por Caroline Ligório, especial para a Envolverde –
Nações que podem desaparecer ganham destaque na COP 23
As atenções estarão voltadas para os pequenos estados insulares em desenvolvimento (SIDS) nos dias 6 a 17 de novembro em Bonn na Alemanha. A 23ª Conferência das Partes organizada pela Secretaria das Nações Unidas para Mudanças Climáticas com o apoio da Alemanha será presidida pelo primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama.
Frank Bainimarama será responsável por demonstrar ao mundo a urgência de se impedir o avanço do aquecimento global, o aumento das temperaturas e as consequências naturais que colocam em risco a sobrevivência das populações e a existência desses Estados. O degelo das geleiras e o aumento do nível do mar, estimado em 28cm a 89cm, causará num futuro próximo (até 2100) o desaparecimento do país que está apenas 5 metros a cima do nível do mar.
A crescente intensidade dos ciclones, inundações, secas e o aumento do nível do mar provocam catástrofes e perdas irreparáveis. As nações vulneráveis não possuem capacidade e recursos para atender suficiente e adequadamente a soma dos desafios. Os Estados com menor contribuição para as mudanças climáticas são aqueles que há anos pagam essa conta.
Os eventos climáticos extremos ameaçam e prejudicam a terra, a agricultura, os alimentos, a água potável e a economia, de países como: Ilhas Cook, Fiji, Kiribati, Ilhas Marshall, Estados Federados da Micronésia, Nauru, Niue, Palau, Papua Nova Guiné, Samoa, Ilhas Salomão, Timor-Leste, Tokelau, Tonga, Tuvalu e Vanuatu.
O primeiro-ministro de Fiji será o porta voz dessa luta representando as demais regiões insulares, que podem desaparecer do mapa em poucos anos e todos os 7,5 bilhões de seres humanos. Logo, a implementação do Acordo de Mudança Climática de Paris é uma questão de sobrevivência.
As Ilhas Fiji no Pacífico foi o primeiro país a ratificar o Acordo de Paris. Em 2014, uma comunidade de 30 famílias foi realocada com o avanço do nível do mar. Ao mesmo tempo em que é afetada, Fiji também recebe refugiados climáticos vindos de outras localidades, como Kiribati. Em 2016, a passagem do ciclone Winston com ventos de 230 km/h e rajadas de 325km/h deixou 5 mortos, muita destruição nas cidades e a população sem acesso à água potável.
94% das famílias de Kiribati foram impactadas por riscos naturais nos últimos 10 anos, sendo que 81% foram afetados pelo aumento do nível do mar, que sobe em média 1,2 centímetros por ano – 4 vezes mais rápido do que a média mundial.
Em 2015, Tuvalu sofreu com a passagem do ciclone Pam uma tempestade de categoria 5 que matou pelo menos 15 pessoas e deixou US$ 360 milhões em prejuízos. Perdas com as plantações e alimentos também tem prejudicado o estilo de vida da população e tornado ainda mais inviável a sobrevivência no país que há anos corre contra o tempo para impedir o decreto de seu fim.
O aumento do nível do mar (76% dos inquiridos), a invasão de água salgada (74%), a seca (72%) e as inundações (71%) são os fatores ambientais mais prováveis de desencadearem a migração futura. Enquanto 97% dos domicílios pesquisados em Tuvalu relataram terem sido afetados por riscos naturais entre 2005 e 2015, apenas 53% das pessoas perceberam que poderiam pagar a migração no futuro.
O esforço em lutar pela causa teve início em 1997 na conferência que resultou no Protocolo de Kyoto. O primeiro-ministro Koloa Talakae na ocasião pediu aos países ações imediatas quanto ao aquecimento global. Em 2003, Saufatu Sopoanga na Assembleia Geral da ONU destacou o medo do país diante dos impactos adversos da mudança climática. Em 2009, Ian Fry reforçou o apelo na COP 15 ao implorar aos 192 países participantes um acordo legal que fosse mais restritivo do que o Protocolo de Kyoto.
Os estados insulares em desenvolvimento deixam, portanto, de estar presentes apenas nos roteiro turísticos e passam a ter voz no debate e ser um dos principais assuntos na COP 23. (Envolverde)