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Quando todos ganham, ou todos perdem

Washington, Estados Unidos, 30/8/2011 – Quando a produção industrial chega a cada rincão do planeta e o capital transnacional entra em restrições em quase todos os países, a Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu apoiar o trabalho solidário e declarou 2012 Ano Internacional das Cooperativas. A iniciativa será lançada oficialmente no dia 31 de outubro em Nova York, para “lembrar à comunidade internacional que é possível perseguir a viabilidade econômica e a responsabilidade civil”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Uma reunião de alto nível vai gerar, sem dúvida, uma enorme consciência sobre a necessidade de economias sustentáveis e alternativas como as cooperativas, mas há muitas pessoas e organizações que trabalham há anos para que funcionem empresas gerenciadas pelos trabalhadores. A IPS entrevistou Brian Van Slyke, fundador da Toolbox for Education and Social Action (Tesa – Ferramentas para a Ação Social e Educativa). É uma cooperativa de trabalhadores que pretende democratizar a educação e a economia fomentando o movimento deste tipo de associação econômica e trabalhista.

IPS: Qual é a filosofia e a visão sobre a qual Tesa está baseada?

BRIAN VAN SLYKE: A Tesa foi criada para fortalecer dois fenômenos relacionados: os esforços para democratizar a economia e a educação em busca da mudança social. A ligação entre ambos é crucial porque a forma como aprendemos e ensinamos influi diretamente sobre como trabalhamos e nos relacionamos com outras pessoas. A missão da Tesa é criar recursos educativos democráticos que cultivem as habilidades das pessoas para conseguir mudanças sociais e econômicas em suas comunidades. Criamos e distribuímos nosso próprio material e trabalhamos com outras organizações para desenvolver recursos educativos de acordo com suas necessidades. A Tesa é uma iniciativa de trabalhadores vinculada ao movimento cooperativo.

IPS: O que faz a Tesa para promover o movimento cooperativo?

BVS: Uma de nossas iniciativas mais interessantes é o Co-Opoly: The Game of Cooperativs (Co-Opoly: O Jogo das Cooperativas), que trata do crescimento do movimento cooperativo. É um jogo sobre a solidariedade onde todo mundo ganha, ou todo mundo perde. Permite descobrir os benefícios únicos, os desafios e o trabalho cooperativo. Cultiva a compreensão de como esse modelo fortalece organizações e comunidades e permite praticar as habilidades necessárias para integrar uma cooperativa. A Tesa também tem o Cultivate.Coop, um centro gratuito na internet para troca de conhecimentos sobre cooperativas e cooperação. Também é um espaço para criar ferramentas educativas em conjunto com a comunidade. Além disso, colaboramos com a Green Worker Cooperativies, organização que promove cooperativas de trabalhadores ambientais em Bronx Sur, um dos bairros mais pobres da cidade de Nova York. Com eles trabalhamos em um programa de educação democrática para sua “academia sobre cooperativas”.

IPS: As cooperativas podem ser pequenos grupos dispersos ou devem apontar para o global?

BVS: Sobrevivem de forma independente em muitos lugares, mas também se consegue criar redes nacionais e até regionais. Mondragón é uma federação de mais de 200 cooperativas de trabalhadores do País Basco, na Espanha. Em outros lugares como Itália, Argentina, Brasil e Japão também há redes de cooperativas de sucesso. Nos Estados Unidos, infelizmente, as cooperativas não têm muitos vínculos entre si. Porém, isso está mudando e começam a colaborar mais com organizações como Valley Alliance of Worker Cooperatives (Aliança de Cooperativas de Trabalhadores), bem como com a iniciativa Principle 6: Cooperative Trade Movement (Princípio 6: Cooperativa de Movimento Comercial).

IPS: A ONU declarou 2012 Ano Internacional das Cooperativas. O que se espera que isto gere?

BVS: Nesta época de austeridade na qual diminuem os serviços sociais básicos, mas as grandes corporações obtêm lucros extraordinários, as pessoas começam a se voltar para modelos alternativos. O lema da iniciativa da ONU é “as empresas cooperativas criam um mundo melhor”. O movimento aproveita o aval para promover sua missão e impulsionar a alternativa. É importante compreender que não são organizações de benemerência, mas que se baseiam no conceito de ajuda mútua e solidariedade. Os membros têm a mesma participação, decidem em conjunto e recebem benefícios equitativos. E, mais importante ainda, é uma solução para melhorar a qualidade de vida. O Ano Internacional das Cooperativas dará ao movimento uma importante plataforma em escala local e mundial, que permitirá fortalecer os vínculos com a comunidade e ajudará a criar mais organizações.

IPS: O que sua organização fará em relação ao Ano Internacional das Cooperativas?

BVS: A Tesa trabalha em um programa com universidades, cooperativas e organizações de justiça social e econômica para realizar seminários. O objetivo é impulsionar uma nova geração de líderes do movimento cooperativo. Também trabalhamos com outras organizações para divulgar o Co-Opoly. Isso inclui uma iniciativa no Museu Guggenheim, de Nova York, sobre renovação urbana e cooperativas.

IPS: Acredita que os jovens têm um papel particular na criação e no desenvolvimento das cooperativas?

BVS: Há muitos anos, dei uma aula para jovens sobre como iniciar uma empresa cooperativa musical, e foi um sucesso. Nessa oportunidade aprendi que quando os ajudamos a se realizarem podem conseguir seus sonhos. Sua criatividade e determinação são importantes. E mais: o movimento cooperativo necessita dos jovens para prosperar. Todos dependerão deles para criar sociedades, comunidades e economias justas e igualitárias. De fato, em Worcester, uma empobrecida cidade do Estado de Massachusetts, uma cooperativa de jovens chamada Toxic Soil Busters (Jovens de Solos Tóxicos) busca terrenos contaminados com chumbo e os limpam. Ao nos envolvermos mediante uma educação democrática, os jovens podem construir cooperativas capazes de oferecer soluções criativas para mudanças sociais e econômicas duradouras. Envolverde/IPS