ODS8

Em meio à instabilidade econômica, empresas persistem e priorizam área de sustentabilidade

por Caroline Ligório, especial para a Envolverde – 

A temática da sustentabilidade tem sido incorporada cada vez mais aos negócios empresarias. Empresas se comprometem em desenvolver modos de produção sustentável, levam em consideração toda a cadeia produtiva e envolvem seus fornecedores e consumidores. Áreas específicas e especializadas são desenvolvidas para que o compromisso seja de fato posto em prática e que os Objetivos de Desenvolvimento Humano constituem de fato a visão estratégica de gestão.

Nos últimos anos, porém, depararam-se com a instabilidade econômica. Em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 3,8% sobre o ano anterior, já em 2016 o recuo foi 3,5% em relação ao ano anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa recessão foi considerada a maior da história recente do país. Em 2016, o setor da agropecuária recuou 6,6%, a indústria 3,8% e os serviços 2,7%. Em 2015, o Brasil viu a taxa de inflação alcançar 10,67%, o maior valor desde 2002, e a taxa de desocupação chegar a 8,5%, subindo para 11,5% em 2016 e 12,7% em 2017, a maior da série histórica do IBGE.

Em meio a este cenário, empresas como a Ambev, C&A e Alphaville Urbanismo não deixaram de fortalecer o pilar da sustentabilidade e mantiveram os investimentos em ações para o meio ambiente que refletiram em resultados perceptíveis. Em 2017, a cervejaria Ambev anunciou o cumprimento das metas definidas em 2013 conquistadas por meio de ações como adoção de tecnologias de reutilização de efluentes, substituição de refrigeradores por modelos mais ecológicos, medidas de proteção de mananciais e a diversificação da matriz energética, privilegiando o aumento de fontes limpas. Para colocar tais medidas em prática a empresa investiu R$ 1 bilhão nesses projetos.

Ambev

Sendo a água sua principal matéria-prima e também um recurso essencial para o planeta e para a comunidade, foi dado um olhar especial para este recurso renovável. “Acreditamos que quando tiramos menos do planeta e mais da nossa capacidade, conseguimos ir mais longe. Por isso, há mais de 20 anos, temos ações para a preservação e o uso consciente da água. Construímos um sistema de gestão hídrico eficiente e alcançamos ótimos índices internos, mas não podemos pensar em ações só dentro de casa. Nosso foco está nas ações que transcendem nossos muros e nosso mercado, e que têm potencial para transformar o dia a dia das pessoas”. Filipe Barolo, gerente de Sustentabilidade da Cervejaria Ambev, explica a ideia que motivou diversas ações relacionadas à água.

O sistema de gestão hídrico eficiente, mencionado por Barolo, permitiu a redução de 45% do volume de água utilizado para cada litro de bebida produzido. Em parceria com organizações como a The Nature Conservancy e a WWF criaram o Projeto Bacias, para preservação e recuperação de bacias hidrográficas no Brasil. Por meio da plataforma online Saveh (Sistema de Autoavaliação da Eficiência Hídrica) ajuda outras empresas a economizarem água em seus processos.

Diante da triste realidade brasileira de mais de 30 milhões de pessoas sem acesso à água potável, a Ambev deu vida ao Projeto da água AMA, o qual beneficia mais de 14 mil pessoas que vivem em 20 comunidades no Ceará, Pernambuco, Bahia e Piaui. Com o apoio da Yunus Social Business, a AMA foi criada com o intuito de reverter todo seu lucro para a construção de projetos que levam água às comunidades rurais dentro da região do semiárido em área de escassez hídrica, com IDH baixo e abertas para receber recursos da forma proposta pelo projeto, o que inclui compromissos sociais e ambientais.

O sistema de captação de água de cada comunidade atende a necessidade de cada uma delas. Dentre os projetos realizados estão a construção de poço profundo ou adutora, instalação de hidrômetros para evitar o desperdício em comunidades que já possuem sistema de captação, e até mesmo instalação de placas solares para geração de energia limpa em regiões com sol abundante.

Os investimentos na área de sustentabilidade da cervejaria Ambev abrangem todo o ciclo de vida do produto. Portanto, inclui também a venda e reciclagem de subprodutos e uso de material reciclado. Filipe Barolo, gerente de Sustentabilidade, evidencia a importância de se considerar todo o ciclo de vida. “Estamos comprometidos em construir um legado sustentável e, para isso, precisamos pensar em todo o ciclo de vida dos nossos produtos, desde a utilização de recursos naturais como matérias-primas, passando pela eficiência dos processos produtivos e também a destinação dos resíduos da produção. Entendemos que é nosso papel fazer parte da solução, e não medimos esforços para atingir esses objetivos”.

