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O mundo aponta para o metano

Cidade do México, México, 19/9/2011 – As iniciativas para reduzir o volume de gases contaminantes de vida curta não têm um êxito completo, por isso governos e organizações ambientalistas exploram novas ideias. O metano, o ozônio troposférico (um componente do smog) e o carvão negro (fuligem) possuem alta capacidade de poluição, maior inclusive do que o dióxido de carbono (CO²), com prejuízos sérios sobre a saúde humana e o meio ambiente.

“É importante incorporar a qualidade do ar às políticas ambientais. Faltam capacidade, conhecimento, tecnologia, financiamento e regulações”, disse à IPS a coordenadora do programa de Políticas Públicas do não governamental Centro Mexicano de Direito Ambiental, Sandra Guzmán. Esta e outras organizações da sociedade civil da América Latina querem desenvolver programas para eliminar essas emissões e incidir nas negociações climáticas internacionais para dar maior atenção aos gases de curta duração.

Os cientistas consideram que o metano, que provém de atividades como criação de animais, desmatamento e lixo, tem um potencial de aquecimento global 23 vezes maior do que o CO². Enquanto o carbono negro tem origem na queima de combustíveis fósseis e lenha.

“Com o manejo do gado e dos aterros sanitários pode-se controlar o metano. Captura-se o biogás para gerar eletricidade”, disse à IPS Achim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Esta agência da Organização das Nações Unidas (ONU), delegados de 22 países e organizações não governamentais iniciaram na semana passada, na Cidade do México, negociações para criar um instrumento internacional que enfrente as emissões dos gases de vida curta, que prosseguirão no próximo mês em Bangladesh.

O informe de 2011 “Avaliação integrada de carbono negro e ozônio troposférico: resumo para tomadores de decisão”, elaborado pelo Pnuma e pela Organização Meteorológica Mundial, diz que “uma pequena quantidade de medidas de redução de emissões de carbono negro e precursores do ozônio poderiam começar imediatamente a proteger o clima, a saúde pública, a água, a segurança alimentar e os ecossistemas”.

Essas ações, que evitariam a cada ano 2,4 milhões de mortes prematuras de pessoas e a perda de 52 milhões de toneladas de milho, arroz, soja e trigo no mundo, incluem a recuperação de metano da extração de carbono, petróleo e gás e transporte, sua captura mediante gestão de dejetos, uso de estufas ecológicas, filtros para motores diesel e queima de dejetos agrícolas. O metano é um dos seis gases contaminantes cobertos pelo Protocolo de Kyoto, em vigor desde 2005 e que expirará em 2012, que obriga as nações industrializadas que o ratificaram a reduzir as emissões em 5,2% em relação aos índices de 1990.

O Protocolo de Kyoto também estabelece o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), pelo qual as nações industrializadas investem em projetos para reduzir as emissões contaminantes nos países em desenvolvimento para compensar o que não conseguem reduzir em seu próprio território. Assim, os países do Norte industrializado obtêm os chamados Certificados de Redução de Emissões de Carbono, que contabilizam para si com se estivessem reduzindo sua própria contaminação climática.

O MDL tem mais de 2.500 projetos operacionais, 483 deles provêm da América Latina e do Caribe. O México possui 124, dos quais nove se baseiam na captura de metano em depósitos de lixo. Contudo, as possibilidades de as fazendas de gados bovino e suíno e dos aterros sanitários ainda estão longe de se materializar, já que o processo de registro junto ao MDL é caro, prolongado e sem garantia de sucesso.

“Para os pequenos e médios produtores, a melhor opção é produzir biogás, gerar eletricidade e usar aquecedores com esse combustível”, disse à IPS Alexander Eaton, diretor do Projeto de Biogás do escritório mexicano do Instituto Internacional de Recursos Renováveis (IRRI). Desde 2005, o IRRI trabalha na promoção de biodigestores em fazendas de gado bovino e suíno em nações latino-americanas para gerar biogás e biofertilizantes a partir do excremento animal. No México, funcionam pelo menos 360 biodigestores, com uma quantidade semelhante em construção.

Duas reses ou seis porcos geram três quilos diários de resíduos sólidos voláteis, que podem derivar em um metro cúbico de biogás por dia, afirmam os especialistas. Este número significa deixar de consumir 2,2 quilowatts/hora ou 0,5 quilo de gás liquefeito de petróleo, uma economia anual de US$ 750, segundo projeções do IRRI. “Apesar da oportunidade para capturar e reduzir o metano, ele não é aproveitado. Por isto, é fundamental fazê-lo”, disse Guzmán.

O México emite cerca de 709 milhões de toneladas de CO² por ano, e para 2012 o governo mexicano espera ter instalado 600 mil estufas de baixo consumo de lenha. Neste país, são recolhidos anualmente 43 milhões de toneladas de lixo. O Ministério da Energia calcula que o México poderia gerar cerca de três mil megawatts com biogás, em sua maioria de dejetos. Nos últimos anos, surgiram várias iniciativas para enfrentar os gases de vida curta, como a Iniciativa Global do Metano (MGI), lançada por México e Washington em outubro de 2010, e o Conselho para a Redução do Carbono Negro, promovido pelo Instituto do Clima, dos Estados Unidos.

A MGI, que envolve 38 governos e órgãos internacionais, apoia cerca de 300 projetos que, concretizados, evitarão anualmente 60 milhões de toneladas de CO². No México, são apoiadas três ideias vinculadas à captura de metano em aterros sanitários. Nos próximos cinco anos, o Conselho buscará a inclusão de estratégias em pelo menos 40 planos climáticos nacionais ou regionais, metas de redução de emissões nas negociações internacionais da ONU e padrões internacionais ligados ao tema. “A pergunta central é se o preço do metano pode ser mais atraente do que o CO²”, disse Steiner. Envolverde/IPS