O conceito de sustentabilidade chegou ao meio corporativo pela Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente com a definição de que o desenvolvimento sustentável “satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. Essa ideia é aplicada todos os dias em uma sociedade em que as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a procedência dos produtos e marcas que consomem. A globalização e os meios de comunicação deram voz e espaço para que a discussão sobre o assunto seja aprofundada, ou simplesmente viralizada. Ninguém quer associar sua imagem a marcas que não possuem um bom histórico envolvendo questões ambientais, relacionadas a diversidade ou, óbvio, financeiras. Percebendo esse movimento como uma oportunidade de alavancar os negócios, as empresas se colocam em busca de estratégias que possam comprovar aos públicos de interesse suas atitudes sustentáveis. Mas, muitas vezes, acabam transformando o relatório de sustentabilidade em uma peça de marketing a ser divulgada, perdendo o foco em seu propósito.
O relatório de sustentabilidade de uma organização deve contar uma história e compilar os seus indicadores sociais, econômicos e ambientais. Ele também define as expectativas de desenvolvimento sustentável da empresa, externas e internas, envolvendo colaboradores, clientes, stakeholders e o lugar em que está inserido. Apesar da riqueza de dados que podem ser extraídos desse documento, em 2019, das 137 empresas que participaram do 7º Estudo de Sustentabilidade da BDO, apenas 37% publicam esses relatórios. Houve um crescimento desse número em relação ao do ano anterior, que foi de apenas 2%, isso mostra que a importância dada ao tema ainda é pequena. Muitas empresas nem possuem áreas de Sustentabilidade ou ao menos responsáveis internos de outros departamentos. Mas, nota-se uma necessidade urgente de se compreender a sustentabilidade empresarial como parte da estratégia macro de negócios e não apenas como um holofote da companhia.
A elaboração do relatório de sustentabilidade pode servir como um instrumento para levantamento de informações importantes para a empresa, já que todas as áreas são envolvidas para avaliação dos indicadores que serão reportados. Esse processo favorece à integração de todas as equipes e mostra a importância de determinados indicadores para a companhia, que pode estabelecer metas e objetivos de forma mais clara. Além disso, é muito importante reforçar a importância da auditoria desses documentos para dar credibilidade à informação que está sendo reportada, já que passa por um processo de asseguração de acordo com as normas internacionais de auditoria.
Fomentar essa estratégia de sustentabilidade empresarial é um processo de conscientização profunda que envolve não apenas questões ambientais, mas pessoais e financeiras que precisam andar juntas para o bom funcionamento da companhia. Um dos caminhos, por exemplo, é criar um Comitê de Sustentabilidade para avaliar os indicadores mais relevantes à companhia, preparar as informações a serem reportadas e, após a publicação desses, colocar em prática ações que contribuam para monitorar e melhorar os índices. Existem alguns países que já estão exigindo a apresentação de relatos integrados (ou outras informações não financeiras) por determinadas entidades. No Brasil, esse movimento ainda é incipiente, as empresas estão fazendo esse exercício com as notas de eventos subsequentes por conta da pandemia do Covid-19, por exemplo, em que são requeridas a informar os usuários os impactos e medidas que a companhia está tomando diante desse cenário. Esse tipo de informação passará a ser cada vez mais valorizada. Então, não. Relatório de sustentabilidade não é só uma peça de marketing. O documento tem que ser verdadeiro e transparente sobre os problemas encontrados e as medidas tomadas. Tudo isso sempre em um processo evolutivo, pois há alguns anos não abríamos nem a receita na demonstração de resultado (pasmem!) por pensar que era uma informação confidencial. É preciso dar o primeiro passo e acreditar na evolução.
Viviene Bauer é graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de São Paulo – USP e pós graduada em Administração pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, Viviene Bauer é sócia da área de Sustentabilidade na BDO e possui mais 15 anos de experiência com empresas de médio e grande porte, nacionais e internacionais, de variados setores como: Indústria, Construção Civil e Terceiro Setor. Atua como technical advisor no IAASB (Conselho Internacional de Normas de Auditoria e Asseguração, na sigla em português) e é Diretora de Administração e Finanças da 5ª Seção Regional do Ibracon.