Em 2017, 99,3% dos subprodutos da produção da cervejaria Ambev foram reciclados e parte deles gerou uma receita incremental na ordem de R$ 120 milhões. Nos últimos anos 10 anos, esse valor cresceu cerca de 80%. A parceria com empresas que reutilizam os resíduos nas suas produções reduz o descarte no ambiente. O bagaço do malte e o fermento residual viram ração animal, enquanto a terra infusória que seria descartada é utilizada como matéria-prima na fabricação de tijolos e o lodo proveniente das estações de tratamento de efluentes vira adubo orgânico.

Quanto as garrafas, principal recipiente de armazenamento, em 2012, a Ambev foi pioneira ao produzir a primeira garrafa PET feita com material 100% reciclado. Atualmente, a embalagem é usada em mais de 56% das garrafas PET de Guaraná Antarctica. A medida fez com que a empresa deixasse de produzir 1.9 bilhão de novas garrafas plásticas, o que evitou o uso de cerca de 94 mil toneladas de material virgem, o que equivale ao lixo gerado por mais de 245 mil pessoas em um ano. Além das embalagens de Guaraná Antarctica, 100% das latinhas de Fusion Energy Drink são fabricadas com material reciclado e, no caso de Soda Limonada, a taxa é maior do que 50%.

Para 2025, a meta da empresa é ter 100% dos produtos em embalagens retornáveis ou que sejam majoritariamente feitos de conteúdo reciclado. Atualmente, cerca de 33% da produção total de PET da Cervejaria Ambev é feita com material reciclado. Desde 2012, esse número cresceu 725%. A produção dessa nova embalagem traz diversos benefícios ao meio ambiente, como a liberação de 30m³ em aterro sanitário para cada cinco toneladas de PET que deixam de ser descartadas no lixo. Além disso, a fabricação dessa garrafa consome 70% menos energia e 20% menos água em comparação à que utiliza resina virgem.

Alphaville Urbanismo

Assim como a Ambev, a Alphaville Urbanismo, empresa do setor da construção civil, por meio da Fundação Alphaville, investe há 18 anos em projetos que beneficiam comunidades nas áreas de influência dos empreendimentos da Alphaville Urbanismo. Ao longo desse tempo, foram 240 projetos realizados em 23 estados brasileiros tendo como premissa desenvolvimento de ideais e soluções inovadoras para estimular o protagonismo social, por meio da construção coletiva, da inclusão socioeconômica e da educação para a sustentabilidade, a fim de contribuir com o desenvolvimento de territórios mais resilientes.

É por meio do trabalho coletivo e da convivência que a Fundação acredita ser possível identificar as necessidades particulares. Por meio de parcerias com órgãos públicos e privados e fortalecimento das habilidades das comunidades locais, os projetos são traçados com foco na perpetuidade. O recurso destinado para início da implantação do projeto é feito a partir de uma doação da empresa mantenedora à fundação (chamado de valor-semente), e a própria comunidade, munida de ferramentas para gestão de projetos e parceiros, estabelece seu orçamento e atua para compor o valor de conclusão do projeto.

A primeira etapa desse processo é ouvir o setor público, comunidade e parceiros potenciais para levantamento dos principais ativos do território. A segunda etapa consiste no envolvimento de todos os agentes participantes para a compreensão do papel a ser desenvolvido por cada um e de que forma podem contribuir para o objetivo coletivo. Esta etapa visa à entrega de um projeto formatado com base no sonho coletivo. Na etapa final, cada agente desempenha sua atribuição para que o projeto seja de fato finalizado.

Em 2015, o PJS Aprendiz programa desenvolvido em Senador Canedo, Goiás, beneficiou com formação técnica 39 jovens em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto. Diante do desafio do Ministério Público de promover ações para o desenvolvimento social e profissional dos adolescentes, a Fundação, em parceria com Ministério Público, Poder Judiciário, Município e empresariado de Senador Canedo desenvolveu o Programa com foco na promoção da inclusão social e formação técnica para a profissionalização dos jovens. O projeto resultou em 21 jovens inseridos no mercado de trabalho.

No mesmo ano, em Uberlânida (MG), o projeto Cultura da Cooperação mobilizou cinco associações de recicladores para que juntas potencializassem os negócios. A ação isolada de cada uma delas possibilitava a ação de profissionais que realizam o transporte e revenda dos materiais, o que acarreta na redução do lucro dos catadores. A ACOPPPMAR, ACIUB e SEBRAE, mediados pela Fundação Alphaville, atuaram para contribuir com a mobilização entre as associações locais e planejar as formações técnicas e de gestão para os grupos. O projeto beneficiou 59 recicladores e contribuiu com o aumento da renda e da produtividade dos catadores.

A capacitação técnica é fortemente trabalhada nos projetos desenvolvidos pela Fundação Alphaville, pois, são vistas como uma das formas de fortalecer os indivíduos e seus coletivos, e estão relacionadas à inclusão socioeconômica. A organização já fomentou a criação de projetos premiados nacionalmente por seu impacto em políticas públicas. Entre os principais está a construção de quatro centros de educação em sustentabilidade em três estados do País, que já impactaram mais de 70 mil pessoas.

