À medida que o ser humano vai se tornando mais consciente e reflexivo a respeito de seu impacto sobre o planeta, boas ideias emergem como resposta nos mais diferentes contextos e nos mais diferentes formatos.

Uma dessas boas ideias – não tão recente, mas que ainda é largamente utilizada – é a dos 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), verbos que resumem importantes ações para melhorar nossa relação com o planeta ligados ao importante binômio consumo-descarte.

Ao mesmo tempo que os 3 Rs são carregados de significado, sua mensagem é simples e elegante para resistir ao desgaste do tempo. Sua grande virtude foi unir a ação ao lúdico, tornando-se um modelo a ser seguido (e perseguido) dentro de campanhas de comunicação ambiental.

Por dispensar grandes explicações, não é a toa que os 3 Rs estão aí até hoje.

Como toda boa ideia, os 3 Rs se multiplicaram e hoje eles já são sete: reduzir, reutilizar, reciclar, reaproveitar, recusar, recuperar e repensar.

Apesar de considerar todos os Rs importantes, considero o R de repensar vital para a existência de todos os outros da família, pois é somente repensando alguns de nossos hábitos que somos capazes de perceber pontos de ruptura que nos levam a mudar de comportamento. Alguns chamam esse processo de “criar consciência”.

Seja qual for o nome, o R de repensar é infelizmente o menos falado da família, apesar de sua importância.

Falando em repensar, segundo a pesquisa ImagePower® Green Brands 2011, os brasileiros estão mais preocupados com o meio ambiente (77%) do que com a economia (20%). Nos dois aspectos, o Brasil é o país com o maior e o menor índice entre todas as nações entrevistadas. O resultado é, sem dúvidas, animador.

Apesar dos números positivos, estar preocupado com o meio ambiente não significa que estamos fazendo alguma coisa para melhorar nossa relação com ele. O meio ambiente para muitos é um local remoto talvez no meio da Amazônia ou sob quilômetros de água no oceano, onde sempre haverá alguma ONG ou entidade governamental preocupada em preservá-lo para as gerações futuras.

O dia a dia da maioria dos 84% dos brasileiros que residem nas zonas urbanas é normalmente ocupado demais para tentar compreender como suas ações afetam o meio ambiente e, somado a esse fato, as consequências da maioria dos problemas ambientais não afeta (por enquanto) o meu estilo de vida. O resultado dessa conjunção de fatores é simples: repensar e mudar o quê e para quê?

A indiferença, a falta de informação e a falta de visão de longo prazo são os grandes motores dos impactos ambientais e é necessário que percebamos que a situação pela qual passamos no momento é de alguma forma nova, a fim de mudarmos alguns de nossos comportamentos.

Felizmente, muitas pessoas têm percebido a urgência da situação e têm repensado e mudado seus hábitos. O próprio hábito de reciclar, tão raro há uma ou duas décadas, hoje já faz parte da rotina de um grande número de empresas e residências. Outro exemplo simples é o crescente número de pessoas que têm aderido às “sacolas ecológicas”, abrindo mão de parte de seu consumo de plástico.

Mas nem sempre o sucesso é uma garantia.

Recentemente notei que alguns (poucos) colegas de trabalho já possuem sua caneca para água e café, deixando de lado os copinhos plásticos. Infelizmente, observei também que alguns acabam desistindo da iniciativa por se sentirem verdadeiros alienígenas e voltam ao copinho de plástico.

Como professor há 15 anos, observo que as propostas voltadas para garantir um futuro melhor – ambiental, social ou economicamente falando – são sempre muito bem recebidas pelos estudantes, apesar de somente alguns realmente as colocarem em prática. Basta caminhar pelo pátio das escolas após o intervalo e ver a quantidade de lixo no chão ou depositado de forma incorreta nas lixeiras de recicláveis. Infelizmente, a teoria da sala de aula ainda está muito distante da prática e é urgente a necessidade de criarmos uma nova Educação Ambiental que dê conta dos novos e antigos desafios nas relações ser humano-natureza.

A mudança de determinados comportamentos, muitas vezes enraizados há séculos, sempre acontece a longuíssimo prazo, quando acontece.

Novos hábitos, não somente do ponto de vista ambiental, só surgem e se disseminam graças à persistência e idealismo de alguns em fazer (e continuar fazendo) aquilo que acham certo. Para esses pioneiros vale adaptar o ditado: “uma andorinha só faz verão”.

Repensar e criar uma nova forma de viver deve fazer parte de nossas vidas em todos os sentidos e em todos os momentos. É isso que nos torna capazes de verdadeiramente mudar o mundo.

Para concluir, gostaria de aumentar a família dos Rs sugerindo um caçula, o R de reinventar.

Repensar e reinventar, uma dupla de futuro para nós e para todo o planeta.

E você, já repensou (ou reinventou) algum de seus hábitos hoje?

* Edson Grandisoli é biólogo, mestre em ecologia, coordenador pedagógico da Escola da Amazônia e consultor em Educação para a Sustentabilidade – [email protected].