O relatório da REN21 – Renováveis 2011 mostra que eólica e solar fotovoltaica foram as fontes de energia renovável que mais cresceram em 2010 e continuam a crescer forte em 2011, apesar da crise econômico-financeira. É leitura obrigatória para quem diz que energia renovável, principalmente eólica e solar fotovoltaica, não tem escala para ser alternativa à energia fóssil.
O documento está recheado de dados sobre o crescimento das fontes renováveis na oferta de eletricidade em todo o mundo. Mostra que elas foram responsáveis por metade da oferta de 194 gigawatts de nova capacidade elétrica adicionada globalmente em 2010. Representaram 20% do suprimento global de eletricidade em 2010, e 25% da capacidade elétrica total, em 2011.
O investimento em energia renovável cresceu 32% em 2010, um período de desaceleração do investimento por causa da crise financeira global, atingindo US$ 211 bilhões. Este volume recorde foi 32% superior aos US$ 160 bilhões investidos em 2009 e cinco vezes maior que o investimento de 2004.
Sim, a hidreletricidade é parte da conta das renováveis, mas não é o setor mais dinâmico. Ela cresceu apenas 3% em 2010. Há visível afastamento das hidrelétricas, principalmente das grandes usinas de alto impacto ambiental e elevado custo, em praticamente toda parte onde há capacidade hídrica. O Brasil é uma das exceções.
Em contraste com a hidrelétrica, em 2010, a capacidade instalada em energia eólica cresceu 25% e em fotovoltaica (solar), 72%. A eólica já conquistou espaço significativo na matriz global. A capacidade elétrica eólica já é 20% da hidrelétrica e 15% da capacidade renovável instalada. A fotovoltaica, que está vivendo seu primeiro ciclo relevante de crescimento nos últimos dois, três anos, e é a tecnologia cujo uso mais cresce no mundo, ainda é apenas 3% do total da capacidade renovável instalada no mundo.
Mas o que este relatório mostra é que essas são tendências firmes, que vêm se sustentando no período entre 2005 e 2010. Registram forte crescimento da capacidade de energia elétrica renovável e do investimento em todos os setores deste mercado, e em todos os anos deste quinquênio. Segundo o “Renováveis 2011 – Relatório da Situação Global”, várias das fontes renováveis, entre elas solar fotovoltaica (PV), termosolar (CSP), eólica e biocombustíveis têm crescido a médias anuais que variam entre 15% e 50%. Biomassa e geotérmica também têm tido crescimento expressivo. A que contribuiu com a maior oferta foi a eólica. A hidrelétrica, mesmo crescendo pouco, mas concentrada em alguns grandes projetos, foi a segunda fonte em adição de capacidade. Solar fotovoltaica foi a terceira.
Esse crescimento foi importante em vários países. Neles, a fatia das renováveis na oferta total de energia, inclusive aquecimento e transportes, está aumentando rapidamente. Nos Estados Unidos, em 2010, a energia renovável representou 10,9% da produção primária de energia, quase alcançando a nuclear, com 11,3%, um crescimento de 5,6% em relação a 2009. Na China, foram adicionados 29 gigawatts de renováveis no sistema elétrico, de um total de 263 gigawatts (11%), o que representou crescimento de 12% sobre 2009. A energia renovável representou aproximadamente 26% do total da capacidade elétrica instalada na China, 18% da geração e mais de 10% do consumo total, em 2010. Na Alemanha, 11% do consumo final de energia foram supridos por fontes renováveis, que representaram 16,8% do consumo de eletricidade, 9,8% da geração de calor, principalmente de biomassa, e 5,8% do consumo de combustíveis para transportes.
A eletricidade eólica respondeu por quase 36% da geração por renováveis, seguida pela biomassa, hidrelétrica e solar fotovoltaica. Em 2010, supriu 22% da demanda por eletricidade na Dinamarca, 21% em Portugal, 15,4% na Espanha e 10,1% na Irlanda. Pelo menos 83 países têm hoje alguma capacidade de geração de eletricidade eólica instalada. Capacidade solar fotovoltaica foi instalada em mais de cem países no ano de 2010.
Há pelo menos 20 países no Oriente Médio, no Norte da África e na África Subsaariana com mercados de energia renovável em crescimento. Em vários países pobres da África, parques eólicos desenhados para populações de baixa renda – em muitos casos miniestações domésticas – não apenas levaram eletricidade aos pobres, como permitiram que passassem a ter acesso a internet e possibilitaram a expansão da telefonia móvel. Essa combinação da eletrificação com a comunicação (internet e telefonia móvel) está revolucionando a vida dessas pessoas, abrindo-lhes novos horizontes de avanço pessoal pela educação, e progresso material.
Está ficando cada vez mais claro que a economia de baixo carbono, puxada pela energia renovável, principalmente eólica, solar e biomassa, é um caminho novo de desenvolvimento, que permite alcançar simultaneamente a sustentabilidade e a melhoria do bem-estar.
Outro aspecto importante desse avanço das renováveis é o deslocamento da produção da Europa e dos Estados Unidos para a Ásia, com o aumento dos parques industriais para esses setores na China, Índia e Coreia do Sul. Mas é preciso notar que está ocorrendo, também, neste processo, um descolamento entre inovação e produção. Os principais centros de pesquisa e inovação continuam localizados nos Estados Unidos e na União Europeia.
De qualquer forma, a diversificação geográfica dos mercados e da indústria de equipamentos para energia renovável tem aumentado a confiança nessas fontes, que se tornam menos vulneráveis às oscilações de políticas ou aos ciclos de mercado em qualquer região em particular.
O Brasil é a que está mais atrasada entre as potências emergentes nesse esforço pela conquista da economia da energia renovável. Só agora começou a investir em eólica, mas nosso parque ainda é muito pequeno, principalmente em confronto com nossa capacidade e com a eficiência que os parques eólicos conseguem nas melhores áreas do país. Não investe nada em solar fotovoltaica, onde tem também enormes vantagens competitivas. Dessa forma, desperdiça a oportunidade de liderar na implantação de usinas híbridas, eólico-fotovoltaicas, dobrando a eficiência do uso da terra e aproveitando a grande complementaridade entre essas duas fontes, abundantes e de boa qualidade em praticamente todo o território nacional.
Tampouco incentiva o desenvolvimento da indústria de equipamentos e filmes para fotovoltaica, preferindo incentivar setores tradicionais de alto carbono. O que dizer do investimento em inovação. Nem mesmo na pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração tem investido o necessário para manter a liderança que conquistou no mercado de biocombustíveis de primeira geração, com o etanol de cana.
A REN21 é uma rede que objetiva promover a energia renovável globalmente: Rede Global de Políticas para Energia Renovável no Século 21. É responsável pela série de levantamentos sobre a evolução das energias renováveis no mundo, dos quais o Renewables 2011: Global Status Report é o mais recente.
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** Publicado originalmente no site Ecopolítica.