por Vanessa Brito, do Centro Sebrae de Sustentabilidade –
CUIABÁ – Estamos vivendo a passagem para uma nova era, consequência de uma enorme revolução tecnológica, que somada ao conceito de sustentabilidade, significam um salto histórico e civilizatório comparável `a descoberta da técnica, enquanto ferramenta e arma, pelo homo sapiens. A internet e as redes digitais modificaram o conceito da comunicação para sempre. Hoje, comunicação não é mais como dizia a velha definição, baseada em emissor e receptor e mensagens, produzidas por jornalistas e meios de comunicação.
Desde o advento das redes digitais e aplicativos, que não param de evoluir, todos nós nos tornamos emissores e receptores de informações e conhecimento via muitas redes que se interconectam. Para intervir na realidade, é necessário estar conectado e ter acesso a dados/ informações que também estão nas redes. De agora em diante, precisamos de inteligência artificial, pois o volume de dados é imenso, estão armazenados na nuvem e chegamos ao tempo em que robôs já estão nos ajudando a decifrar o mundo em que vivemos. Não é ficção científica, já é realidade. Temos dados sobre tudo, praticamente não é preciso construir hipóteses para produzir conhecimento.
Nada será como antes: negócios, relacionamentos, produção de conhecimento, percepção do mundo, da sociedade, da natureza, do espaço, das galáxias, enfim, tudo. Estas são algumas conclusões, que se pode chegar, ao assistir a palestra proferida pelo professor e pesquisador italiano Massimo di Felice na abertura do 6º Fórum Sebrae de Sustentabilidade, no dia 9 de novembro, em Cuiabá (MT). O professor falou para 35 gestores e membros integrantes da governança do Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS), unidade de referência nacional do Sistema Sebrae no tema, responsável por estimular e produzir conhecimento para que os pequenos negócios ingressem na economia em transição.
Para ele, a ecologia, a questão do aquecimento global e as transformações tecnológicas geradas pela revolução digital estão ditando tudo que está acontecendo e porvir, nas próximas décadas. O mundo e a humanidade estarão mais ligados à vida como um todo, seremos cidadãos de galáxias e não só de cidades, territórios ou países.
“Tudo isso tem a ver com o empreendedorismo e tipos de negócios sustentáveis. Esta é a nova forma de pensar a economia e os negócios. Empreendedorismo não é processo individual e econômico, será cada vez mais em redes, todos conectados”, previu. A humanidade é composta por sócios, como ocorre em comunidades indígenas e de povos antigos, muito mais sofisticadas do que a sociedade pós-industrial, descrita por pensadores dos séculos XIX e XX. O lucro irá remunerar os serviços da natureza (não-humanos), profissionais, escolas capazes de formar cidadãos do futuro.
Palestrante
Massimo é doutor em Ciências da Comunicação pela USP e pós-doutor em Sociologia pela Universidade Paris Descartes V. Nos últimos anos, suas pesquisas vêm aprofundando o estudo das redes complexas em três dimensões. Ele realizou pesquisa internacional sobre o net-ativismo, com apoio da Fapesp e gerou diversos artigos internacionais e a publicação de livros: A terceira dimensão; Estudo sobre o comum digital e a superação da ideia humano-técnica e industrial da comunicação. Atualmente trabalha no Centro Internacional de Pesquisa da USP e ministra aulas em universidades da Itália, França e Portugal.
Global e local
“Hoje, não habitamos um território físico, mas uma ecologia. Todo processo de negócio é ecológico, não é apenas econômico, porque gera impacto, precisa de dados e inovação”, afirmou Massimo. De acordo com ele, no momento, para abrir um negócio basta estar conectado às redes, onde se pode, também, obter as informações necessárias para montar o empreendimento e, ainda, se estabelecer no mercado e começar a vender, ter lucro, gerar emprego, cuidar do meio ambiente, interagir com a comunidade, cuidar do planeta e ser feliz.
Segundo ele, a evolução da tecnologia digital, que hoje abrange redes complexas em três dimensões, somada ao conceito da sustentabilidade, geram vantagens especialmente para empreendimentos locais, que podem atuar em nível global, se desejarem. “Estamos acostumados com o pensamento dialético e colocamos o global contra o local: ou é um ou outro. Agora, o local é global, e o global é local”, justificou. Graças a revolução digital.
Clube de Roma 50 anos
Massimo acaba de chegar de Roma, onde participava do ciclo de seminários ‘Tecnologia para a Sustentabilidade’. Ele informou que, no próximo ano, será comemorado, na capital italiana, os 50 anos da fundação do Clube de Roma (1968), que reunia cientistas, economistas, estudiosos e especialistas de vários países e realizou os primeiros debates sobre a crise do desenvolvimento.
Foi a partir desse evento, que se iniciaram os encontros, documentos e protocolos a respeito dos sinais de esgotamento dos recursos naturais, em decorrência do tipo de desenvolvimento praticado, especialmente no mundo ocidental. Depois, ocorreram: a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, criado pela Assembleia das Nações Unidas (1983); a publicação do Relatório “Os Limites do Crescimento”(1987); a Conferência de Estocolmo (1972); a Conferencia sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Rio 92 – criação da Agenda 21/ Fórum das ONG’s – compromissos da sociedade civil com a Educação Ambiental e o Meio Ambiente (1992); entre outros eventos e debates da ONU em diferentes países. (www.massimodifelice.net ) (CSS/Envolverde)