Por Júlio Ottoboni*
O Corredor Ecológico de São José dos Campos, uma organização não governamental, apresentou na última semana de agosto seu primeiro grande plantio de árvores nativas na zona rural do município. O Sítio São João, com uma área de um hectare, recebeu mais de 2,8 mil mudas entre frutíferas e de sombreamento. A propriedade particular fica na zona norte, região com um dos maiores índices de degradação ambiental e com um grande número de nascentes.
A coordenadora do Corredor Ecológico, Tatiana Motta, explicou que existe um trabalho de prospecção de áreas com potencial para recuperar a vegetação nativa, nascentes, ribeirões e com isso criar uma extensa ligação entre fragmentos de floresta que ainda resistem no território do município. Somente nesta região a intenção é reconectar mais de 100 áreas de mata.
“Recebemos no ano passado um aporte financeiro da American Forest e Alcoa Foundation, pelo Programa Global ReLeaf. Com isso realizamos o plantio em uma propriedade na zona rural de São José dos Campos e agora, quase 1 ano depois do plantio e muito trabalho fomos apresentar os resultados aos voluntários da Alcoa São Paulo, da Concessionária Tamoios e alguns convidados, para que possam conhecer de perto nossa ação”, informou Tatiana.
O sítio foi adquirido há sete anos pelo pequeno pecuarista Manoel Nunes, que passou a utilizar a área para gado de corte, apesar do local ter um relevo muito íngreme já que se encontra nas primeiras formações do contraforte da Serra da Mantiqueira. Como tinha uma nascente de água, que faz parte da bacia do Rio Buquira, um dos principais afluentes do Paraíba do Sul no trecho paulista, foi convencido a explorar de maneira diferenciada sua área e abrir espaço para o plantio da mata original.
“No começo eu fiquei preocupado com a perda da área de pastagem, onde foi plantado essas mudas era só capim para o gado. A maior produção de água vai compensar essa área, agora é fiscalizar para não morrer essa árvores. Estou aguardando para ver o resultado deste plantio”, comentou o agricultor e dono do sítio.
O assessor da presidência da Concessionaria Tamoios, Marcos Elia, acompanhou todo o detalhamento técnico exposto pela equipe de engenheiros ambientais do Corredor. A empresa é responsável pelas ampliações na Rodovia dos Tamoios e neste processo foram suprimidas 50 mil árvores no novo trajeto, que passa pelo Parque Estadual da Serra do Mar. Entretanto já se prepara para um dos maiores incrementos florestais da história do Vale do Paraíba.
“Aqui foi um rápido plantio com um teste para nossa futura ação, iremos plantar 420 mil mudas nos próximos dois anos. Mas esse ensaio foi muito positivo”, argumentou o executivo Elia.
O Instituto Alcoa, sediado no Brasil, contou com as bem sucedidas experiências da Alcoa Foundation, que atua em diversas partes do mundo em programas ambientais e de sustentabilidade. A gerente de projetos do instituto, Tatiana Bizzi, salientou que esse foi o primeiro projeto com o Corredor Ecológico e os resultados foram muito bons. “Já temos um segundo projeto aprovado para o próximo ano para novos plantios com parceiros”, comentou.
O investimento em recuperação e no plantio de florestas de perfil vegetal nativo vem ocorrendo desde 2010. Neste período as antigas cavas de areia situadas no Campus Urbanova da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), onde o Corredor Ecológico está instalado no núcleo da incubadora tecnológica, foram feito o plantio de árvores e a recomposição de cenário natural.
Além de melhorar acentuadamente as condições microclimáticas, o assoreamento das lagoas que ficam próximas ao Rio Paraíba do Sul foi estancado e houve uma surpreendente melhora e diversidade nas condições de sobrevivência e diversificação da fauna local. (#Envolverde)
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente. É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.