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Mais vale prevenir do que lamentar

Changwon, Coreia do Sul, 18/10/2011 – “Os seres humanos são a única espécie criadora de desertos. Degradamos 1% das terras cultiváveis ao ano”, disse Luc Gnacadja, secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas de Luta Contra a Desertificação (Cnuld). “Pelo nosso bem, devemos construir um tipo de vida que não favoreça a degradação”, insistiu Gnacadja em uma entrevista coletiva realizada nesta cidade sul-coreana, onde estão reunidos representantes dos 194 países signatários da Convenção, no contexto da 10ª Conferência das Partes, de duas semanas.

Gnacadja não vacilou em afirmar que a crise de desertificação, degradação da terra e seca afeta mais de dois bilhões de pessoas e exige medidas urgentes de prevenção. “A degradação é o elo que faltava no desenvolvimento sustentável e seu custo chega a 11% do produto interno bruto atual global. Se o mundo reconhece a importância de não emitir dióxido de carbono, tem sentido não lutar contra a degradação?”, afirmou.

A urgência expressa por Gnacadja tem base em dados que a Cnuld maneja, pelos quais cairão em 12% a produção de alimentos nos próximos 25 anos e o preço para o consumidor aumentará 30%. Além disso, 80% dos pequenos agricultores estarão entre os mais prejudicados e 925 milhões de pessoas sofrerão fome.

O sustento de 2,6 bilhões de pessoas depende diretamente da agricultura e estas sofrerão o impacto dos diferentes graus de degradação de 52% das terras cultiváveis do mundo. Desaparecem 24 bilhões de toneladas de solos férteis por ano devido à erosão e a outros fatores. Também desaparecem 12 milhões de hectares pela desertificação e a seca, nas quais seria possível produzir 20 milhões de toneladas de grãos.

“Cerca de 42% dos pobres do mundo dependem de terras degradadas para alimentar-se e ganhar a vida”, disse Ephraim Nkonya, do Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar. “Com essa proporção e a quantidade de pessoas afetadas, o custo da degradação dos ecossistemas pode chegar a US$ 66 bilhões ao ano”, acrescentou. A Cnuld e a Coreia do Sul esperam propor a iniciativa de Changwon e que inclua partes de ação para priorizar o reflorestamento de terras secas, importante na Ásia, onde as pessoas são mais prejudicadas pela degradação.

Na Ásia meridional, a maioria das populações depende da agricultura e da pecuária. A terra e a água já estão sob enorme pressão na região e as práticas de cultivo continuam inadequadas, o que dificulta o trabalho de combater a degradação. “A Índia, que já tem uma crescente população dependente da terra, 32% da qual já degradada e 24% – 82 milhões de hectares – em processo de seguir o mesmo caminho, dá prioridade à gestão sustentável dos ecossistemas”, destacou Brij Mohan Singh Rathore, secretário-conjunto do Ministério de Meio Ambiente e Florestas.

O 12º Plano Quinquenal (2012-2017) indica que as terras secas, um ecossistema frágil que frequentemente não pode suportar nem uma crise climática, representam 69% do total disponível e abrigam as mais pobres das 25% de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. Os programas governamentais centrados na comunidade, como o de garantia de emprego rural e o de gestão integrada da bacia, são algumas das medidas para combater a desertificação, disse Vivek Saxena, correspondente de ciência e tecnologia na Cnuld.

“A desertificação é resultado de vários fatores complexos. Para enfrentá-la devemos assegurar uma convergência eficiente em vários níveis, político, institucional e geográfico. Na Índia, onde as variações geográficas e sociais são amplas, é fundamental garantir a descentralização, permitir que as comunidades tomem decisões sobre o que mais se ajusta às suas necessidades”, afirmou Rathore.

O tailandês Warapong Waramit disse que seu governo reconhece a importância do uso sustentável da terra há 50 anos, quando criou um departamento que supervisiona a fertilidade do solo e o planejamento do trabalho. “A Tailândia destina US$ 100 milhões ao ano para medidas de prevenção a fim de evitar queda na produtividade agrícola. A salinidade do solo e as secas são desafios que ainda sofremos, mas conseguimos alguns êxitos”, disse Waramit à IPS. “A indiscutível falta de conhecimento com relação à mudança climática, como se será temporária ou se manterá, dificulta a formulação de políticas e complica a atenção à degradação e desertificação da terra”, acrescentou.

Representantes de organizações da sociedade civil destacaram a importância de compartilhar conhecimento para combater a desertificação e pedem maior participação. “Deve haver melhor interação entre a sociedade civil e os governos. As organizações estão mais próximas dos problemas das pessoas e conhecem os motivos de suas preocupações”, afirmou uma delegada da Argentina na mesa de diálogo “Inclusão de atividades de organizações dentro do programa oficial de trabalho da COP”.

Numerosos delegados esperam que a Conferência termine com um consenso sobre como definir cientificamente a dimensão e o custo da degradação de terras que as partes devem adotar, mas Gnacadja disse desde o começo que a questão fundamental da reunião é discutir sobre uma metodologia para controlar o fenômeno. Os esforços para combater o problema tropeçaram nas dificuldades para criar padrões que permitam medir a perda de nutrientes do solo porque os investidores e doadores não podem supervisionar o impacto dos fundos que outorgam.

“É um problema falar de degradação da terra porque os cientistas a questionam”, disse Gnacadja. A Cnuld, criada em 1997 para combater a desertificação, é a única Convenção legalmente vinculante do mundo. Envolverde/IPS