Washington, Estados Unidos, 19/10/2011 – Os territórios palestinos ocupados de Gaza e Cisjordânia dependem drasticamente da ajuda dos doadores, diz um estudo do Banco Mundial que chama a atenção para os estragos causados por um dos conflitos contemporâneos mais prolongados. Os territórios palestinos vivem sob uma quase total ocupação militar israelense desde 1967, dependem da ajuda econômica e são muito vulneráveis às crises, diz o documento “Coping whith Conflitct: Poverty and Inclusion in the West Bank and Gaze” (Lidando com o Conflito: Pobreza e Inclusão em Gaza e Cisjordânia), que trata do impacto desses problemas na região desde 2001.
Os pesquisadores concluíram que Gaza é um lugar particularmente precário, em que os crescentes desemprego e pobreza convergem nas ruas cheias de escombros deixados pelas incursões militares de Israel, que não compartilha das ações do governo do Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que controla o território desde 2007. A ajuda internacional duplicou em 2009. Cerca de 71% dos palestinos da Faixa de Gaza eram beneficiados “por, pelo menos, uma forma de assistência social”, disse Tara Vishwanath, que dirigiu o estudo divulgado no dia 17.
O desenvolvimento desigual da região é muito instável para permitir qualquer tipo de crescimento sustentável de longo prazo, afirma o Banco Mundial. Por exemplo, se a renda de uma família em Gaza cai 20%, como ocorreu em 2007, as pessoas em extrema pobreza aumentam de 33% para 49%.
O desemprego nos territórios palestinos ocupados por Israel é assombroso, e atingiu em 2008 um máximo de 41% da população economicamente ativa, muito mais do que na Alemanha de Weimar, no começo do Século 20, ou nos Estados Unidos após a crise de 1929. Mais de 35% dos habitantes de Gaza em idade de trabalhar continuavam sem emprego em 2009, um problema que afetou de forma desproporcional os jovens e setores com menos capacitação.
“Os jovens estão por explodir. Vão à universidade, se formam e não têm possibilidades de conseguir trabalho”, afirmou o professor de ciências políticas Mukhaimer Abu Sada, da Universidade de Al-Azhar, de Gaza. No entanto, mesmos os que têm emprego sofrem a diminuição de sua renda e a queda do salário real. A situação em Gaza é significativamente pior do que a da Cisjordânia. “O primeiro obstáculo do crescimento, especialmente do setor privado, do desemprego e do resultado da ajuda, é o regime de barreiras impostas à mobilidade de bens e pessoas para e de Gaza”, destacou Vishwanath à IPS.
“Eliminar as restrições externas ao movimento de pessoas é de primordial importância”, ressaltou o responsável pelo estudo. “Áreas caracterizadas por altos índices de pobreza costumam ter restrições de movimento, falta de acesso aos mercados, grande proporção de desempregados, predomínio de setores com baixos salários e dependência nas cada vez mais escassas oportunidades de trabalho em Israel”, diz o informe.
A pesca e a agricultura, fortes pilares da economia de Gaza, foram dizimadas pela ocupação. Cerca de 46% das terras cultiváveis da Faixa de Gaza ficaram inacessíveis depois da operação israelense Chumbo Derretido, do final de dezembro de 2008 a janeiro de 2009, segundo informe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) de 2010, ano em que a proporção de pessoas dedicadas à agricultura caiu de 12,7% para 7,4%.
O informe da FAO “Cultivar sem Terra, Pescar sem Água” também indica uma redução na quantidade de pescadores, de dez mil, em 2000, para os 3,5 mil atuais, devido à proibição de pescar além de três milhas náuticas da costa imposta por Israel, o que impede de trabalhar quem se dedica à captura em águas profundas. “É totalmente anômalo que, nesta época histórica, duas economias, com as de Gaza e Cisjordânia, sejam reféns de uma potência ocupante durante 44 anos”, disse Helena Cobban, especialista em questões palestinas e dona da Just World Books, editora de autores que não são escritores de massa.
“A ocupação militar supõe-se que seja uma etapa de transição. Nem mesmo a ocupação dos Estados Unidos na Alemanha, Japão ou Iraque durou mais de sete ou oito anos. O que os habitantes de Gaza necessitam é contato, vínculos e comunicação direta com o resto do mundo”, afirmou Cobban. “Gaza tem um porto, uma comunicação terrestre com o Egito e um pequeno aeroporto, poderia ligar-se ao mundo muito rapidamente, mas os israelenses insistem em manter a população palestina como mendigos, totalmente dependentes da ajuda estrangeira ou das exportações para, e por meio de, Israel”, acrescentou.
“Do ponto de vista humano, a ocupação é uma atrocidade, todas as famílias de Gaza estão separadas, metade dos membros precisou abandonar o território devido à insegurança econômica, social e militar, não se pode permitir que continue assim”, alertou a editora. “É fundamental permitir o crescimento do setor privado em Gaza”, defendeu Vishwanath à IPS. “A população dos dois territórios tem uma formação extraordinária, poderiam gerenciar empresas de todo tipo, mas é impossível pela ocupação”, destacou Cobban, que ressaltou a criatividade do Hamas para reconstruir a economia após o ataque de Israel, o que constatou durante sua viagem pelo território em junho deste ano.
“Utilizaram formas criativas para reciclar e reutilizar os escombros transportando-os com muito esforço em carretas até onde há máquinas que os convertem em cimento, usado na reconstrução da infraestrutura afetada”, contou Cobban. Gaza, antes conhecida como “terra de hortas”, foi transformada por Israel em território destinado à exportação de morangos ou flores para a Europa, enquanto embolsa uma importante parte dos impostos, acrescentou. Contudo, mesmo o setor da Faixa de Gaza, capaz de exportar 2.300 toneladas de morango e 55 milhões de cravos, reduziu quase a zero a exportação desde 2005 por causa do bloqueio, afirma a FAO.
Nos últimos dois anos, o Hamas incentiva a autossuficiência, destinando grandes somas de dinheiro ao cultivo de produtos para o consumo interno, em função das necessidades nutricionais da população, disse Cobban. “Desde que Israel destruiu uma grande porção de laranjais em sua chamada campanha contrainsurgente, que na realidade objetivava controlar a população, o Hamas se esforça para reduzir a dependência de Gaza do mercado israelense”, acrescentou. Envolverde/IPS