Por Tonny Martins*, presidente da IBM na América Latina –
Os impactos da crise climática, do calor extremo aos incêndios florestais e às inundações, impulsionados pela atividade humana, só continuarão a se intensificar como indica o último IPCC report. Várias organizações têm atendido aos apelos por ações concretas, principalmente nos setores de varejo e produtos de consumo, que reconhecem que o crescimento futuro depende de metas claras de sustentabilidade e uma execução impecável. Consumidores também têm influenciado esse movimento, muitos ditando a agenda de sustentabilidade dos fabricantes e varejistas em função de suas decisões de compra.
Tais movimentos foram comprovados em um estudo recente do IBM Institute for Business Value, “A última chamada para a sustentabilidade”, que entrevistou executivos de mais de 1.900 empresas globais de produtos de consumo e de varejo, e 14.000 consumidores adultos em todo mundo. O estudo confirmou o ritmo de aceleração da agenda de sustentabilidade das empresas (9 em cada 10 com iniciativas em andamento até o final de 2021). Entretanto, o estudo demonstrou também que há ainda um espaço grande a percorrer para alinhar as métricas de desempenho organizacional com as de sustentabilidade.
A sustentabilidade se tornou um imperativo de negócios
As empresas não estão apenas “sentindo o calor” de lidar com a mudança climática em resposta ao aumento das temperaturas e volumes recordes de incêndios florestais e furacões. Elas também estão ouvindo consumidores e reguladores. A pandemia impactou fortemente a relação dos consumidores com a sustentabilidade, desde hábitos de compra e comportamento de investimento até as preferências do colaborador em relação à empresa que deseja trabalhar. Dois anos atrás, muitos consumidores (63%) estavam dispostos a pagar 30% a mais para endossar marcas com um propósito, enquanto apenas 8% estavam dispostos a pagar 100% a mais por isso. Mas hoje, 43% já estão nesse grupo dos consumidores dispostos a desembolsar o dobro para apoiar marcas sustentáveis e ambientalmente responsáveis.
Em resposta à urgência das mudanças climáticas e à maior gravidade dos eventos relacionados ao clima, considerando ainda mais o sentimento dos clientes, um número sem precedentes de empresas está vendo a sustentabilidade como um caminho viável para melhorar as operações de negócios e impulsionar o crescimento. Na verdade, 7 em cada 10 executivos acreditam que suas metas de desenvolvimento sustentável agora têm a capacidade de melhorar a eficiência e agilidade operacional.
Os desafios ao medir a sustentabilidade
Embora algumas organizações estejam mais avançadas do que outras nesse caminho, está claro que a maioria se esforçou para definir metas de sustentabilidade tanto para seus negócios quanto para seus funcionários. No entanto, em média, menos de 1/3 das empresas do setor de varejo e produtos de consumo definiram métricas exclusivas para medir seu progresso nessa área. Os resultados desse estudo realizado pelo IBV deixam claro que a maioria das organizações ainda enfrenta dificuldades no processo de definição de métricas claras, com foco exclusivo em sustentabilidade.
Dependendo da categoria do produto, as empresas podem encontrar uma grande variedade de desafios na definição dessas métricas. Por exemplo, a indústria da moda tradicionalmente tem lutado para lidar com a tendência ‘fast fashion’, em que grandes volumes de roupas são produzidos a preços baixos, a fim de capitalizar as tendências da moda. No final das contas, 20% das roupas produzidas pela indústria global de confecções não são vendidas, muitas vezes acabando em aterros sanitários. Além disso, as emissões indiretas geradas pela cadeia de valor, também conhecidas como “emissões de escopo 3”, podem ser particularmente difíceis de medir para o setor de moda.
Novas abordagens para métricas de benchmarking estão surgindo, por exemplo, o novo Leonardo Center on Business for Society do Imperial College. Em parceria com 60 universidades, eles estão usando o aprendizado de máquina para analisar os dados e resultados de 40.000 empresas ao longo de 20 anos de relatórios. Isso permitirá que as empresas avaliem seu próprio progresso e, em seguida, co-projetem, testem e dimensionem novos modelos para um sistema socioeconômico sustentável e justo.
Tecnologias como inteligência artificial e nuvem híbrida podem mudar esse cenário
Já estão em andamento projetos interessantes em que colaboramos com organizações em todo o mundo para atingir objetivos de sustentabilidade e determinar um impacto claramente mensurável, incorporando tecnologias como blockchain e automação com IA em suas operações. Por exemplo, IBM Garage for Sustainability é a abordagem de design thinking baseada em resultados que adotamos para ajudar os clientes a planejar, medir e atingir seus objetivos de sustentabilidade.
Também estão nesse escopo parcerias com um amplo ecossistema de parceiros de sustentabilidade para desenvolver plataformas de tecnologia que tornam o vasto espaço de varejo e produtos de consumo mais sustentável. Por exemplo, para permitir o conhecimento da procedência e rastreabilidade oportuna de produtos entre produtores, fornecedores e varejistas para criar um sistema alimentar mais seguro e sustentável. Com o Plastic Bank, usamos blockchain para ajudar a limpar os oceanos, criar economias circulares e combater a pobreza rastreando a coleta e reutilização de resíduos. Experiências globais interessantes com clientes de diferentes países e indústrias, como Walmart, Bestseller India, KAYA&KATO, Covalent e Omega Energia, no Brasil.
*Tonny Martins, presidente da IBM na América Latina
#Envolverde