O progresso do desenvolvimento global não leva automaticamente a mais sensação de segurança. É o que afirma o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre segurança humana divulgado nesta terça-feira (8).
Pelos dados e análises contidos no informe Novas Ameaças à Segurança Humana no Antropoceno, a sensação de segurança das pessoas está em queda em quase todos os países, inclusive nas nações mais ricas do mundo, apesar de anos de desenvolvimento ascendente. Aqueles que se beneficiam de alguns dos mais elevados níveis de bons resultados em saúde, riqueza e educação estão relatando nível de ansiedade ainda mais alto do que há 10 anos.
Para enfrentar o descompasso entre o desenvolvimento e a percepção de segurança, o relatório pede mais solidariedade além-fronteiras e uma nova abordagem ao desenvolvimento, que permita às pessoas viverem livres de carência, medo, ansiedade e indignidade.
“Apesar de a riqueza global ser maior do que nunca, a maioria das pessoas está apreensiva com o futuro, e esse sentimento provavelmente se exacerbou com a pandemia”, afirma o administrador mundial do PNUD, Achim Steiner
Solidariedade contra ameaças
O imperativo de agir agora nunca foi tão claro, pois novas descobertas também mostram que a expectativa de vida global ao nascer está caindo pelo segundo ano consecutivo por causa da COVID-19, assim como os índices gerais de desenvolvimento humano. Em 2021, apesar do maior PIB global da história e das vacinas contra a COVID-19 estarem mais prontamente disponíveis em alguns países, a expectativa de vida global diminuiu pelo segundo ano consecutivo, caindo cerca de um ano e meio em média em comparação com o mundo pré-COVID.
Além disso, a mudança do clima provavelmente se tornará uma das principais causas de morte em todo o mundo. Mesmo com mitigação moderada das emissões, cerca de 40 milhões de pessoas podem morrer por causa da alteração nas temperaturas antes do fim do século.
O relatório examina um conjunto de ameaças que se tornaram mais proeminentes nos últimos anos, incluindo as de tecnologias digitais, desigualdades, conflitos e a capacidade dos sistemas de saúde de enfrentar novos desafios, como a pandemia de COVID-19.
Enfrentar essas ameaças, argumentam os autores do relatório, exigirá que os formuladores de políticas considerem proteção, empoderamento e solidariedade lado a lado, para que a segurança humana, as considerações planetárias e o desenvolvimento humano atuem juntos e não a despeito uns dos outros. Isso significa que as soluções para um problema não devem exacerbar outros problemas.
“Um elemento-chave para a ação prática destacada no relatório é a construção de um maior senso de solidariedade global com base na ideia de segurança comum. A segurança comum reconhece que uma comunidade só pode estar segura se as comunidades adjacentes também estiverem. Isso é algo que vemos muito claramente com a atual pandemia: as nações são em grande parte impotentes para impedir que novas mutações do coronavírus cruzem as fronteiras”, afirma o secretário-geral adjunto da ONU e diretor do Escritório de Crise do PNUD, Asako Okai.
O relatório também observa a forte associação entre níveis decrescentes de confiança e sentimentos de insegurança. Pessoas com níveis mais elevados de insegurança humana percebida são três vezes menos propensas a considerar as outras pessoas confiáveis.
Outros achados
O relatório também traz dados sobre as desigualdades relacionadas ao clima, conflitos e sistemas de saúde.
Segundo o documento, os países mais desenvolvidos tendem a capitalizar mais os benefícios das pressões planetárias e sofrer menos suas consequências, evidenciando como a mudança global do clima está aumentando ainda mais as desigualdades.
O estudo mostra ainda que cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem em áreas afetadas por conflitos hoje, com quase metade delas (560 milhões) em países que geralmente não são considerados frágeis. Isso indica que as ideias tradicionais sobre quais países são mais vulneráveis a conflitos precisam ser revisitadas.
Outro dado é sobre as grandes e crescentes lacunas existentes nos sistemas de saúde entre os países. De acordo com o novo Índice de Universalismo da Saúde do relatório, entre 1995 e 2017, a desigualdade no desempenho da saúde entre países com desenvolvimento humano baixo e muito alto se agravou.
Segurança humana
O conceito de segurança humana, introduzido pela primeira vez no Relatório de Desenvolvimento Humano de 1994 do PNUD, sinalizou um afastamento radical da ideia de que a segurança das pessoas deve ser avaliada observando apenas a segurança territorial, ao enfatizar a importância das necessidades básicas das pessoas, sua dignidade e sua segurança para viver vidas seguras.
*Créditos da imagem destacada: O relatório do PNUD demonstra que há um descompasso crescente entre o desenvolvimento e a percepção de segurança no mundo
Foto: © PNUD
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