas. Os mercados exportadores, afetados pela inflação, são obrigados a adotar políticas monetárias de contração para aumentar as taxas de juros e estabilizar os preços e a taxa de câmbio. Por outro lado, alguns mercados importadores puderam reduzir suas taxas de juros para apoiar o crescimento econômico.

A China, por exemplo, é a maior economia emergente com possibilidades de incidir em outros mercados emergentes, especialmente nos exportadores de matérias-primas. Apesar da lentidão atual da economia, o governo a administra para evitar um grande golpe econômico, segundo Kose.

O gigante asiático “tem espaço necessário em sua política monetária e fiscal para mitigar os riscos que surgirem no âmbito doméstico e também no externo. Os responsáveis políticos fizeram o correto ao adotarem medidas para estabilizar a atividade econômica, pois esperamos que a lentidão continue”, acrescentou o economista. Envolverde/IPS