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Suzana Khan, uma voz que brilha acima do obscurantismo

por Samyra Crespo, especial para a Envolverde –

Leio com satisfação que a CETESB em São Paulo oferecerá uma capacitação aos municípios da faixa litorânea para lidar com os efeitos adversos das mudanças climáticas.

Vem-me à lembrança que o Rio foi um dos estados pioneiros a fazer o inventário dos gases do feito estufa, estudo encomendado à COPPE – centro de excelência da UFRJ que mantém o Centro do Clima.

E daí? O que temos feito – e faremos no Estado e na Cidade do Rio de Janeiro com as vulnerabilidades apontadas por um estudo que já tem mais de 10 anos? E que fora dos seminários e das esparsas noticias da mídia parece ter ido habitar as gavetas sem fundo dos governantes?

Hoje em dia está à frente da COPPE/UFRJ uma mulher especialista, cientista, ex-secretária de Mudanças Climáticas do MMA e notória integrante do IPCC/Brasil – International Pannel of Climate Change.

Seu nome é Suzana Khan e tudo o que tem a ver com novas tecnologias e novas soluções de sustentabilidade para as cidades, e para o Rio de Janeiro tem seu dedo ou sua orientação, ou de seus orientandos. Ela é uma força da natureza.

Eu a conheci em 2006 e não sabia, naquele momento, que seria sua colega no MMA dois anos depois.
Sob a gestão de Carlos Minc na Secretaria Estadual de Meio Ambiente, ela liderou o movimento de estruturar um programa de Mudanças Climáticas. Foi uma iniciativa pioneira.

Quando Carlos Minc foi para o Ministério ela foi como parte da equipe carioca que queria sacudir a roseira. Tornou-se secretaria nacional e recebeu todo o apoio para formular o I Plano Nacional de Mudança do Clima (2009) quando o Brasil, voluntariamente, assumiu metas para diminuir emissões. Mesmo não precisando fazê-lo naquele momento. Itamaraty era contra. Lula e Dilma tinham dúvidas. Deveria o Brasil liderar um posicionamento assim? Era ousado.

Resultado? Foi um tremendo gol da nossa diplomacia, da Suzana e do Minc. Dali em diante temos uma galeria de acertos que nos levou ao denominado “Protagonismo do Brasil”, em vários encontros e acordos internacionais, incluindo a Rio ÷ 20 e o famigerado Acordo de Paris.

Suzana Kahn é um perfil solar, radiante, nada a ver com o estereótipo dos burocratas sorumbáticos que se costuma imaginar percorrendo os corredores de Brasília.

De volta ao Rio, antes de assumir a COPPE, o que veio a ocorrer apenas recentemente, desenvolveu um programa ambicioso de inovações sustentáveis, no campus da Universidade. A esse programa devemos a usina de energia solar fotovoltaica da UFRJ e o primeiro ônibus circular movido a hidrogênio.

Com o anúncio da Copa e das Olimpíadas- o programa de sustentabilidade liderado por Suzana e sua equipe ganhou novos apoios. Mas infelizmente os prazos e o marketing governamental não são os mesmos das universidades nem da pesquisa séria. Ganhou o pragmatismo e perdeu o Rio. Uma chance única, desperdiçada de fazer progredir o sonho de uma cidade sustentável.

Mil anos vão se passar e ainda assim se contarão histórias de como os cariocas foram do paraíso ao inferno em menos de 4 anos.

Hoje, em meio a uma crise difícil ainda de dimensionar em termos de impacto sobre o presente – e o futuro, vejo as postagens amorosas de Suzana Khan no FB, que toda semana encontra um motivo para “ficar no Rio” – enquanto muitos se vão, desistem.

Ela tem lastro, confiança, conhecimento. Embora não seja do movimento ambientalista nem tenha reinvindicado sê-lo, é uma sustentabilista de verdade.

Constrói com seriedade não só sua reputação que cresce e nos dá orgulho, mas é uma das ceifeiras do pessimisno militante e uma ardorosa defensora da esperança que age.

Suzana arregaça as mangas, dá largos sorrisos e acumula as receitas das cidades sustentáveis para tempos que não vão demorar a chegar.

Hoje seu espaço de atuação é a Universidade.

Na resistência e nos ensinando sobre resiliência e urgência climática.

Em suas entrevistas e falas públicas busca sempre o resgate positivo.
Ainda vamos ouvir falar muito de Suzana.

O Brasil inteiro vai ouvir porque precisamos de ciência e bom senso em nossas decisões sobre as Mudanças Climáticas e seu enfrentamento.

Bom ter pessoas como os cientistas Suzana e Carlos Nobre no time dos sensatos.

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”.

(#Envolverde)

(Este texto faz parte da série que escrevo para o site Envolverde/Carta Capital sobre meio ambiente no Brasil)