*Por Ignacio Parada –
Nas últimas décadas, as crescentes preocupações acerca do desenvolvimento sustentável têm gerado inúmeros debates sobre o impacto dos resíduos plásticos em nosso planeta. Devido à sua versatilidade e durabilidade, praticamente todas as indústrias utilizam o plástico em uma ampla variedade de produtos, incluindo embalagens, eletrônicos, móveis, utensílios domésticos, equipamentos hospitalares, entre outros. No entanto, à medida que a presença do material se consolidou no cotidiano, seu descarte tornou-se um grande problema a nível mundial.
Para termos uma ideia, o plástico convencional pode levar mais de 400 anos para se decompor, gerando impactos negativos na saúde dos cursos d’água, plantas, animais e seres humanos. Hoje, sua produção ultrapassa 400 milhões de toneladas por ano, cuja metade é projetada para ser utilizada uma única vez, sem destinação final adequada. Somente em nosso país, estima-se que cada brasileiro seja responsável por poluir o oceano com 16 quilos de plástico ao ano, o que significa cerca de 4 milhões de toneladas lançadas aos rios e mares, de acordo com cálculos feitos pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo para o projeto Blue Keepers, ligado ao Pacto Global da ONU. Essa quantidade é equivalente para lotar, aproximadamente, 500 maracanãs, por exemplo.
Diante desse cenário preocupante de produção e poluição do plástico, surge o questionamento: será que existe uma solução viável e eficaz para lidar com a quantidade massiva de plástico descartado e, consequentemente, reduzir seu impacto devastador no meio ambiente? A resposta é: sim, existe solução!
O plástico biodegradável surge como uma alternativa sustentável para amenizar os impactos causados pelo plástico convencional e, assim, contribuir com o futuro do planeta e seus habitantes. Isso porque sua formulação pode levar polímeros naturais ou sintéticos, que durante o processo de decomposição, passam pela ação de microrganismos, como bactérias, fungos ou algas que metabolizam o produto e quebram sua estrutura molecular, transformando-o em dióxido de carbono (CO2), biomassa e água, permitindo sua reintegração natural ao meio ambiente.
Como mencionei anteriormente, o plástico convencional leva centenas de anos para se decompor. Em contrapartida, novas soluções biodegradáveis requerem apenas de três a vinte meses para tal, e ainda, sem gerar microplásticos, citotoxicidade ou toxicidade por metais pesados. Além de ajudar na redução da geração de resíduos sólidos, estes produtos também minimizam as emissões de gás carbônico em 60% quando comparadas a plásticos baseados em combustíveis fósseis (PET/PVC/HDDP) e utilizam 90% menos água para sua produção.
Por isso, o material biodegradável é um excelente aliado no combate à poluição atmosférica, terrestre e hídrica, especialmente ao ser utilizado na fabricação de produtos descartáveis, como sacolas, embalagens, filmes termoencolhíveis e mais. Inclusive, podemos dizer que a biodegradabilidade é como um herói invisível, ao passo que embora a reciclagem seja uma solução sustentável, ela sozinha não é tão eficaz quanto, pois depende de intervenção humana, investimento em equipamentos e, sobretudo, uma estrutura para ser viável.
Claro, o custo de desenvolvimento e produção é um pouco maior quando comparado às ações tradicionais, porém se trata de um investimento que reforça não apenas a preocupação com o meio ambiente, mas também com aspectos como imagem e reputação. Afinal, comercialmente, as empresas que se preocupam com o impacto ambiental e investem em ESG são muito mais propensas a estarem no foco de atenção dos investidores, como aponta um estudo realizado pela ‘EY Global Reporting and Institutional Investor Survey’. De acordo com a pesquisa, 99% dos investidores acompanham as práticas ESG das empresas e as utilizam como parte de suas decisões de investimento, ao passo que o termo se tornou prioridade e potencial competitivo.
Contudo, apesar das vantagens oferecidas, existem alguns desafios relacionados à conscientização e educação sobre o tema, tanto no que diz respeito à indústria quanto aos consumidores, visto que o conceito de biodegradabilidade ainda é pouco conhecido em profundidade. Por conta disso, ainda há entendimentos equivocados acerca dos produtos que são biodegradáveis, sem ações nocivas ao meio ambiente e a vida humana, e outros que se dizem biodegradáveis, porém em sua cadeia geram microplásticos e outras toxicidades.
Levando em consideração o volume de plásticos convencionais utilizados no mundo todo, as oportunidades de melhorias e avanços no tema de biodegradação são gigantescas. É necessário que indústrias, startups e institutos de pesquisa e estudos se unam cada vez mais para desenvolver estratégias e produtos inovadores.
Em suma, o uso de plásticos biodegradáveis surge como uma solução promissora para lidar com os problemas causados pela opção convencional. Sua capacidade de decomposição mais rápida, versatilidade e menor impacto ambiental os tornam uma opção sustentável para reduzir a poluição causada pelos dejetos plásticos. Assim, com conscientização, pesquisa e investimentos contínuos, podemos impulsionar a adoção responsável dos plásticos biodegradáveis, avançando em direção a um futuro mais limpo e sustentável, além de contribuir significativamente com o manejo de resíduos sólidos na América Latina, apontado pela ONU como fator chave para o desenvolvimento sustentável no continente.
*Ignacio Parada é CEO da Bioelements, empresa dedicada à produção de alternativas biodegradáveis ao plástico convencional. Empreendedor Endeavor, membro e promotor de Empresas B, e investidor-anjo, Ignacio é especialista em Economia Circular, Triple Impacto e Embalagens Sustentáveis.