O Centro de Educação para Sustentabilidade (CES) em Santana de Parnaíba é o primeiro centro de educação para a sustentabilidade bioconstruído do país. Foi o berço de projetos nacionalmente reconhecidos e premiados, como por exemplo o Jovem Sustentável, que atua para estimular o protagonismo de adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Desenvolvido em parceria com a Prefeitura Municipal, o espaço possui um Programa de Educação para Sustentabilidade, promove cursos, eventos e palestras gratuitas sobre o tema, contribuindo diretamente com as políticas públicas ambientais da cidade. 

C&A 

No mercado de moda, a C&A aumentou em 70% seus investimentos em sustentabilidade nos últimos cinco anos. As ações de sustentabilidade atendem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, com foco, principalmente, em: Igualdade de Gênero; Água limpa e saneamento; Trabalho decente e crescimento econômico; Consumo e produção responsáveis; Ação contra a mudança global do clima; Parceria para cumprir as metas. 

Com atuação em 21 países, a empresa adota uma estratégia global com metas a serem cumpridas até 2020. Porém, são executadas de forma regionalizada. Uma dessas metas é fabricar 100% das roupas com algodão mais sustentável. Sendo o Brasil um grande produtor de algodão de acordo com os padrões da Better Cotton Initiative (BCI), a C&A Brasil passou a articular a rede de fornecimento a incentivar seus fornecedores a adquirir mais desse tipo de algodão.

A C&A Brasil direciona suas ações e investimentos para o impacto da produção feita internamente, que corresponde a 80% do que é disponibilizado. A rede de fornecedores é monitorada com o objetivo de proibir e impedir trabalho escravo na sua cadeia produtiva. Por meio de auditorias periódicas, sem agendamento prévio, verificam-se as condições de trabalho e se essas respeitam a legislação trabalhista. Ao final, a classificação A, B, C, D e E indicam o quanto o fornecedor está próximo do preconizado pelo protocolo global, sendo os fornecedores de categoria A os mais alinhados aos critérios. Os fornecedores com algum desvio são obrigados a se adequarem e recebem todo o suporte e ajuda para aprimorarem suas condições de infraestrutura, condições de trabalho e, consequentemente, suas classificações. A meta para 2020 é ter 100% de seus produtos advindos de fornecedores A e B.

Em 2010, foi a primeira empresa do varejo de moda a assinar o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, e convidou 40 dos seus fornecedores a aderirem à iniciativa. Em junho de 2017, tornou-se a primeira empresa a divulgar de forma pública a lista de seus fornecedores. Além disso, possuem o sinal verde no aplicativo Moda Livre, que avalia medidas que as principais empresas de moda do país adotam para combater o trabalho escravo.

Ainda de forma conjunta e próxima aos fornecedores, a C&A Brasil, signatária do programa ZDHC (Zero Discharge of Hazardous Chemicals) desde 2011, busca zerar até 2020 o descarte de produtos químicos perigosos na produção das peças. Para isso, desde 2013, se dedica à aplicação dos processos da ZDHC atuando diretamente com fornecedores. A empresa acredita que o trabalho envolvendo seus fornecedores não beneficia apenas os negócios, mas a indústria como um todo.

A indústria têxtil despende muita água, utilizada na rede de fornecimento, na irrigação de culturas ao processamento molhado na fabricação, até chegar ao uso pelo cliente. Uma simples camiseta de algodão exige o equivalente a três anos de água potável (2.700 litros) para a sua fabricação e uso. Em 2017, a C&A Brasil reduziu em 14% a pegada hídrica global em relação ao ano anterior. As empresas com quem a C&A atua elaboram levantamentos ano a ano, com os dados referentes ao seu consumo de água e à quantidade de resíduos gerados no período.

Em 2017, a C&A Brasil trouxe ao mercado uma camiseta com certificação Cradle-to-Cradle™ nível GOLD, que garante que é segura para a saúde humana e para o meio ambiente. Usam-se apenas materiais seguros e de forma social e ambientalmente responsável. Além de ser produzida com reuso de água e energia renovável. A camiseta foi desenhada para ser reciclada e que ao final de sua vida útil, por meio da compostagem, torne-se nutrição para o solo.

Pensando também no fim de vida dos demais produtos que comercializa, o Movimento ReCiclo, iniciado em 2017, levou urnas para 31 lojas selecionadas para coleta de peças para doação ou reciclagem. Até fevereiro de 2018, foram arrecadadas mais de 150 kg de peças para serem doadas e mais de 45 kg para reciclagem. Hoje, esta iniciativa está presente em 39 lojas da C&A no Brasil.

O conceito global de comunicação para a sustentabilidade #VistaAMudança (WearTheChange) lançado em abril de 2018 convidam os clientes para se juntarem à empresa na busca por uma moda com impacto positivo. Em agosto, a empresa lançou a plataforma Fashion Futures de diálogos sobre o futuro da moda sob o viés da sustentabilidade. Os eventos são abertos ao público, sobretudo o jovem. (#Envolverde)